segunda-feira, 23 de dezembro de 2013


O lobo e as ovelhas

Eduardo Mattos Cardoso

Professor Mestre em História - eduardomattoscardoso@gmail.com


Era uma vez um pastor de ovelhas. Todos os dias ele levava seu rebanho para o campo. Enquanto as ovelhas pastavam tranquilas, o pastor costumava recostar-se a uma árvore e cochilar.

Acontece que, por aquela região, apareceu um lobo faminto. Toda vez que o lobo aparecia as ovelhas corriam para perto do pastor.

Certo dia, o lobo teve uma ideia: resolveu se disfarçar de pastor, para enganar as ovelhas:

- Duvido que elas sejam espertas o suficiente para me reconhecer, pensou.

- Vou trazê-las para perto da minha toca e esta noite jantarei como nunca!

Aproveitando que o verdadeiro pastor estava cochilando à sombra da árvore, o lobo aproximou-se das ovelhas e, agindo como se fosse o verdadeiro pastor, agitou seu bastão e as ovelhas ficaram em dúvida.

Lembrou-se então de que o pastor costumava dar ordens em voz alta, e assim o fez:

- Vamos, ovelhinhas, mexam-se.

Mas o lobo esqueceu de disfarçar a voz. As ovelhas perceberam a armadilha e começaram a balir, assustadas. O pastor veio correndo acudir seu rebanho. Ao lobo não restou alternativa senão tentar uma fuga.

Moral da história: devemos sempre agir com cautela e ponderação, pois a mentira tem pernas curtas e cedo ou tarde a verdade aparece.

Lembrei-me desta fábula na última segunda-feira quando assistia à derradeira sessão do ano na Câmara de Vereadores.

Baixaria incitada pelo presidente da casa que não é humilde e mostrou mais uma vez despreparo ao exercer sua função.

Junto com os vereadores de situação protagonizaram o que restou na política situacionista local: desrespeito total com os cidadãos.

A esses políticos (principalmente os que se dizem progressistas e seus apoiadores) devemos a política rasteira e inútil. Graças aos senhores e as senhoras foi instalado o rancor, a discórdia e a desconfiança. São políticos desleais e rasteiros que tentam se disfarçar de cordeiro ou de pastor para enganar as pessoas.

A política é necessária, mas políticos(as) como estes(as) são desprezíveis. A sua paixão pelo poder e mando se sobrepõe ao equilíbrio. Exalam um cheiro de falsidade tão grande que em seus ambientes de trabalho públicos a maioria das pessoas corta caminho. Não aguentam mais tanto cinismo.

E os puxa-sacos e fanáticos de plantão acham isso legal. Parabéns.

O ano de 2013 foi perdido por causa da maldade e incompetência de vocês.

Que pena Três Cachoeiras.

Os(as) lobinhos(as) estão soltos(as).


Artigo publicado no jornal Fato em Foco no dia 20 de dezembro de 2013.

sábado, 21 de dezembro de 2013


Os aviões não pilotados: a violação mais covarde dos direitos humanos (por Leonardo Boff)


Vivemos num mundo no qual os direitos humanos são violados, praticamente em todos os níveis, familiar, local, nacional e planetário.



O Relatório Anual da Anistia Internacional de 2013 com referência a 2012 cobrindo 159 países faz exatamente esta dolorosa constatação. Ao invés de avançarmos no respeito à dignidade humana e aos direitos das pessoas, dos povos e dos ecossistemas estamos regredindo a níveis de barbárie. As violações não conhecem fronteiras e as formas desta agressão se sofisticam cada vez mais.

A forma mais covarde é a ação dos “drones”, aviões não pilotados que a partir de alguma base do Texas, dirigidos por um jovem militar diante de uma telinha de televisão, como se estivesse jogando, consegue identificar um grupo de afegãos celebrando um casamento e dentro do qual, presumivelmente deverá haver algum guerrilheiro da Al Qaeda. Basta esta suposição para com um pequeno clique lançar uma bomba que aniquila todo o grupo, com muitas mães e crianças inocentes.

É a forma perversa da guerra preventiva, inaugurada por Bush e criminosamente levada avante pelo Presidente Obama que não cumpriu as promessas de campanha com referência aos direitos humanos, seja ao fechamento de Guantánamo, seja à supressão do “Ato Patriótico”(antipatriótico) pelo qual qualquer pessoa dentro dos USA pode ser detida por suspeita de terrorismo, sem necessidade de avisar a família. Isso significa sequestro ilegal que nós na América Latina conhecemos de sobejo. Verifica-se em termos econômicos e também de direitos humanos uma verdadeira latino-americanização dos USA no estilo dos nossos piores momentos da época de chumbo das ditaduras militares. Hoje, consoante o Relatório da Anistia Internacional, o país que mais viola direitos de pessoas e de povos são os Estados Unidos.

Com a maior indiferença, qual imperador romano absoluto, Obama nega-se a dar qualquer justificativa suficiente sobre a espionagem mundial que seu Governo faz a pretexto da segurança nacional, cobrindo áreas que vão de trocas de e-mails amorosos entre dois apaixonados até dos negócios sigilosos e bilionários da Petrobrás, violando o direito à privacidade das pessoas e à soberania de todo um país. A segurança anula a validade dos direitos irrenunciáveis.

O Continente que mais violações sofre é a África. É o Continente esquecido e vandalizado. Terras são compradas (land grabbing) por grandes corporações e pela China para nelas produzirem alimentos para suas populações. É uma neocolonização mais perversa que a anterior.

Os milhares e milhares de refugiados e imigrantes por razões de fome e de erosão de suas terras são os mais vulneráveis. Constituem uma subclasse de pessoas, rejeitadas por quase todos os países, “numa globalização da insensibilidade”, como a chamou o Papa Francisco. Dramática, diz o Relatório da Anistia Internacional, é a situação das mulheres. Constituem mais da metade da humanidade, muitíssimas delas sujeitas a violências de todo tipo e em várias partes da África e da Ásia ainda obrigadas à mutilação genital.

A situação de nosso país é preocupante dado o nível de violência que campeia em todas as partes. Diria, não há violência: estamos montados sobre estruturas de violência sistêmica que pesa sobre mais da metade da população afrodescendente, sobre os indígenas que lutam por preservar suas terras contra a voracidade impune do agronegócio, sobre os pobres em geral e sobre os LGBT, discriminados e até mortos. Porque nunca fizemos uma reforma agrária, nem política, nem tributária assistimos nossas cidades se cercarem de centenas e centenas de “comunidades pobres”(favelas) onde os direitos à saúde, educação, à infraestrutura e à segurança são deficitariamente garantidos. A desigualdade, outro nome para a injustiça social, provoca as principais violações.

O fundamento último do cultivo dos direitos humanos reside na dignidade de cada pessoa humana e no respeito que lhe é devido. Dignidade significa que ela é portadora de espírito e de liberdade que lhe permite moldar sua própria vida. O respeito é o reconhecimento de que cada ser humano possui um valor intrínseco, é um fim em si mesmo e jamais meio para qualquer outra coisa. Diante de cada ser humano, por anônimo que seja, todo poder encontra o seu limite, também o Estado.

O fato é que vivemos num tipo de sociedade mundial que colocou a economia como seu eixo estruturador. A razão é só utilitarista e tudo, até a pessoa humana, como o denuncia o Papa Francisco é feita “um bem de consumo que uma vez usado pode ser jogado fora”. Numa sociedade assim não há lugar para direitos, apenas para interesses. Até o direito sagrado à comida e à bebida só é garantido para quem puder pagar. Caso contrário, estará ao pé da mesa, junto aos cães esperando alguma migalha que caia da mesa farta dos ‘epulões’.

Neste sistema econômico, político e comercial se assentam as causas principais, não exclusivas, que levam permanentemente à violação da dignidade humana. O sistema vigente não ama as pessoas, apenas sua capacidade de produzir e de consumir. De resto, são apenas resto, óleo gasto na produção.

A tarefa além de humanitária e ética é principalmente política: como transformar este tipo de sociedade malvada numa sociedade onde os humanos possam se tratar humanamente e gozar de direitos básicos. Caso contrário a violência é a norma e a civilização se degrada em barbárie.

Leonardo Boff é um teólogo brasileiro, escritor e professor universitário, expoente da Teologia da Libertação no Brasil.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013


Sobre o tempo do casamento

Juremir Machado da Silva


Nem todo mundo entende o ofício do cronista. Os que menos entendem essa atividade singular são os pragmáticos, os utilitaristas e os moralistas. Esses só se interessam por buracos na rua, questões de segurança pública, diminuição da maioridade penal e outros assuntos de utilidade pública explícita ou até obscena. Um cronista, contudo, é um comentador da existência. Deve falar de si, sempre que considerar necessário, na tentativa de identificação com os outros. Fala de si naquilo que tem de comum com os demais: expectativas, sonhos, temores, cotidiano, percalços e ritmo da vida.

Por exemplo, o casamento. Cláudia e eu chegamos a 24 anos de casados. Como diz o filósofo de Palomas, é tempo. Está cada vez melhor. Tivemos, como todo casal, nossas crises. Hoje, vivemos um amor maduro e feliz. Sou um fã do casamento. Não saberia viver sozinho. Não saberia viver sem a Cláudia. O mais incrível do casamento é que, mesmo com o tempo passando, tudo pode se renovar. A família foi declarada falida ou até morta pelos rebeldes dos anos 1960. Está mais forte do que nunca. É verdade que se flexibilizou. Novas formas apareceram. O mundo está melhor. Daniela Mercury e sua esposa podem falar do casamento delas em praça pública. Só os preconceituosos ainda não perceberam o quanto é muito melhor este modo.

Viver e deixar viver é a grande lei moral. Viver e deixar viver tudo aquilo que não prejudica terceiros. Sou fã do presidente uruguaio Pepe Mujica. Colocou novamente o Uruguai na vanguarda da América Latina. Pode dar errado. Mas está buscando uma experiência arrojada para tentar resolver aquilo que se tornou um atoleiro. O que toda essa mistura tem a ver com casamento? O que tem a ver com o meu casamento de 24 anos com a Cláudia? Tem a ver com o ritmo da vida: o tempo passando, a gente se amando, o mundo mudando, ou tentando, e a vida fluindo.

A melhor maneira de testar um casamento é viver algum tempo no exterior num apartamento de 25 metros quadrados. Especialmente se ele for roxo do teto às paredes. Ainda mais com o ciclo da natureza europeia. Acompanhar pela janela a árvore do jardim perder as folhas, acabrunhar-se e atravessar o longo inverno retorcida e gélida sob o cinza do céu baixo. Até o renascer triunfante na gloriosa primavera ensolarada. Cláudia e fizemos isso durante quase seis anos. Quatro anos na primeira vez, nove meses somados em três vezes seguidas e um ano noutra passagem. São 24 horas por dia em contato direto. Até a aula íamos juntos. Fizemos isso em Berlim e em Paris. Só falta uma temporada em Palomas.

Ao longo do casamento a vida se reinventa. É importantíssimo ter gostos em comum. Cláudia e eu compartilhamos a paixão pelas viagens, pela arte, pelos museus, pelos shows, pelos filmes, pelos livros, pelos restaurantes, pela praias desertas e pelos amigos. Mas também é muito importante ter diferenças para compartilhar. Sou colorado. Cláudia, gremista. Recomendo. Todo colorado deveria casar-se com uma gremista e vice-versa. Como diz o filósofo, parece que foi ontem. Não temos fotos do casamento. A Dulce Helfer não apareceu.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013


Ano perdido

Eduardo Mattos Cardoso

Professor Mestre em História - eduardomattoscardoso@gmail.com


Do ponto de vista da administração pública municipal, 2013 foi um ano perdido para Três Cachoeiras.

Um interlocutor da direita local (um daqueles que acham que está tudo uma maravilha) referiu que o prefeito municipal é “algo assim tipo” uma árvore de natal: simples decoração.

Discordei veementemente porque se nosso “reizinho” fosse apenas uma figura decorativa tudo bem, afinal está cheio por aí. O problema é que se ele ficasse apenas sentado em sua cadeira estofada, nossa cidade perderia menos.

Por que foi um ano perdido, o caro leitor pode se perguntar.

Porque opção política, ideologia e competência faz toda diferença quando se administra qualquer coisa, ainda mais em se tratando de administração pública. Nesse sentido, um pouco mais da metade dos eleitores de Três Cachoeiras estão sendo enganados. Foram iludidos e mesmo assim alguns esbravejam diante da realidade.

Mas o engodo e a estampa de incompetência eram e são evidentes. O que explica então a opção da maioria pelo atraso? Resposta fácil: puxa-saquismo, fanatismo, inocência ou pura ignorância.

Essa turma da “phodrydorus pholytykays” que está hoje na prefeitura, anda na contramão da História.

Conseguiram passar um ano inteiro retrocedendo, ou apenas com o trivial. Opa! Desculpem, esqueci que realizaram a rançosa e inútil (do jeito que é concebida) festa do caminhoneiro que tinha donos e vai continuar tendo. Fora isso, nem dar continuidade ao que estava sendo feito conseguem. Pelo contrário, obras paradas (espalhadas pelo município) e algumas correndo o risco de não serem realizadas. Ranço ou malandragem? Veremos.

Isso tudo apoiado por legisladores situacionistas de atuação vergonhosa.

A última seção do dia nove de dezembro foi uma delas. O Mampituba não passou. De propósito ou por acaso? Por esse motivo, o presidente do legislativo que enrolou a população o ano inteiro deu mais uma cartada das suas: engavetou nesse dia a votação do projeto de lei que AUMENTA o valor da hora máquina para agricultores.

É, debate e clareza não inspiram nosso “falastrão” legislador.

Mas dizem por aí que ainda poderemos ter surpresas nos próximos dias.

Uma delas é a possível aparição do prefeito Nestor disfarçado de Papai Noel na “Cantata de Natal”. E que de dentro do seu tradicional saco distribuirá presentes para os expectadores (que só assistem mesmo): os novos carnês de IPTU e Taxa de Lixo atualizados.


Artigo publicado no jornal Fato em Foco no dia 13 de novembro de 2013

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013


Amigos

Eduardo Mattos Cardoso

Professor Mestre em História - eduardomattoscardoso@gmail.com


Coisa boa é ter amigo. Mas amigo de verdade. Amigo virtual de faz de conta não vale. O mais importante é qualidade. Não quantidade. Com amigo de verdade não tem “frescura”.

Por isso prezo a amizade e os momentos agradáveis que desfruto com meus amigos. E quando esses momentos são regados a um bom vinho então, nem se fala.

As mudanças da vida sempre nos apresentam surpresas. Depois de viver uma década e meia longe da Lagoa Itapeva retornei à querência.

Mas passado esse tempo, as coisas não eram mais como antes. A vida segue, as pessoas mudam ou só envelheceram?

Digo isso porque algumas se tornaram irreconhecíveis, não do ponto de vista físico. Já outras parecem que foram lapidadas, “melhoradas”. São alegres e interessantes encontros e reencontros.

Uma pessoa que chega de “fora” é encarada como forasteiro. Numa cidade pequena como a nossa, o forasteiro vai ser avaliado pelos “estabelecidos”. Isso parece acontecer porque os moradores “tradicionais” têm o sentimento de que a cidade é sua, de seu controle. Assim, um “outsider” (de fora) pode ser visto como um intruso que deve voltar ao seu lugar de origem se não adequar-se às regras locais. Mas poderá ser aceito socialmente se enquadrar-se ao modo de vida predominante.

Esses conceitos foram usados por Norbert Elias e John. L. Scotson em “Os estabelecidos e os outsiders: sociologia das relações de poder a partir de uma comunidade”.

Segundo os autores, a observação e análise social proporcionam compreender os laços de interdependência que unem, separam e classificam segundo a sua importância, os indivíduos e grupos sociais, em relação de poder constante.

Pelo estudo de caso, Elias e Scotson apontam que as categorias, “estabelecidos” e “outsiders”, se definem na relação que as nega e que as constitui como identidades sociais. Os indivíduos que fazem parte dessas comunidades estão ao mesmo tempo unidos, mas também separados por uma relação de interdependência grupal.

Penso nesse assunto desde que voltei à terra natal. E eis aí a diferença. Eu já era daqui. Nasci aqui e me criei até os dezoito. Fiquei quinze anos fora e retornei.

Será que mesmo assim sou um “outsider”?

Ou um novo tipo de forasteiro?

Fico a me perguntar.

Mas tenho certeza que em matéria de amizade não me enquadro no modelo proposto por Elias e Scotson. Sinceridade, autenticidade e simplicidade me deram novos e velhos amigos.

Não importa o tempo.


Artigo publicado no jornal Fato em Foco no dia 7 de dezembro de 2013.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013



Mostras e presentes de fim de ano

Eduardo Mattos Cardoso

Professor Mestre em História - eduardomattoscardoso@gmail.com


A “cidade que pode mais” não poderia ficar de fora da farra de fim de ano. Algumas coisas positivas, outras nem tanto. Mas vamos lá.

Como já disse, em fim de ano “quase tudo” acontece. Vem aí um presente natalino especial para nós, trescachoeirenses: atualização tributária. Nome bonito. Mas como prevê aumento de arrecadação então é AUMENTO DE IMPOSTOS. Simples assim. Não tem nada de justiça tributária. E na “calada da noite”. 

Prepare o bolso ano que vem. E tome cuidado com a caça às bruxas.

Quando falta competência para gerir o dinheiro público, sobra incompetência para aumentar impostos.

O caso do automóvel Santana é estarrecedor.

Essa tal “atualização tributária” vai pegar a especulação imobiliária também, ou vai continuar com o faz de conta do ITBI? Como não se quer debate e alguns vereadores semianalfabetos e vendidos votam, é jogo jogado.

Resta saber se o AUMENTO DE IMPOSTOS vai resultar imediatamente em melhorias para o munícipio. A esperança é a última que morre.

E como não poderia ser diferente, mais uma mostra de “malandragem política” por parte de nossos gestores atuais.

A semana que passou teve inauguração de posto de saúde ESF no Bairro Santa Rita. Por que nossos atuais administradores tem tanto medo do passado recente, de reconhecer fatos, atitudes e realizações estruturais em nosso munícipio? Mais uma tentativa de apagar uma parte do passado. Só uma parte.

Os donos do poder acham que conseguem. Claro, contam com a ajuda de lunáticos, fanáticos, fofoqueiros, maldosos e chatos de plantão. E os discursos da inauguração! Não vale a pena comentar. É mais uma mostra do nível rasteiro dos que se dão o título de “donos da prefeitura”. Lastimável.

Mas nem toda mostra foi ruim. Ufa! Ainda bem.

Tivemos a “II Mostra de trabalhos. Diversidade: construindo e integrando saberes”, dias 21 e 22 de novembro, no Instituto Estadual de Educação Maria Angelina Maggi.

Estava lindo de ver.

Nesse caso, os discursos valeram apena. É a mostra que a educação pode ser diferente. Que nossos alunos têm muito mais capacidade do que imaginamos.

A educação, e por consequência a escola, tem que mudar. É difícil romper com o tradicional. Falta mudança de mentalidade, mas estamos no caminho.

Todo processo tem seus autos e baixos. Às vezes é preciso retroceder um passo para avançar dois.


Artigo publicado no jornal Fato em Foco no dia 29 de novembro de 2013.

O poder e o caráter — Fenomenologia de um burocrata (por Emir Sader)


Lenin gostava de repetir que o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente. Corrompe material e espiritualmente.

A afirmação: “Quer conhecer uma pessoa? Dá-lhe poder, para ver a força do seu caráter” vale para entender comportamentos na esfera da política nacional, mas também em outros marcos institucionais.

Gente que pregou sempre a socialização do poder, as direções coletivas, a construção de consensos mediante a discussão democrática e a persuasão, criticou sempre a violência verbal, a ofensa, o maltrato às pessoas – de repente vê um cargo de poder cair no seu colo, revela falta de caráter, renega tudo o que aparentemente defendia, se encanta pelo poder e se torna um déspota.

O poder lhes sobe à cabeça e lhes invade a alma. Todas as frustrações e os complexos de inferioridade acumulados por não ter méritos para um protagonismo de primeiro plano, de repente irrompem sob a forma da prepotência, da arbitrariedade, da concentração brutal do poder, de mal trato das pessoas, do uso do poder das formas mais arbitrarias possíveis.

Tem gente que se humaniza ainda mais quando assume funções públicas, aumenta sua modéstia, suas formas humanas de relação com as pessoas. Tem outras em quem o poder bota pra fora o que de pior estavam acumulando. Se transtornam, tornam-se monstros, que acreditam que o poder é um porrete, de que fazem uso a torto e a direito, contra todos.

Não conseguem conviver com pessoas que acreditam que lhes fazem sombra. Tem complexo de inferioridade, então acreditam que os outros o desprezam, não o levam a sério, não lhe reconhecem os méritos que acreditam ter.

Tem uma visão instrumental do poder, tanto assim que se desesperam quando se defrontam com pessoas que tem seu poder na moral, na legitimidade política, na capacidade intelectual – de que eles não dispõem – que não se vergam diante de ameaças, diante do poder do decreto, da arbitrariedade. Diante dessas pessoas, perdem o equilíbrio, se sentem pequenos, impotentes, desprezados.

Não conseguem conviver com a diferença. Diante de divergências, buscam fazer com que desemboquem na ruptura, valendo-se do poder formal dos decretos, das punições, da exigência de retratações formais. Não tem estrutura psicológica para conviver com as diferenças, para buscar coesão entre diferentes. Logo descambam para a violência, verbal e dos decretos.

Usam os espaços institucionais que detêm como se fossem propriedade sua, dispõem das pessoas, das coisas, dos recursos, como se fossem patrimônio pessoal. Fazem do cargo que tem, uma propriedade pessoal, desqualificando completamente o caráter publico que a instituição deveria ter.

Como sabem que tem um poder ocasional, pequeno, vivem depressivos, buscam esconder-se através de falsas euforias, mas que lhes tiram o sono, a calma.
Tratam mal a todos a seu redor, fazem deles submissos, em lugar de ajudá-los a desabrochar, como outros lhe permitiram sair do anonimato e galgar posições.
Vivem cercados de subalternos, cinzentos, temerosos. Todos acumulando rancor e ódio contra ele, sonhando todo dia com a sua morte, a sua desaparição mágica e súbita. Sonham que ele desapareça, tanto o rancor e a humilhação que acumulam e sofrem. Ninguém gosta desse tipo de gente, o temem, o odeiam, o desprezam caladamente.

É uma gente medíocre, mas que tem uma ânsia profunda do poder. Como é profundamente inseguro, precisa da adulação, por isso vive e nomeia incondicionais para cercá-lo. De quem cobra palavras de adulação a cada tanto.
Como compensação do complexo de inferioridade que tem.

Alimentam o acesso ao poder durante 10, 20 anos. Quando chegam, se afogam com o poder, o transformam em poder absoluto. Quando deviam se realizar, se frustram, ficam menores, deprimidos, precocemente decadentes. O que deveria ser o ápice, é o fim.

Fazem o teatro de um suposto desapego ao poder, de dedicação não sei quantas horas ao dia às tarefas mais duras – e cinzentas -, mas se apegam ao poder como sua alma. Já não podem viver sem ele e suas prebendas.

Quando vai terminando o tempo desse poder, ficam desesperados, porque não conseguem mais viver sem esse poder, sem se dar conta que esse poderzinho é uma porcaria, um nada. E porque todos fora dali, que não dependem dele, lhe tem um imensa e generalizada rejeição, que é o que o espera quando não possa mais se proteger com as prebendas do poderzinho que tem hoje. Vão ser reduzidos às suas devidas proporções, de mediocridade e anonimato.

Porque o poder forte é o poder legítimo, fundado no convencimento, na ética, no reconhecimento livre dos outros, que ele não conhece. Porque esse tipo de burocrata tem uma visão pré-gramsciana, acha que o poder é a violência, a força, a prepotência. Que pode levá-lo pra casa no bolso ou debaixo do braço.

Pobres diabos, devorados irreversivelmente pela mediocridade, pelas mentiras com que tentam sobreviver – mentem, mentem, mentem, desesperadamente -, em guerra contra os outros e em guerra consigo mesmos.

Lenin gostava de repetir que “O poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente”. Corrompe material e espiritualmente.

Esses burocratas, corrompidos pelo poder, são discricionários, prepotentes, cobram dos outros, mas não permitem que cobrem dele. Cobram economia alheia, contanto que ninguém cobre seus desperdícios. Não agem com transparência, escondem seus passos e suas intenções.

Não amam, não sabem amar, nunca amaram. Gostam de si, tentam sobreviver, mal e mal, sem amor.

Reduzem tudo ao administrativo, porque não sabem pensar, tem terror a ter que se enfrentar a uma realidade que tivessem que decifrar, a argumentos que desnudassem sua falta de razões, suas arbitrariedades. Não sabem argumentar, não conseguem justificar as decisões absurdas que tomam, então vivem no isolamento, e no pequeno circulo cinzento dos que dependem dele. Fogem da discussão, da confrontação de argumentos, que é o que mais temem. Tentam reduzir tudo a prazos, normas, estatutos, punições, ameaças, promoções, expulsões. São burocratas perfeitos, idiotizados pela ativismo, que não podem parar, senão teriam que pensar e isso é fatal para eles.

Eles não entendem onde se meteram, deglutidos pela atividade meio – seu habitat, como burocratas que são, por natureza – não compreendem o que fazem, até mesmo porque é incompreensível, reduzidos às cascas formais de um conteúdo que lhes escapa, porque sua cabeça obtusa não lhes permite captar o que os rodeia, que eles pretendem aprisionar mediante decretos.

Se desumanizam totalmente pelo exercício frio da administração, que creem que é poder. São solitários, vivem fechados, os amigos se distanciam, perdem a confiança neles primeiro, o respeito depois.

Pensam que dominam tudo, com seus cronogramas e convênios, mas não controlam nada. Tudo acontece a seu redor, sem que eles saibam. Vivem num mundo vazio, que não podem parar, para não se dar conta que é vazio. Pulam no abismo para seu fim.

Não conseguem pensar-se a si mesmo sem esse poderzinho. Tentam perpetuar-se, pela inércia, porque fora desse lugar não são nada. Ali também não são nada, mas se enganam, se iludem, que são. Apodrecem no exercício das funções burocráticas e ai morrem.

São personagens que terminam como o canalha do Nelson Rodrigues: solitários, sem ninguém, agarrados ao único que lhe resta: a caneta e escrivaninha.

Os burocratas morrem em vida, afogados pela sua mediocridade. Passam pelo cargos sem pena, nem glória, esquecidos e desprezados por todos. Saem menores do que entraram. Se dão conta aí que já não serão nada na vida.

Essa a vida e a morte dos burocratas. A vida segue, feliz, sem eles.

Emir Sader é um sociólogo e cientista político.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013


Dias interessantes


Eduardo Mattos Cardoso

Professor Mestre em História - eduardomattoscardoso@gmail.com


Para a História, a Sociologia, a Política, enfim para a cidadania vivemos dias muito interessantes. Mas resta a dúvida: os acontecimentos recentes vão melhorar, manter ou piorar a nossa vida? Mais uma vez, só o tempo dirá. Refiro-me a exumação dos restos mortais do ex-presidente João Goulart - o Jango - para averiguar a verdadeira causa de sua morte e desdobramentos possíveis; e ainda, as prisões do maior julgamento midiático do Brasil: a ação penal 470, mais conhecida (e produzida pela mídia) como “mensalão”.

Em fim de ano quase tudo acontece. Infelizmente é muita coisa ao mesmo tempo. Quando se tenta interpretar ou debater sobre determinado assunto recente, logo vem outro para abafar. Isso geralmente acontece pela ordem do discurso, usando o conceito de Michel Foucault. Quando o poder dominante não quer que uma notícia/fato tome dimensão, esse rapidamente aciona seus mecanismos adestrados de poder para fazer o “jogo podre”. Sempre tem alguém para fazer o papel de “bobo da corte”. É assim na política, mídia, educação, religião, enfim em todas as formas de exercício de poder.

As dúvidas envoltas na morte do ex-presidente Jango podem ser esclarecidas. No entanto, o mais importante nesse acontecimento é seu caráter simbólico. Mexer nos restos mortais de Jango significa também remexer o passado recente da História brasileira, no que se refere ao período da Ditadura Militar de 1964/85. E isso não agrada muita gente. Só para lembrar, nos Colégios Militares mantidos pelo Exército Brasileiro e nas academias de formação de oficiais ainda se ensina nas aulas de História que em 1964 aconteceu uma “Revolução Democrática”. E o pior, muitos acreditam nisso.

Dia 13 de novembro de 2013 foi a exumação. Dois dias depois, e também simbolicamente, no dia 15 de novembro - dia de aniversário da Proclamação da República de 1889 - coincidentemente ou não, o ministro do supremo Joaquim Barbosa, em pleno feriado nacional, começa a mandar prender os “mensaleiros”. E em mais um golpe com a ajuda midiática, a “invenção do mensalão” foi empurrada para o colo do PT. Abrir os arquivos da ditatura, e outros escondidos, ajudaria o Brasil a descobrir que a prática do “mensalão” (propina, suborno, compra de votos,... com pagamento mensal) é anterior à redemocratização. E que a “justiça brasileira” está longe de ser justa. Poderia começar com a revisão da lei da anistia. Mas nossa “justiça” não tem coragem.


Artigo publicado no Jornal O Fato em Foco no dia 22 de novembro de 2013

segunda-feira, 18 de novembro de 2013


A perigosa história dos Porongos

por Juremir Machado da Silva


Na Semana da Consciência Negra é sempre importante lembrar o que os farrapos e os imperiais fizeram com os negros em Porongos.

O dia 14 de novembro marca, desde 1844, a maior infâmia já praticada no Rio Grande do Sul, a traição na sua forma mais abjeta e ardilosa.

Uma história para ser encoberta.

No meu livro, “História Regional da Infâmia: o destino dos negros farrapos e outras iniquidades brasileiras”, faço o inventário completo dessa chaga.

Muita gente que tentou falar dela ou que dela soube muito se deu mal.

Veja-se o que dizem os documentos em meu fragmento de HRI:

“Domingos José de Almeida, na minuta de uma carta a Manuel Antunes da Porciúncula, dava conta dos seus temores em escrever uma história da Revolução Farroupilha: ‘Eis meu amigo Antunes por que não querem que eu escreva essa História: e estarei livre de algum assassinato! O futuro o dirá’ (Coleção Varela 714). Essa correspondência falava de Porongos. Quase todos os farroupilhas que um dia criticaram os principais chefes farroupilhas acabaram assassinados: Paulino da Fontoura, Onofre Pires – este num duelo, sem testemunhas, com Bento Gonçalves – e até Antônio Vicente da Fontoura, apunhalado por um liberto chamado Manoel, em 1861, para a libertação do qual havia colaborado com dez onças de ouro. Santa infâmia! Isso tudo sem contar a morte em condições jamais bem esclarecidas de Joaquim Teixeira Nunes, o comandante dos lanceiros negros massacrados em Porongos. As razões oficiais para essas mortes jamais convenceram a todos. Domingos José de Almeida, em outra carta, endereçada a Bernardo Pires, ao abordar a tragédia de Porongos, destacara as enormes resistências ao seu insano projeto de contar tudo o que sabia: “Eis meu amigo por que do nosso lado e do lado dos nossos antagonistas há oposição para a transcrição da nossa História: oposição que talvez triunfe pelo meu estado de saúde, de finanças, de capacidade e de dificuldades que me criam e que renascem apenas destruídas as primeiras” (CV 711). Por quê?

O silêncio é de ouro. Não atrapalha os mitos.


do blog do Juremir


Palavras viram lixo

Eduardo Mattos Cardoso

Professor Mestre em História - eduardomattoscardoso@gmail.com



Um dia depois do outro. No ano passado, por essa época, se ouvia muitos discursos inflamados e raivosos: “essa cidade está um lixo”. Ou ainda: “onde está essa Prefeitura que não faz nada”. Mais: “a prefeitura está cortando tudo”. Isso tudo, é claro, ainda era influencia do período eleitoral. Consultado os gurus, a palavra de ordem era “avacalhar”, “esculhambar” e rebaixar ao “rés do chão”. Poderia ser legítimo se não fosse jogo maldoso.

A ideia era preparar o terreno do caos para a vinda do “messias”, do “salvador da pátria”. Mas o enviado era capenga. Virou, e ainda é, motivo de gozação constante. Como deve ser míope, sua falta de visão o faz mais prepotente a cada dia que passa. Coisas da democracia eleitoral que transforma possíveis cidadãos em simples eleitores alienados e cria “monstrinhos” tipo RBS para disfarçar a realidade.

Infelizmente chega-se a constatação de que além do lixo tradicional as palavras viram lixo também. Primeiro são amputadas, no sentido gramatical. Depois são descartáveis. Será que algum dia conseguiremos reciclar as palavras, já que o papel aceita tudo? Ou a covardia reinará insistentemente, reforçada por homens e mulheres sem palavra?

O “bicho-papão” esta solto. E parece que anda papando os recursos do município. Dinheiro tem mais esse ano do que no ano passado. Muito mais. Mas por que as coisas não acontecem, as obras não andam e a cidade está um lixo e as escuras. Será que vai pegar mal uma nova contratação emergencial - de uma empresa amiga - para limpeza com valor acima de R$ 100.000,00 em menos de um ano. Falta coragem, competência ou o quê?

Nesses belos fins de tarde de primavera, ótimos para uma caminhada, tome cuidado no seu trajeto para não cair num buraco de rua ou de calçada. Quando tem calçada, já que a fiscalização da prefeitura nesse setor é vergonhosa. Cuide também para não tropicar no lixo espalhado pelas ruas. E quando as obras particulares tomam conta da calçada e da rua, passar por aonde?

E as obras públicas inacabadas. Qual é a desculpa da semana. Pavimentações de ruas pela metade, já se esburacando ou interditadas com galhos, restos de obras e, como não podia faltar, lixo, muito lixo. Se a caminhada for noturna, não esqueça de levar uma lanterna. Melhor se prevenir.


Artigo publicado no Jornal O Fato em Foco no dia 15 de novembro de 2013.

domingo, 10 de novembro de 2013


Aos nossos malandros, com carinho

Eduardo Mattos Cardoso

Professor Mestre em História - eduardomattoscardoso@gmail.com


Temos uma moda que nunca foge da moda: ser malandro. Já dizia o cantor Bezerra da Silva: “malandro é malandro e mané é mané”... O bonito é ser malandro. Do contrário é “otário”, “trouxa” e outros adjetivos carinhosos. Cada vez mais o sentimento de malandragem vai se naturalizando. Questão de sobrevivência, dizem alguns. De certa forma têm razão. Nossa cultura é permeada diariamente pelo “jeitinho”. É mais fácil tentar dar um “jeitinho” do que assumir que erramos e pagar pelo erro. É mais fácil usar máscara.

Uma leitura que nos ajuda a entender um pouco melhor o “jeitinho brasileiro” é Carnavais, malandros e heróis, de Roberto DaMatta. Não é uma novidade, mas é atual. É uma “viagem sociológica” a um Brasil que mostra a sua cara. Uma das partes mais interessantes é onde trata do “sabe com quem está falando?” ao “medalhão”. E a mistura do público e do privado? E as amizades? Sempre é bom ser amigo de um “medalhão”, de um dono do poder. Nesse quesito, “aos inimigos a lei, aos amigos, tudo! Ou seja, para os adversários, basta o tratamento generalizante e impessoal da lei, a eles aplicada sem nenhuma distinção e consideração, isto é, sem atenuantes. Mas, para os amigos, tudo, inclusive a possibilidade de tornar a lei irracional por não se aplicar evidentemente a eles”. É a lógica de uma sociedade formada de “panelinhas”, “cabides” e de busca de projeção social.

Temos os nossos malandros também. Nossa cidade está cheia deles e delas. Sem distinção de gênero, embora seja comum ouvir expressões do tipo: “aquela é esposa do fulano”. O “sabe com quem está falando?” se destaca principalmente com a distinção de classe, pelo destaque econômico, político, profissional, entre outros. Além disso, tem os jogos de aparência, ou seja, “não basta ser, tem que parecer ser”. Algumas pessoas se dedicam muito para isso. Para tristeza de algumas, essa “busca pelo impossível” vira motivo de chacota.

Entretanto, o “sabe com quem está falando?” pode se esconder no anonimato. E por vezes pode desmascarar situações ou posições sociais. Assim, segundo DaMatta, “numa cidade pequena não se usa essa forma de fuga ao anonimato, simplesmente porque o anonimato não existe”. O que resta muitas vezes é montar uma “tropa de choque” de puxa sacos de plantão para fazer o serviço sujo, os “jeitinhos”. E os malandros (por aqui chamados de “ligeiros”) pousarem de “bons moços”.


Artigo publicado no jornal O Fato em Foco do dia 08 de novembro de 2013.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013


Um ano de invenções

Eduardo Mattos Cardoso

Professor Mestre em História - eduardomattoscardoso@gmail.com

Em outubro de 2012 comecei esta coluna. Não por acaso, escrevo semanalmente no jornal regional que mais circula em Três Cachoeiras, para desespero de alguns e privilégio dos trescachoeirenses mais informados. Na teoria e nas leituras era possível entender o que significava “mídia chapa branca”. Mas na prática, especialmente em nosso munícipio, a constatação é escancarada devido à falta de pudor com que algumas pessoas lidam com a coisa pública.

Mas fazer o que! As teses desenvolvimentistas nos indicam que estamos no caminho. Nesse percurso às vezes damos dois passos para frente e um para trás. Quando não o contrário. Será que isso é assim mesmo? Ouso discordar porque na maioria das vezes é possível ir à diante sem retroceder. Mas a diversidade de ideias e concepções de mundo que habitam as cabeças dos seres humanos muitas vezes teimam em apontar para o atraso.

Em nossa cidade não é diferente. E essas tensões são permanentes, muito embora carregadas de interesses espúrios e maldades. Nesse sentido, contribuo semanalmente com reflexões e provocações que tentam ir além da fofoca rasteira. Muitos não entendem e outros fazem de conta que não existo. Isso me inspira a ser mais autônomo e original. Prefiro o debate ao dinheiro. O debate é para os sábios, corajosos e educados. Quem foge dele ou opta pelo dinheiro para comprar tudo, prefere a ignorância. Questão de escolha.

Não preciso de máscara. Por isso detesto bajuladores de plantão. Provoco o debate: não são capazes. Escondem-se e desconversam. Adoro quando esbravejam, pois assim mostram suas caras. Mas não se olham no espelho. É duro enxergar a ignorância e a incapacidade diante dos próprios olhos. Melhor fazer de conta e envernizar um pouco.

Em um ano Três Cachoeiras inventou e reinventou. Reinventou a Radionovela, a mentira, a incompetência, a fofoca, a raiva e a enrolação, entre outras. No entanto, a invenção mais importante foi a do próprio munícipio que passou a “existir” a partir de 1º de janeiro de 2013. Junto com essa invenção geniosa veio a invenção do ano inútil. Se ficássemos só na inutilidade seria dos males o menor. Por isso é interessante acompanhar a vida política de nossa cidade mais de perto. E constatar que em um ano muita coisa pode mudar e que “não há nada tão ruim que não possa piorar”. Salve-se quem puder!


Artigo publicado no jornal O Fato em Foco no dia 1º de novembro de 2013.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013


Pessoas, partidos e ideias

Eduardo Mattos Cardoso

Professor Mestre em História



O Brasil vive de eleições. Segundo alguns políticos deveria ter eleição todos os anos. Para outros tinha que juntar tudo numa só de quatro em quatro anos. Os argumentos são variados. O Brasil, em relação a países um pouco mais sérios, é um dos únicos que têm “justiça eleitoral”. Como lei por aqui é para “inglês ver” temos que arcar com mais esse oneroso peso. É sempre assim: a maioria paga a conta pela desonestidade de uma minoria que tenta sempre generalizar.

Eleição movimenta uma grande indústria. Por isso nunca para. Ano passado tivemos eleições municipais. Ano que vem temos eleição para presidente, governadores, deputados federais, estaduais e senadores. Mais uma festa da democracia. Infelizmente, festa para quem? Para quem vive de eleição. Para quem quer manter interesses, cargos, benesses entre outras formas de poder e status. Tudo sob o manto inocente dos ideais de democracia.

Pelo histórico recente de nossas eleições pós-ditadura não temos um cenário muito animador. A cada eleição que passa se discute cada vez menos partidos, ideias e propostas. O que importa é a pessoa ou o número que representa. Sua visão de mundo e a do seu partido pouco interessa. Essa realidade, evidentemente, conta com a ajuda do analfabetismo total e funcional que assola a maioria da população. Por isso levantar a bandeira da educação cada vez mais não passa de discurso vago e enganador.

Prova disso é a permanente corrida eleitoral em todas as esferas. E a menos de um ano das eleições de 2014 se escancarou. Os nomes estão na mídia e consequentemente nas pesquisas. O partido desse ou daquele é mera alegoria. Com exceções dignas a parte, os nomes predominantes são mais do mesmo. Pelo andar das coisas o nosso país vai ser novamente vítima de um “golpe” eleitoral disfarçado. O que importa são os nomes. Ter um partido parece ser necessário só por força de lei. Para ter número. Ideias são secundárias ou indefinidas. O que importa é aparência e palavras bonitas.

Embora tenhamos dificuldades e limitações, acredito nas ideias. É desrespeitosa a escolha de nomes antes de debater posturas e propostas. Além do que, não podemos esquecer de forma nenhuma o que representam os partidos e suas orientações. Por enquanto parece que os pré-candidatos são simples peças decorativas para consumo. Mas quais são seus objetivos e o que propõem de novo e ousado? Por enquanto nada.


Artigo publicado no jornal O Fato em Foco no dia 18 de outubro de 2013.

terça-feira, 15 de outubro de 2013


Dia do Professor


 (por Tiago Martins do Sul21)


Esse violentar-se a si mesmo é “exigido” do milionário que vende a alma por dinheiro e aceita com tranquilidade o fato de que ele faz parte de um percentual minúsculo da população mundial que tem rios de dinheiro, enquanto uma grande parcela míngua de fome às margens da doença que é a humanidade. A mesma violência é imposta à faxineira que mora na Restinga e tem que sair de casa às 5 da manhã para limpar uma casa em Cachoeirinha e receber um valor indigno por mês. Violentar-se a si mesmo é negar-se a si próprio pelo dinheiro, trabalhar absurdamente e ser condicionado a achar que isso é normal, se mecanizar dentro deste modus operandi que não nos dá muito mais tempo para fazer qualquer coisa além de sobreviver e, quando sobra tempo, estamos a consumir como formigas enlouquecidas buscando atingir a grande ficção social que transforma em melhores aqueles que têm mais dinheiro, mais roupas, mais bens, mais status.Feliz Dia dos Professores para os professores conscientes que lutam, em sala de aula, pra que os nossos alunos, de alguma forma, fiquem distantes da violência que é o nosso modo de vida, para que consigam escapar o máximo possível de um mundo que aliena, que mata, que agride com suas leis, com suas normas, com suas crenças, já assimiladas e encaradas com normalidade por uma boa parte das pessoas. Aceitamos a violência, afinal violentar-se a si mesmo é o que nos exigem todo santo dia!

Feliz Dia dos Professores para aqueles que lutam contra a lavagem cerebral midiática e política que muitas vezes vemos ser a responsável por destruir o desejo daquele aluno que sonha fazer Filosofia ou Música, mas acaba escolhendo o seguro caminho do dinheiro. E quem vai culpá-lo, quando a culpa não é realmente dele?

Feliz Dia dos Professores pros professores que lutam contra esse modo de vida que é ensinado nas próprias escolas em que os professores que lutam ensinam… O sistema escolar atual, afinal, é uma fábrica de ideologia dominante. Ideologia que faz com que a gente – lotando os shoppings na véspera do dia da criança – prefira não pensar naquelas milhões de crianças que morrem pela fome ou pela violência, que faz com que a gente queira que o bandido que roubou sei lá o que seja morto, que faz com que a gente ache que o cara que não se deu bem na vida é fraco e incompetente e que qualquer oportunidade dada a ele é uma maneira de tirar as minhas oportunidades. Ideologia que faz com que os detentores dos meios de comunicação – os forjadores da opinião da maioria – achem horrível aquela pedra enorme que quebrou o vidro de um banco, mas não achem horrível o contra-cheque do professor que trabalha no Estado e está na rua lutando por um mínimo de dignidade.

Feliz Dia dos Professores para aqueles professores que lutam contra a monstruosidade intrínseca do mundo e, como esse monstro é histórico e gigantesco, acabam por sentir que estão nadando contra uma corrente implacável. E estão. E estamos!

Feliz Dias dos Professores para esses profissionais que ensinam por uma causa, que fazem da sala de aula um espaço de conscientização política e que são acusados de fazer lavagem cerebral por aqueles que querem manter o mundo como ele está.

Eu dou aula por um motivo. Não comecei a dar aula por isso, mas ao longo dos anos, especialmente nos dois últimos, percebi que é isso: Não dou aula para fazer o meu aluno passar no vestibular, muito menos para fazer com que ele entre na droga do mercado de trabalho. Eu dou aula para que os meus alunos fujam dessa racionalidade cruel que impera entre nós e sejam minimamente humanos. Eu dou aula tentando ensinar – mesmo que ainda esteja aprendendo – o que é liberdade e autonomia num mundo em que a verdade é nos dada nas mãos ou nos empurrada goela abaixo. No fundo, eu não sei se acredito que vá mudar alguma coisa, mas continuo fazendo…

Feliz Dia dos Professores para aqueles professores que não querem mudar o mundo, que repetem o status quo, que estimulam a ideologia, pois eles também são vítimas desse sistema, eles também são explorados!

Somos todos explorados, mas não nos unimos. Estamos cada vez mais distantes uns dos outros, pois as ficções sociais que construímos, os rótulos que servem para nomear nos dividem tanto (negro, homossexual, normal, anormal, deficiente, mulher, homem, pobre, empregado, patrão, mestre, doutor, travesti, transexual, aluno, professor, gordo, magro, rico, na moda, fora da moda, artista, bonito, feio, etc etc etc) que esquecemos que somos todos uns perdidos, uns medrosos, uns humanos.

Feliz Dia dos Professores para quem entende que todas essas coisas estão ligadas e que educação é tudo isso aí acima, e se não for…. pra que que serve ensinar?

E Feliz Dias dos Professores, finalmente, para os alunos que fazem com que a gente, no dia a dia da profissão, pela responsabilidade que tem sobre eles, acabe tendo uma forte lição do que é ser responsável pelo outro, do que é amar o outro.


Tiago Martins é professor de Literatura; Escritor e Mestre em Literatura Comparada pela UFRGS.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013


Professor ontem e hoje

Juremir Machado da Silva

do blog do Juremir


Dia do professor. Eu sou um deles. Professor universitário. Adoro o que faço. Fico impressionado com a renovação de nossas energias. A cada semestre, tudo recomeça. Patinamos um pouco. E lá vamos nós. Depois de algum tempo de férias, bate a saudade dos alunos, das aulas, da rotina escolar.

Há muitos mitos em torno da vida de professor.

É certo que ser professor de universidade e ser professor de ensino fundamental ou médio, principalmente em certos lugares, é muito diferente.

O primeiro mito é que os alunos de antes eram melhores.

Em quê?

Em alguns matérias, com certeza. Em latim? Em cultura geral? O aluno de hoje tem acesso a uma carga de informações jamais vista. Em 1980, uns dez por cento dos alunos chegavam a curso de jornalismo falando inglês. Essa proporção hoje é muito maior. Durante muito tempo, a universidade esteve restrita às elites. Havia um saber padrão trazido de casa. Hoje o ensino está mais democrático. Isso abre espaço para alunos com formação de base mais deficiente. Em contrapartida, as tecnologias da informação despejam todo tipo de conteúdo em cima de todos e suprem lacunas como nunca antes.

Mudaram os métodos e certos conteúdos. O que se precisa saber?

O ensino de antigamente era baseado na decoreba.

Inteligente era quem tinha uma excelente memória.

Quem falava três línguas era considerado gênio.

Quem sabia a lista dos imperadores romanos era um “cabeção”.

Não funciona mais assim. A memória artificial acabou com a importância da memória natural. Importante é ter boa cultura e saber procurar.

Outro mito se refere à suposta falta de respeito dos alunos.

No popular, aluno bate em professor.

Antigamente professor batia em aluno.

A sala de aula era o reduto de um mestre autoritário, despótico, ditador, um tirano que punia com palmatória e, depois dela, com castigos e humilhações: colocava atrás da porta, de joelhos, em cima do grão de milho, expulsava da sala de aula, usava palavras duras, insultava, berrava, pisoteava.

Eu vi isso em sala de aula. Eu fui para trás da porta. Eu vi meus colegas de joelhos no canto da sala. Eu vi um colega no grão de milho. Eu vi um aluno com chapéu de burro. Na semana da pátria, aluno desfilava como soldado. Não podia errar o passo. Marchava como um soldadinho da ditadura.

O aluno era adestrado por professores tirânicos.

Exagero? Foi na pré-história? Não. Há menos de 50 anos quase tudo isso ainda existia. O professor não podia ser questionado. É possível que, em certas situações atuais, o aluno não possa ser questionado e humilhe o professor.

Estamos em busca do equilíbrio.

Na minha experiência de professor só tenho encontrado alegria: alunos carinhosos, afetivos, gentis, inteligentes, questionadores e amigos.

Sempre pode ter algum diferente. São jovens, na flor da idade, cheios de energias, de dúvidas, de tantas coisas para ver e fazer. Eu os entendo.

O mundo mudou.

O professor de antigamente não era um tirano por querer. Refletia o seu tempo. A família também era assim. O pai era o chefe autoritário da família. Articulava carinho com despotismo. Impunha-se como um rei furioso.

Eu vi um pai obrigar o namorado a casar com a sua filha, com um revólver na cabeça do rapaz, por ter descoberto que eles andavam tendo relações sexuais.

Muitos sentem saudades desse tempo idílico do autoritarismo e de violência. É mais difícil ser pai e professor nestes tempos atuais de negociação e de limites à autoridade. O respeito agora deve ser recíproco. O diálogo se impõe.

Um professor hoje só se faz respeitar pela competência, pela capacidade de dialogar, pela arte de transmitir saber e por ser capaz de ouvir e discutir.

Pela disciplina autoritária ninguém mais se faz admirar ou respeitar.

Só vale a hierarquia do convencimento, do envolvimento, da competência.

Aprender não é sofrer. É sentir prazer. Nem tudo pode ser divertido. Mas nada precisa ser feito na base dos castigo e das reprimendas raivosas.

Impor limites é, antes de tudo, limitar o poder da disciplina arbitrária.

Ser professor é maravilhoso. Um desafio que se renova com o tempo.

Nossas escolas foram durante a maior do tempo excludentes. Só agora os não brancos começam a entrar realmente em certos cursos antes reservados, sob a suposta cobertura do mérito, para os filhos dos donos do poder. Era a reprodução da desigualdade por meio da meritocracia dissimulada. Não havia igualdade de preparação. Em consequência, não havia igualdade de disputa.

E, grosso modo, ainda não há.

Mas uma fresta se abriu com as cotas.

O mundo universitário está ficando mais colorido.

O universo escolar está mais complexo.

Só os simplistas juram que o passado era melhor.

Melhor para quem?

O melhor presente para os heroicos professores é salário melhor.

Quem diz que o salário não é o principal, manipula, mente, falseia. O professor é tudo. É a base de todas as outras profissões baseadas em educação formal. Os salários no ensino fundamental e médio continuam ínfimos.

Não dá para pagar mais?

Dá. Mas para isso a sociedade precisa redefinir as suas prioridades.

Paixões negadas

Eduardo Mattos Cardoso

Professor Mestre em História


Por mais que nossos governantes tentem se esquivar, mais cedo ou mais tarde algum debate é travado. É nessas horas, apesar da tentativa de neutralidade, que percebemos quem são e quais são suas ideias. Se é que as têm. Na política local, com o pequeno debate recente, observamos claramente que nosso “gestor mor” é pessoa de duas palavras e desconhece humildade. Conforme a conveniência. Descobrimos também que os legisladores letrados de situação são movidos pela paixão, embora neguem a todo o momento.

Não sou contra a paixão. Muito pelo contrário. Mas na política as pessoas tentam esconder e ficam com medo. Por que negar sua atração pelo poder, pelo mando e desmando? Por que ir contra seus instintos mais primitivos de imposição e radicalismo conservador? Quando os argumentos são fracos e a retórica é ultrapassada afloram os mais profundos sentimentos apaixonados e incoerentes. Coisa da política? Não, coisa da politicagem que tenta negar que o ser humano é um ser político.

Com alguns anos de atraso o discurso da neutralidade também chegou por aqui. Não é uma novidade deste ano na cidade sobre rodas, evidentemente. Na ordem do discurso vale tudo. Antigamente os políticos tinham uma fala mais inflamada e mais direta. Agora parece que é proibido discordar, tudo em nome do politicamente correto e do risco de perder votos.

Não menos interessante nisso tudo é a generalização. Com medo de expor suas verdadeiras ideias, o político rasteiro tenta usar palavras bonitas e dizer que tudo é “farinha do mesmo saco”. Para um fala uma coisa. Para outro diferente. Depende de quem é e do que a pessoa está esperando ouvir. É dura a vida de quem não tem palavra e fica a todo o momento dissimulando. Fazer favor com objetivo eleitoral é fácil. O difícil é ser autônomo e original.

Pena que essas percepções só são possíveis quando os atores saem da “moita”. A maior parte do tempo ficam se escondendo e se travestindo. Mas não aguentam o tempo todo. De vez em quando mostram a cara e o que realmente representam no cenário político local. Interesse coletivo certamente não se defende. Isso os donos do poder demonstram de forma clara, pois continuam adeptos do jeitinho e das artimanhas para alguns que governam. No mais, falar em união não passa de simbolismo e de conversa boa. Conversa de quem não tem coragem de se assumir e muito menos de defender ideias.


Artigo publicado no jornal O Fato em Foco no dia 11 de outubro de 2013.


sábado, 5 de outubro de 2013


Reizinho poltrão

Eduardo Mattos Cardoso

Professor Mestre em História


Diante da polêmica atual não posso ficar calado. Desde já sou contra. Por um simples motivo: não é prioridade. Tampouco necessário. É necessário sim, digamos com coragem, para a especulação imobiliária que esta transformando a cidade de Três Cachoeiras em um feudo pequeno burguês. De poucos, obviamente.

Sou contra projetos desnecessários. Asfaltar rua no centro urbano do município não tem urgência. E o que é pior: já é pavimentada. Nesse caso não é burrice, é interesse puro. Como mal pagador de promessas, nosso prefeito deu mais uma fora. Fora do interesse da maioria. Não acredito, até agora, que o prefeito municipal seja capaz de tocar para frente um projeto útil. Desde que assumiu o executivo municipal só efetivou trapalhadas.

Prioridade é pavimentar as estradas de nosso interior. Do Rio do Terra, do Morro Azul, do Chimarrão e o que falta da Chapada dos Mesquitas entre outras. São esses lugares que precisam de atenção e cuidado. Não sou contra campos de futebol e ginásios. Mas se as emendas parlamentares que nossos vereadores tanto falam fossem canalizadas para o fim de pavimentar – por exemplo, com blocos de concreto – um ou dois quilômetros por ano de cada estrada, isto sim seria demonstração de grandeza e evitaria muitos gastos com manutenção. Igualmente evitaria “puxa-saquismo” e bate-bocas inúteis e intermináveis.

Mas do jeito que estão indo as coisas fica difícil acreditar em boas e coletivas realizações. Também pudera: o que esperar de um prefeito que se acovardou diante de um simples debate eleitoral e que continua sendo poltrão diante do debate constante e necessário sobre as reais prioridades do município? Quem sabe a resposta?

Entretanto, o mais triste é observar que o poder subiu à cabeça de nosso prefeito reizinho e que isso o faz não enxergar nada a sua volta senão a incapacidade, a teimosia e a inclinação a gastar com coisas inúteis. E aqui cabe um anexo. O que é mais covarde: um “pasquim” circulando na cidade com algumas verdades ou vereadores letrados de situação com discursos covardes e rasteiros. É nível baixo também. Muito baixo. Covardia pura com palavras “bonitas”. Não seria diferente vindo de quem.

Resumo da ópera: se os vereadores aprovarem vai ser uma covardia para com o povo trescachoeirense. E ainda com empréstimo é mais preocupante. A prefeitura tem dinheiro. Então por que pegar emprestado? Tem cheiro de golpismo em longo prazo.


Artigo publicado no jornal O Fato em Foco no dia 04 de outubro de 2013.







Homenagem

Eduardo Mattos Cardoso

Professor Mestre em História


No dia 28 de setembro de 1963, sábado chuvoso na cidade de Torres, ocorreu o casamento. O fotógrafo nem apareceu de tanta chuva. Mas os familiares foram. Cerimônia pela manhã na velha Igreja São Domingos, depois almoço e festa o resto da tarde na Vila São João. Com o que se tinha e podia. A vida era dura naquele tempo. Vovô e Vovó fizeram o melhor que podiam. Afinal, estava casando a primeira filha.

Tudo começou lá por 1962, nos bailes onde tocavam Os Irmãos Cardoso. Bem perto da casa de meus avós maternos, na Vila São João, tinha o salão do “João Bento”. Imaginem como se começava um namoro há cinquenta anos! Bem diferente de hoje certamente. Minha mãe era e continua muito bonita. Meu pai sempre foi meio conversador. Por aí começou a História de Jacir e Dirma.

Com o casamento foram morar em Santo Anjo da Guarda, terra de meu pai. Os primeiros anos não foram fáceis para minha mãe, pois teve de morar com os sogros. Tempos difíceis. No ano seguinte à união veio a primeira filha. Em 1966 veio a segunda. O terceiro em 1968. Quando parecia que estava encerado veio o quarto em 1974 e o quinto e último em 1978.

Levou uns quatro ou cinco anos para a primeira casa. Muito simples, mas era própria. O trabalho na roça e a criação de gado eram as atividades que se seguiram, pouco rentáveis, mas dava para viver e criar os filhos. A roça para subsistência ou troca e algumas vacas para tirar leite e em certa época vender para a “CORLAC” a preços baixíssimos. Com o que se tinha a vida foi se ajeitando, contanto com a ajuda das filhas e dos filhos mais velhos que desde cedo começaram a trabalhar fora para ajudar em casa.

Essa breve memória e o uso desde espaço foi a forma que encontrei de externar singelamente a minha homenagem e de toda a família a meus pais Jacir e Dirma que completam neste sábado, 28 de setembro de 2013, cinquenta anos de casamento. Sei que a turma anda meio apartada, mas a verdade é que não somos perfeitos. Parabéns por essa caminhada tão bonita e pela continuidade da vida que é boa acima de tudo.


Artigo publicado no jornal O Fato em Foco no dia 27 de setembro de 2013.

Revolução ou insurreição?

Eduardo Mattos Cardoso

Professor Mestre em História


Em tempos de semana farroupilha e vinte de setembro os debates vêm à tona. Porque comemoramos esta data? Porque tantos festejos? O que foi a Guerra dos Farrapos? Porque também se chama Revolução Farroupilha? Fazer revolução significava avançar na História, mesmo para os segmentos dominantes do início do século XIX. Aliás, a revolução implicava o uso da força, legitimando o movimento. Os exemplos das elites dominantes da América do Norte, França e Inglaterra estimulavam processos revolucionários com objetivos de destruir o arcaico, o antigo, o ultrapassado.

Todavia, os farroupilhas não questionaram a escravidão em seu sistema produtivo. Nem ao menos tiveram condições de ensaiar planos de liberdade e crescimento econômico. Identificaram-se mais com o conflito centro versus periferia. Por isso, é incorreto chamar o movimento de revolução. Foi uma guerra civil entre segmentos sociais dominantes. Além disso, a escravidão era a “doença” que o paciente não aceitava ter. Preferia dirigir suas críticas à falta de protecionismo alfandegário. Esquecia-se ou não queria entender que a estrutura produtiva da charqueada rio-grandense retraía a capacidade de competir com os similares platinos. Este sim era o principal problema da pecuária rio-grandense, que só teve espaço no mercado enquanto os concorrentes platinos estavam envolvidos em guerras contra o domínio espanhol ou na disputa pelo controle do Estado Nacional. Foi sintomático: de 1831 em diante, os platinos entraram em período de relativa paz, voltaram a criar gado e produzir charque sem os inconvenientes das guerras. Com isso, o charque rio-grandense entrou em colapso. Em 1835 eclodia o movimento farroupilha.

Por dez anos, a guerra civil prejudicou o setor pecuarista. As perdas foram muito maiores do que os lucros políticos e econômicos do movimento. A paz honrosa de Poncho Verde, em 1845, acomodou as crescentes dificuldades dos farrapos, pois não interessava ao governo monárquico reprimir uma elite econômica. Aos oficiais do Exército farroupilha foram oferecidas possibilidades de se incorporarem aos quadros do Exército nacional. Líderes presos foram libertados e a anistia foi geral e imediata.

Parece que até hoje as motivações daquele movimento não foram superadas. Por um lado, o Rio Grande do Sul continua em situação de mando político dependente, com uma economia pouco beneficiada no cenário capitalista que se reproduz no Brasil. Por outro, o Rio Grande do Sul não consegue compreender que suas dificuldades resultam da forma como tem sido realizada sua inserção como sócio menor no sistema capitalista brasileiro. Quando virá a revolução?

Artigo publicado no jornal O Fato em Foco no dia 20 de setembro de 2013.

terça-feira, 17 de setembro de 2013


Mistérios

Eduardo Mattos Cardoso

Professor Mestre em História



Alguém já ouviu falar em Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip)? Estas organizações estão frequentemente ligadas a escândalos nacionais de corrupção, como o desta semana na operação Esopo deflagrada pela Polícia Federal. Em Três Cachoeiras também existe Oscip. Conveniada com a prefeitura municipal. Em tese serve para terceirizar funcionários. Em tese. Sua atuação de fato é misteriosa.

Outros mistérios também pairam sobre nosso município. Esse pessoal que está no governo, tanto no executivo quanto no legislativo gosta de segredos. Desconversam quando questionados sobre o que foi feito com o R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) arrecadado a mais do que o previsto em maio e junho. Silêncio. Ou enrolação. Segundo o prefeito - competente apertador de mãos - o município continua “quebrado”. Aprendeu rápido com o chefe. Não sabe de nada, não pode fazer nada e não manda em nada. Sempre, quando a coisa aperta, cai fora com a desculpa de que tem que consultar os oráculos. Ufa!

Não menos enigmática é a relação mídia-religião-política em nossa cidade. Somos sabedores que toda concessão de radio é pública. Então deve ser de interesse público. Não particular. E vivemos num estado laico. Isso significa que esses princípios não são muito observados por aqui. Se essa mistura provocasse o surgimento de bons agentes públicos, menos mal. Entretanto, o que se vê é a “fabricação” de políticos semianalfabetos e analfabetos funcionais prestando um grande desserviço à sociedade trescachoeirense. Nesse caso, o mistério é o que vem pela frente.

E a nossa Câmara de Vereadores. Continua uma “caixinha de surpresas”. Para engolir os mandos e desmandos da mesa diretora, só com bola de cristal. O andar se dá conforme a vontade dos ventos, ora sul, ora nordeste ou minuano. É fácil empulhar a turma sem debatedor a altura, pois o nível quase geral dos edis é muito baixo. Além disso, continua o mistério das prioridades. Explico: se gasta mais tempo nas sessões ordinárias com projetos de nomes de ruas do que qualquer outro. Na última, o tempo de votação de projeto de nome de rua foi infinitamente superior ao da aprovação do Plano Plurianual (PPA) que hoje menciona um orçamento de R$ 76.000.000,00 (setenta e seis milhões de reais) para os próximos quatro anos.

Junto com todos esses mistérios, um não poderia faltar. E anda intrigando muita gente: o Ministério Público esqueceu Três Cachoeiras. Uns falam em forças superiores ou até abdução. Outros que é coisa de sociedades secretas.

Artigo publicado no jornal O Fato em Foco do dia 13 de setembro de 2013.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Magistério

Eduardo Mattos Cardoso
Professor Mestre em História


Mais uma greve do magistério estadual. Entre outros motivos, pelo cumprimento da lei do piso nacional do magistério. É o principal motivo. Mas e o novo ensino médio politécnico? Já ouviram falar? Será golpismo educacional? Para melhorar números? Por enquanto apenas isso. No papel é maravilhoso. Na prática... Veio de cima e as escolas engoliram. Sem nenhum debate. E ponto.

Segundo o IBGE, o Rio Grande do Sul é - depois da Bahia e do Maranhão - o terceiro estado que mais “expulsa” seus habitantes. Estamos no padrão norte/nordeste. Na Bahia a culpa é dos Magalhães. No Maranhão dos Sarney. E por aqui, a culpa é de quem? Mas dizem que os motivos são outros. Será? O tal Estado mais politizado e de boa qualidade de vida do país esta mostrando sua cara. Faz tempo.

Em mês “farroupilha” poderíamos começar a pensar nessas coisas. O que queremos para o futuro do nosso estado? A continuação da mediocridade? Da falsidade? Da enganação? Fazer de conta que temos “tradição”, “orgulho” e sermos “modelo” como diz nosso hino enquanto na prática funciona o contrário?

Enquanto alguns médicos não querem R$ 10.000,00 de “bolsa” - porque querem carreira de estado e ganhar mais de R$ 20.000,00 como juízes, e com razão - em termos salariais só estamos lutando para que o governador Tarso Genro cumpra uma lei que ele mesmo assinou quando era ministro da educação. Que cumpra a lei do piso, que hoje estabelece em salário básico de R$ 1.567,00 para início de carreira para um professor(a) com 40 horas semanas com nível médio.

A façanha mais modelar de nossos administradores é a covardia. E nosso governador é mais um desses. Enganou não só os professores, mas a população do estado inteira, com exceção é claro, dos privilegiados de sempre. Não presenciei nas últimas duas décadas um governador capaz de enfrentar o legislativo e a maior chaga existente em nosso estado e país: o judiciário. A “judicialização dos direitos sociais”, como nomeou Roberto DaMatta, é um câncer devastador que corrói o desenvolvimento do país. Nosso governador não tem coragem de enfrentar “os donos do poder”. E em 2014 seremos empulhados novamente. Por um ou por outra.

Ademais, junte-se a isso a covardia de alguns colegas. Uns, partidarizando o sindicato da categoria estadual. Outros, nas próprias escolas fazendo promoções pessoais, conchavos e todo tipo de ajeitamento possível para trabalhar menos e fugir de sala de aula. Viva a individualidade. Viva a covardia.


Artigo publicado no jornal O Fato em Foco no dia 6 de setembro de 2013.
EM GREVE: QUERO SER MAIS COBRADO!


Bernardo Caprara
Sociólogo, Professor e Jornalista


Estou em greve para ser mais cobrado. Essa sentença pode soar estranha. É isso mesmo. Logo você irá entendê-la. O fato é que o magistério estadual está sem trabalhar, de acordo com o direito exposto no artigo 9º da Constituição Federal. Poucos gostam de fazer greve. Corre-se o risco de ficar sem receber. As aulas serão recuperadas, talvez nos sábados, talvez no verão. Mas a greve permanece um importante instrumento de pressão política. Goste-se ou não.

O economista Amartya Sen é reconhecido pelo Nobel que recebeu. Em uma das suas instigantes obras, ele argumenta que a expansão das liberdades é o principal fim e o principal meio para o desenvolvimento. A ausência de educação e saúde de qualidade para todos restringe a expansão das liberdades. Nesse sentido, observei na minha dissertação de mestrado, entre outras coisas, que o efeito estatístico da escola no desempenho estudantil carrega um significado decisivo – resultado consoante com a literatura da sociologia da educação contemporânea.

Se já salientei a relevância da educação e do sistema escolar, do ponto de vista das ciências humanas e sociais, sob a ótica da política institucional tal relevância parece não sair do discurso. Há muito tempo. É inacreditável que o atual governo gaúcho, responsável pela criação de um vencimento básico mínimo para os professores, agora rejeite por completo a aplicação da sua cria. Cintila inacreditável a situação física da grande maioria das escolas, na medida em que, a cada eleição, a educação pública surge como um mantra na boca dos candidatos e na estratégia dos marqueteiros. Triste cenário.

Reuni-me com alguns dos meus estudantes, no intuito de escutar as suas demandas. Elas são múltiplas. Desde questões pontuais até elementos estruturais, passando por críticas, sim, ao modus operandi dos docentes. Dizem eles que os educadores faltam muito, são despreparados, não têm paciência, demonstram claros problemas pedagógicos e assim por diante. Relatam, ainda, que os colégios são desorganizados, não oferecem a possibilidade de protagonismo aos discentes, destilam autoritarismo e não os deixam bater as suas asas e voar rumo ao conhecimento. Reclamam da modificação do ensino médio, que retirou uma série de períodos de matemática, geografia, história e outras disciplinas. Sentem-se inferiorizados
frente à rede privada em qualquer concurso que possam disputar. Eu assino embaixo e sublinho que tudo isso faz parte do ensino público cotidiano.

Na última avaliação publicada pelo PISA (Programme for International Student Assessment), o Brasil ficou em 57º num ranking de qualidade educacional composto por 65 países. Um péssimo resultado para uma das maiores economias do planeta. Com Pós-Doutorado na Université de Montreal e na Pennsylvania State Unversity, Bernardete Gatti coordenou um estudo da UNESCO em que demonstrou ser fundamental a valorização dos professores. Sem melhores remunerações, os melhores profissionais não se interessam ou logo abandonam a carreira. E a corda estoura por todos os lados.

Abri esta pequena reflexão propondo que estou em greve para ser mais cobrado. Desafio os governos a oferecer condições adequadas para que eu e meus colegas possamos exercer o nosso apaixonante ofício. Sem que, transcorridos alguns anos, estejamos todos doentes e desestimulados. Sem que alguém tenha pena de nós por atuarmos na educação básica. Que nos cobrem, então, muita qualidade e excelentes performances. Até que cheguem estes lindos dias, continuarei ensinando (e aprendendo) da melhor maneira que consigo. Dotado da máxima dedicação que me cabe. Não aceitarei, contudo, cobranças densas e profundas daqueles que mentem para o povo e não fazem da educação uma legítima prioridade.



Artigo publicado no blog do Juremir Machado da Silva

terça-feira, 3 de setembro de 2013


Sobre salários e estruturas


Delmar Bertuol

A Secretaria Estadual de Educação contrata estudantes para darem aula. Sim, acadêmicos de licenciatura a partir do 4º semestre (em muitos casos isso é menos da metade do curso) podem dar aulas para até o Ensino Médio no Rio Grande do Sul. Por que o Estado contrata esses estudantes e lhes dá regência de classe? Porque muitos profissionais formados não querem trabalhar na Educação Básica Estadual. E por que não querem? Porque o Estado paga mal.

O Governo Federal está contratando médicos estrangeiros formados para atuarem no interior do Brasil. Por que o Governo Federal está importando esses profissionais? Porque muitos médicos brasileiros não querem trabalhar no interior. E por que não querem? Porque preferem ficar nos grandes centros urbanos, onde ganham o mesmo salário.

Um professor em fim de carreira no Rio Grande do Sul, depois de talvez ter sofrido algumas agressões físicas e com certeza ter sofrido diversas agressões morais ganha no máximo, chutando alto, R$ 3.500,00. Um recém contratado ganha metade disso.

O Governo Federal está oferecendo salário de R$ 10.000,00 para os médicos atenderem no interior. Os “doutores” acusam o Estado de escravidão.

Os hospitais não têm infraestrutura adequada e faltam materiais.

Nas escolas, ocorre o mesmo fenômeno.

Quando eu estava no 4º semestre fui Professor no Estado. Meus colegas me receberam com alegria. Disseram-me que há tempos faltava Professor de História, que eu fosse muito bem-vindo.

Um médico cubano não no 4º semestre, mas formado, foi recebido com vaias pelos novos colegas brasileiros. Disseram que ele era desnecessário aqui.

Muitos idealistas defendem que o salário de um professor deveria ser no mínimo de R$ 10.000,00. Uma Lei Nacional garante R$ 1.500,00. O Rio Grande do Sul não cumpre a lei. Se os professores entram em greve reivindicando isso e melhor infraestrutura nos educandários, são tachados de desocupados. Sabiam que a vida de professor era miserável. Por que aceitaram trabalhar nisso?

Muitos idealistas defendem que os médicos deveriam ter uma Carreira de Estado, tal quais juízes e promotores. Claro que o salário se equipararia. Mais de R$ 20.000,00. Se um professor guardasse seu salário por um ano, chegaria fácil fácil nessa cifra. Quando os médicos fazem greve reivindicando isso e melhor infraestrutura nos hospitais, são aplaudidos pela média conservadora. São heróis.

Testo de opinião do blog do Juremir Machado da Silva

terça-feira, 27 de agosto de 2013


Corporativismo e ideologia: os médicos cubanos
Juremir Machado da Silva


A rejeição à vinda de médicos estrangeiros para o Brasil é, em boa parte, corporativa. A rejeição à vinda de médicos cubanos é ideológica. Será ideologia contra ideologia? Tem muita gente acusando o governo brasileiro de querer trazer médicos cubanos somente para ajudar o parceiro socialista que vive à beira da miséria. Pode ser. Como duvidar dessa simpatia histórica? Há até quem, num surto de teoria conspiratória, entenda que é uma forma de preparar a revolução comunista no Brasil.

As críticas aos médicos cubanos dizem respeito, sobretudo, à capacitação.

Um país pobre como Cuba só poderia formar médicos de qualidade duvidosa. Os hiper-ideológicos, adversários do “ideologismo” petista favorável à vinda dos cubanos, não acreditam em competência de médico comunista, ainda mais de comunista cucaracha e cubano.

Alguns indicadores complicam essa leitura ideológica. Cuba, no IDH saúde, aparece em segundo lugar (0,94), atrás somente do Canadá (0,96). A expectativa de vida em Cuba é 79,3 anos, contra 81,1 no Canadá, 78,7 nos Estados Unidos e 73,8 no Brasil. No item mortalidade infantil, Cuba ganha de todo mundo, inclusive dos Estados Unidos, com menos de seis mortes por mil habitantes/ano. Cuba não é o paraíso. Liberdade não é o forte da ilha dos irmãos Castro. Está longe de ser o lugar ideal para quem gosta de polêmica ou de divergir do governo. Também não é um bom lugar para “minorias” como homossexuais. Há prisioneiros políticos e controle social. Cuba é uma ditadura.

Mas isso não torna seus médicos incompetentes.

Uma matéria da BBC Brasil, publicada no conservador “estadão.com.br”, dizia: “Os principais êxitos do regime implantado pela Revolução Cubana de 1959 estão na área social, onde a ilha apresenta indicadores superiores à maioria dos países do continente, incluindo aí os mais ricos”. A reportagem elogiava as escolas cubanas: “É nestas escolas que se reúnem dois dos maiores sucessos da revolução cubana: a educação e a saúde pública”. O “coronel” Ronaldo Caiado, deputado do DEM, que ficou famoso como patrão de uma associação de extrema-direita, afirma que “esses quatro mil cubanos que estão sendo contrabandeados serão cabos eleitorais do PT no interior”. Fala-se em trabalho escravo. Nos confins do Brasil, no mundo de certos coronéis políticos, trabalho escravo não falta.

Sem necessidade de médicos e cuidados.

Cuba investe 10% do PIB em saúde. Dá para entender que médicos brasileiros não queiram ir para alguns lugares para falta de infraestrutura, de bons salários e de condições adequadas de trabalho. Mas não dá para entender que se ideologize a questão da entrada de médicos cubanos no país. Tem gente que continua na Guerra Fria com discurso macartista e gosto pela caça às bruxas. Articulistas lacerdinhas recorrem a um argumento escatológico: falta até papel higiênico em Cuba. No interior do Brasil tem gente que ainda usa jornal, folhas de árvores e até sabugo de milho para se limpar. Tem quem não queira pediatra cubano com medo de que comunista coma criancinha.

Nossos médicos brilhantes, que são muitos, riem disso tudo.

Num ponto os médicos brasileiros têm razão: todos os formados no exterior, brasileiros ou não, deveriam ser submetidos ao Revalida. Mas já no governo FHC houve um convênio com Cuba que dispensava a revalidação pelos critérios e métodos da época. Países europeus contratam médicos estrangeiros por tempo determinado sem a exigência de exame de revalidação.

Há para todos os gostos.

O governo cubano ficará com grande parte do salário dos médicos que virão ao Brasil?

Isso pode ser entendido como uma apropriação indébita ou como um imposto pesado.

Essa preocupação tão intensa é só uma maneira de tentar desqualificar ainda mais o acordo.

Nessa guerra, todos os golpes são permitidos.


Do blog do Juremir.

Como é gasto nosso dinheiro

Eduardo Mattos Cardoso

Professor Mestre em História



Instrumento importante para a cidadania é o acompanhamento das contas de nosso município. Hoje temos a lei de acesso à informação. Qualquer pessoa pode solicitar informações das mais variadas aos órgãos públicos, inclusive prefeituras e câmaras de vereadores. Como nossa prefeitura não gosta muito de divulgar informações, uma breve visita ao “site” do TCE - Tribunal de Contas do Estado - nos informa números interessantes.

Até a presente data os balanços são do primeiro semestre. No quesito receita, ou seja, o que entra de dinheiro para a prefeitura os números são cristalinos: leve aumento nos dois primeiros bimestres e um surpreendente acréscimo de quase um milhão de reais no terceiro trimestre em relação à meta a ser alcançada. Para ser exata, a meta era arrecadar R$ 3.298.896,25, mas se arrecadou R$ 4.288.809,91, uma diferença de R$ 989.913,66. Está no site do TCE em receitas correntes de Três Cachoeiras.

Até aí tudo bem. Aliás, muito bem. Essa história de município “quebrado” e choradeira porque não tem dinheiro é puro engodo. Sempre afirmei isso. Agora, entrar no terreno “pantanoso” dos gastos faz exalar alguns odores. Não sei bem se é “pantanoso” o “movediço”, mas vamos a alguns exemplos apenas da unidade orçamentária “Gabinete do Prefeito”.

Este órgão de governo tem dotação orçamentária própria. O valor pago nos primeiros seis meses de governo foi de R$ 260.802,35. Aí entra todas as despesas relativas à pessoal, viagens, diárias, automóveis, gasolina, manutenção entre outras. Alguns valores gastos chamam atenção de qualquer desavisado. Exemplos: recuperação de dados de HD de quatro computadores custou R$ 1.800,00; lavagem de carro oficial R$ 168,00 (que lavagem...); balanceamento e geometria de dois automóveis oficiais por R$ 1.135,00, e por aí vai. Falando em automóvel oficial, só o do prefeito teve um gasto aproximado de R$ 12.000,00 em seis meses. Fora a gasolina.

Importante observar as contribuições para associações como FAMURS, CNM e AMLINORTE que levam valores expressivos sem saber o cidadão para que servem. Entretanto, o que chama mais a atenção são os valores gastos com transporte, passagens e diárias. Entre passagens aéreas e diárias (sem contar carro oficial e gasolina) nosso prefeito gastou mais de R$ 20.000,00 nesses seis primeiros meses. Fora o gasto de vice-prefeita, chefe de gabinete, assessores e outros. Vale a pena dar uma olhada nos gastos das outras secretarias também. Tudo dentro da lei! Alguns fora da moralidade.


Artigo publicado no jornal O Fato em Foco no dia 23 de agosto de 2013



terça-feira, 20 de agosto de 2013


Esquadrão da fofoca
Eduardo Mattos Cardoso

Professor Mestre em História


Dias atrás um jornal televisivo denunciou um deputado mineiro “instruindo” seus correligionários. Era um “intensivo” com vista à eleição de uma cidade do interior de Minas Gerais. A “aula” recomendava dois pontos básicos: primeiro era “botar no bolso” dos eleitores um “cartão” - por aqui chamado de “santinho” - na quantia necessária com sobra para o candidato ser eleito. Segundo, era criar uma espécie de “esquadrão da fofoca” para difamar o opositor, espalhando mentiras e coisas do gênero. Isso faria com que o candidato atacado perdesse mais tempo se defendendo do que fazendo campanha.

Ainda bem que esse deputado não conhece Três Cachoeiras. Se conhecesse descobriria que essa ideia de fofoca organizada já foi inventada muito tempo antes por aqui. Descobriria ainda que já existe a “fofoca moderna” além do método tradicional do boca-a-boca nos botecos, salões de beleza e outros lugares de ajuntamento de pessoas e até de porta em porta. Ficaria informado que a “cidade que pode mais” está sempre inovando. Parece que esta em andamento o processo de “patenteamento” de um novo “aplicativo” para computadores e esses telefones “modernos”. Criação nossa. Prata da casa. Chama-se “Fofobook”. Ao que indica esses técnicos juntaram o tradicional com as redes sociais.

Esse povo trescachoeirense tem potencial. Muitos acreditam nisso. Um amigo sempre me diz: “fofoca tem prioridade”. Outro reforça: “fofoca derruba e elege políticos”. São frases desconcertantes. Intrigantes. Atestam a força e a importância que a fofoca tem. É mais ou menos como o “jogo do bicho”: a grande maioria das pessoas já fez uma “fezinha”. Mas quem faz o “jogo” nunca ouviu falar. Eu também não! Fofoca é assim igualmente: ninguém sabe a origem.

Entretanto, a novidade em se tratando de fofoca política esta se reciclando continuamente. Antes era só em período eleitoral. Isso já está ultrapassado. Agora a fofoca é continua, principalmente quando o assunto é mascarar incompetência e abusos de poder. Quando é para justificar o injustificável então..., é constrangedor. É o “esquadrão permanente da fofoca” infiltrado em quase toda a máquina pública municipal. Mas seus tentáculos são compridos e alcançam até setores privados. Desconfia-se que tenha um CEO - “chief executive officer” - articulando essa rede. E que os/as administradores/as do tal aplicativo são muito competentes em matéria de fofoca. Por que no resto... Será possível!


Artigo publicado no jornal O Fato em Foco em 16 de agosto de 2013

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Caixa preta e suas possibilidades
Eduardo Mattos Cardoso

Professor Mestre em História


No cotidiano laboral converso com professores de todas as áreas do conhecimento. Ultimamente tenho me detido mais à Matemática e a Física. Desde que estudava sempre as tive como ciências exatas, portanto lógicas. A Física tem me surpreendido com seus estudos sobre Física Quântica. Grosso modo, seria a física das possibilidades. Ou ainda, que o mundo (as coisas, os acontecimentos, etc.) seria fruto de nossos desejos, de nossas aspirações.

A Matemática, desde que aprendemos, usamos diariamente. Como vivemos num mundo de troca de quase tudo (trabalho, produtos, serviços, saúde, etc.) por dinheiro, é conhecimento essencial. Aprendemos a lógica da matemática e ponto: 2+2=4. Cada um nas suas casas, principalmente pais e mães que sustentam suas famílias, tem que administrar seu orçamento. Se tem X de dinheiro só pode gastar aquele X. Se tiver uma despesa extra no orçamento? Como é que faz?

No mundo econômico governamental a matemática se transforma. Os números são virtuais. Concretizam-se ou evaporam por palavras. Nas bolsas de valores os mercados financeiros ganham vida e com isso sentimentos; ouvimos frequentemente nos noticiários que o “mercado estava nervoso” e por isso as ações se desvalorizaram. Neste mundo globalizado inventado e líquido nem a Matemática têm mais lógica. Pode estar no caminho da Física, no caminho das possibilidades.

Nesse sentido, quanto mais ocultamento melhor. A administração do dinheiro público é uma caixa preta que não se abre ao público. Todos os anos União, Estados e Munícipios elaboram seus respectivos orçamentos para o próximo ano. É um documento que indica valores, números, ou seja, quanto se tem de dinheiro para ser gasto nas diversas necessidades. Concluiríamos: pura Matemática! Errado, possibilidades.

Nosso município não foge à regra. E nos surpreende a cada dia. Números e valores são palavras. Quando não se quer fazer algo usam a palavra orçamento. “Não esta no orçamento, então não podemos fazer”. Quando se quer não precisa orçamento. Questão de querer. Mas é "chover no molhado"! É o “jeitinho” institucionalizado e legal. Especialistas tentam fazer cálculos: município quebrado X 44% de reajuste para secretários; contratações de pessoas e empresas X quanto custam; dinheiro não previsto em orçamento para festa do caminhoneiro X saúde é para quem tem QI; Câmara de Vereadores é um banco que distribui dinheiro sem nenhum critério X os vereadores de oposição só ficam sabendo depois do dinheiro gasto. Não fecham as contas. Infelizmente, a covardia e a promiscuidade imperam. Salve-se quem puder.


Artigo publicado no Jornal O Fato em Foco de 09 de agosto de 2013

domingo, 4 de agosto de 2013

Tempos líquidos

Eduardo Mattos Cardoso

Professor Mestre em História



O título de hoje faz referência a uma das obras do sociólogo polonês Zygmunt Bauman. Em “Tempos líquidos” o autor entra profundamente no submundo da insegurança principalmente nas grandes cidades. Terrorismo, crime organizado, desemprego e solidão são fenômenos típicos de uma era na qual a exclusão e a desintegração da solidariedade expõem o homem aos seus temores mais graves.

Para Bauman, o desmonte dos mecanismos de proteção aos menos favorecidos, somado aos efeitos incontroláveis da globalização, propiciou um ambiente inseguro por definição. Dessa forma, as cidades se tornam o local por excelência das ansiedades. Os fabricantes de antidepressivos à base de lítio comemoram. “Construídas para fornecer proteção a todos os seus habitantes, as cidades hoje em dia se associam com mais frequência ao perigo que à segurança”, afirma o autor.

Por isso, segundo o sociólogo, é no medo que se baseia a legitimidade da política contemporânea, incapaz de alcançar a origem global dos problemas, o que acaba por alimentar, ainda mais, as angústias da vida na modernidade líquida que é a condição em que as organizações sociais não podem mais manter sua forma por muito tempo, pois se decompõem e se dissolvem mais rápido que o tempo que leva para moldá-las e, uma vez reorganizadas, para que se estabeleçam.

De fato, poder e política estão separados. Os políticos são reféns da falta de poder. Já são eleitos sabendo disso. Mas se prestam para isso. Grande parte do poder de agir efetivamente, antes disponível ao Estado moderno, agora se afasta na direção de um espaço global politicamente descontrolado, enquanto a política (que deveria ser a capacidade de decidir a direção e o objetivo de uma ação) é incapaz de operar efetivamente na dimensão planetária, já que permanece local.

Assim, o Estado incapaz de conceber os serviços essenciais aos cidadãos é pressionado a terceirizar suas obrigações, abrindo campo fértil para as forças do mercado. Com isso “a exposição dos indivíduos aos caprichos dos mercados de mão-de-obra e de mercadorias inspira e promove a divisão e não a unidade, estimulando as atitudes competitivas”, frisa o autor. É um dos ingredientes da instalação do medo.

Ao contrário do medo, a segurança passa pelos direitos dos indivíduos. Nesse sentido Zygmunt Bauman é categórico em afirmar que “não podemos estar seguros de nossos direitos pessoais se não formos capazes de exercer direitos políticos e fizermos essa capacidade pesar no processo de elaboração das leis”. Eis a dita participação: será que somos capazes ou não temos mais forças?


Artigo publicado no Jornal O Fato em Foco no dia 02 de agosto de 2013.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Férias e tempo livre

Eduardo Mattos Cardoso

Professor Mestre em História


Numa lógica capitalista, comercial e consumista cada vez mais essa época de inverno é associada á férias. Para uma minoria ainda, é claro. Essa prática está associada mais a centros urbanos. Em nossa cidade, fora as férias escolares, falar em férias de meio de ano é sinônimo de “vagabundismo”. Em Três Cachoeiras, diferentemente de quase todo o resto do mundo, se faz greve para trabalhar mais!

Segundo o filósofo Renato Bittencourt, as longas jornadas de trabalho são cada vez mais aceitas na sociedade moderna, criando uma dependência do trabalhador. Caprichosamente articulados, férias e feriados nas empresas (e outros lugares de trabalho seja público ou privados) têm um intuito certo: deixar os cidadãos apáticos, culpados e cada vez mais ávidos em trabalhar.

É a vida para o trabalho. Para Renato, o trabalho regido pela ordem capitalista em sua frieza tecnocrática se torna apenas um recurso para que o sujeito possa obter o ganho mínimo para a manutenção de sua existência, em verdade, uma subvida. De outro lado, ser empreendedor individual não foge a esse estado. Manter um padrão de vida às vezes é doloroso. Trabalho e mais trabalho. Mais horas extras.

Mas o trabalho é para dar prazer? Tradicionalmente não. A escravidão pelo mundo a fora que nos diga. Um olhar sobre a etimologia da palavra trabalho é esclarecedora: se origina do termo latino “tripalium” que significa instrumento de suplício. E hoje, a divisão técnica da produção e a sua crescente mecanização geram na subjetividade do trabalhador uma contínua repulsa pelo seu objeto profissional, tornando sua atividade maçante, incapaz de lhe proporcionar verdadeira satisfação existencial.

Carl Marx apontou que “o trabalhador se torna tanto mais pobre quanto mais riqueza produz, quanto mais a sua produção aumenta em poder e extensão”. Contemporaneamente em troca de dinheiro. E cada vez mais dinheiro. O trabalhador vende seu metabolismo e sua vida interior proporcionalmente ao sucesso econômico da empresa.

Nem sempre foi assim. Conforme o sociólogo Domenico de Masi, autor de O futuro do Trabalho (José Olympio Editora), “na Atenas de Péricles havia mais feriado que dias úteis”. Eram dias de cultos, celebrações, musicais e reflexões. Daí resultou uma das maiores civilizações dos últimos tempos. Para esse autor, “tratava-se do ócio elevado à condição de arte”. Esses gregos! Infelizmente hoje, alienadas pelo sentimento de culpa, as pessoas levam trabalho até para casa nas horas de folga e fins de semana.


Artigo publicado no jornal O Fato em Foco no dia 26 de julho de 2013.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

O bode

Eduardo Mattos Cardoso

Professor Mestre em História


De tempos em tempos aparece uma novela boa. Quando era bem pequeno lembro-me de uma que se chamava “Que rei sou eu”. A história se passava num reino fictício. Lá pelas tantas teve eleição. E a maioria do povo escolheu, adivinhe quem, o “Bode Zé”. Era um protesto. Mas era emblemático.

O bode é um animal muito importante no nordeste semiárido brasileiro. Devido sua resistência naquele ambiente seco. Mas a palavra bode pode ter sentido pejorativo na linguagem popular. Além do que pode significar confusão. Ainda tem o bode expiatório que é o indivíduo que paga pela culpa alheia.

Numa sociedade altamente hipócrita como a nossa o caprino expiador está em todas. O culpado é sempre o outro, ou outra pessoa. Nunca eu. Parciais são os outros. Em lugares onde a perfeição é aprimorada há bode para tudo. Nossa cidade é exemplar nesse quesito.

Como as novelas andam ruins, prefiro a da Câmara de Vereadores de Três Cachoeiras. É mais emocionante. Já que a Secretaria de Educação e Cultura não sabe o que é Educação e muito menos Cultura sobra o capítulo legislativo semanal. Pelo menos não é um monólogo. Embora tentem o fazer.

O vereador biônico está tentando fazer a sua parte. Mas é complicado. O último capítulo antes do recesso parlamentar (nome bonito para férias) de meio de ano foi diferente. Teve a participação especial de secretária e funcionária para falar e esclarecer dúvidas sobre a perda dos R$300.000,00 e consequentemente do futuro ginásio municipal ao lado da escola Angelina Maggi.

Mais uma tentativa de explicar o inexplicável e tirar o corpo fora. Da incompetência à inocência existe uma separação muito tênue. Para o ouvinte desavisado os discursos com palavras bonitas impressionam. Mas não há nada de novo. Pura empulhação. Dos nove vereadores um não perguntou nada. Adivinhe? Quem paga a conta?

Como poucos neste município tem capacidade e hombridade de assumir erros, o que esperar de nossos funcionários públicos “boquistas”? A diferença de “Que rei sou eu” para Três Cachoeiras é que naquela novela o “Bode Zé” não assumiu o cargo, é claro. Mas em nosso município aconteceu o contrário. Resumo da ópera: como incompetência não se assume (é sempre culpa de outro) e devido a “forças superiores” ficou fácil para o dr. falastrão narrador decretar a existência de um bode expiatório que de tão expiatório foi até promovido. Essas “forças superiores”...! Deu bode.

Artigo publicado no Jornal O Fato em Foco no dia 19 de julho de 2013.