quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013


A pedido: futebol e fanatismo

Juremir Machado da Silva
O futebol vem se transformando no terreno mais fértil para o fanatismo. Mais, em alguns lugares, do que religião e ideologia. Parece que se converteu em causa existencial para quem tem a vida vazia. Enquanto algum torcedor disser que o seu time do coração é o que mais importa na sua vida, como se ouve a cada dia, acima de família e amigos, algo estará errado. A morte do menino boliviano é um sinal. Medidas vigorosas precisam ser tomadas. O que se tem visto no entanto? Muita gente preocupada com os prejuízos financeiros e esportivos do Corinthians se tiver, de fato, de jogar sem torcida nos seus próximos compromissos na Libertadores da América.
A punição foi branda. Somente a exclusão do clube da competição permitiria realmente compreender a gravidade do fato e preparar o futuro. Futebol é um divertimento. Serve para brincar. Não é sério como sentido da vida, salvo, evidentemente, para profissionais. Os clubes ainda não entenderam que precisam banir as torcidas organizadas, que funcionam, em geral, como centros de formação de fanáticos. Não se pode admitir que um bando de doidos entre num estádio carregando artefatos mortais. Os dirigentes ajudam essas máfias que funcionam como claques e como cabos eleitorais. Eles são corresponsáveis pelos estragos que esse pessoal faz. Devem ser julgados e punidos junto com eles. A direção do Corinthians é cúmplice no assassinato involuntário do jovem boliviano.
O guri de 17 anos que, já no Brasil, resolveu se apresentar como responsável pelo disparo, talvez, por ser menor, para livrar a cara dos amigos, soltou uma frase inquietante: “Eu amo o Corinthians”. Aí é que mora o perigo. Gostar de um clube de futebol é saudável. Amar um time passa dos limites. Gente saudável ama pai, mãe, irmãos, amigos, mulheres, homens, mas não um clube de futebol. Por que essa tendência a amar fanaticamente clubes de futebol? Talvez porque isso permite a canalização de energias agressivas na medida em que há disputa, competição, tudo transformado pela mídia em batalhas, guerras, confrontos, com uma retórica bélica sem disfarces, pulando do simbólico para o literal a todo momento. Futebol é irrelevante para quem não é profissional. Salvo como entretenimento e brincadeira.
Acontece que um mundo incapaz de oferecer perspectivas mais interessantes de vida aos jovens, soltos na selva das grandes cidades, usa o futebol como válvula de escape. É uma maneira de manter a massa ocupada, mobilizada, acreditando em algo. É por isso que os governos dão dinheiro público para a construção de estádios. Essa é a explicação para o investimento no estádio do próprio Corinthians. Como nos tempos romanos, a massa precisa de pão e circo para não surtar. Os governos tratam de fornecer. É por isso também que os clubes podem não saldar suas dívidas com o Estado. Eles prestam um serviço público: manter a turba ocupada.
Enquanto, por exemplo, num Gre-Nal não se puder ter o estádio dividido meio a meio entre gremistas e colorados, teremos o sintoma de uma anomalia. Torcer por um clube é uma coisa. Amar um clube é algo inquietante.

“O alto comissário do Golbery não toma jeito”

Tarso Genro (*)
Como Elio Gaspari foi do velho Partidão e depois se tornou confidente do General Golbery, fazendo, a partir daí, uma carreira de jornalista mordaz e corregedor de todos os hábitos do país, ele se dá o direito de não só inventar tolices nas suas colunas, como também enganar os mais desavisados.
Defende as suas teses principalmente a partir da falsificação da posição dos seus adversários de opinião. Para defendê-las, Elio sempre desqualifica os seus adversários com textos de estilo ferino, que não raro beiram a difamação. Os que se sentem agredidos raramente se defendem, não só porque ele não publica as respostas na sua coluna, mas porque talvez temam despertar nele uma ira ainda maior, que também não abre espaços para o contraditório.
Já fui alvo algumas vezes das suas distorções e falsificações, mas sobre este tema da reforma política preciso responder formalmente, porque se trata de um assunto extremamente relevante para o aperfeiçoamento democrático do país, sobre o qual existem divergências elevadas, tanto dentro da esquerda como da direita democrática.
A estratégia usada por Elio Gaspari para promover suas crônicas foi muito comum na época da ditadura, quando o SNI – através de articulistas cooptados – recheava de informações manipuladas a grande imprensa, sobre a “subversão” e as “badernas estudantis”. O regime tentava, desta forma, tanto manter o controle da opinião pública, como dividir a oposição legal e a clandestina, num cenário em que povo já estava cansado do regime. Elio Gaspari parece que se contaminou com este vício e combinou-o com uma arrogância olímpica: desqualifica todo mundo, não respeita ninguém, o que pode significar uma volúpia de desrespeito a si mesmo, ensejada pela sua trajetória como jornalista com idéias muito próximas de um ceticismo anarco-direitista.
Vários dirigentes políticos, tanto da oposição como da situação – da direita e da esquerda – que não estão satisfeitos com o sistema político atual, debatem uma saída: uma reforma política para melhorar a democracia no país. Todos sabemos que não existe um sistema ideal e perfeito, mas que é possível uma melhora no sistema atual, que pode tornar mais decente a representação e os próprios partidos. Este debate para melhorar a democracia e dar maior coerência ao sistema de representação tem despertado a santa ira de Elio Gaspari, que dispara para todos os lados, mas nunca diz realmente qual é a sua posição sobre o assunto.
No seu artigo “O comissariado não toma jeito”, no qual sou citado nominalmente como defensor de fisiologismos, ele atinge o auge na deformação das opiniões de pessoas que ele não concorda. Vincula, inclusive de maneira sórdida estas opiniões a dirigentes políticos condenados na ação penal 470, para aproveitar a onda midiática que recorre diariamente a estas condenações, não só para desmoralizar a política e os partidos, mas para tentar recuperar os desastrados anos do projeto neoliberal no país, nos quais, como todos sabemos, não ocorreu nenhuma corrupção ou fisiologismo.
As deformações de Elio são explícitas quando ele examina dois pontos importantes da reforma política: o “voto em lista fechada” e o “financiamento público” das campanhas eleitorais. Sobre o voto em lista “fechada” ele argumenta, em resumo, que a “escolha deixa de ser do eleitor”, que vota numa lista preparada pelo Partido, que captura o seu direito de escolha.
Pergunto: será que Elio não sabe que a escolha na “lista aberta” (sistema atual), é feita, também, a partir de uma relação de nomes que é organizada pelos Partidos? E mais: será que Elio não sabe que a diferença entre um e outro sistema é que, no atual, o voto vai para a “fundo” de votos da legenda e acaba premiando qualquer um dos mais votados da lista, sem o mínimo nexo com a vontade do eleitor? Repito, qualquer um da lista, sem que o eleitor possa saber quem ele está ajudando eleger!
Na lista fechada é exatamente o contrário. O eleitor sabe em quem ele está votando. E sabe da “ordem de preferência”, que o seu voto vai chancelar, a partir do número de votos que o Partido vai amealhar nas eleições. O eleitor faz, então, previamente, uma opção partidária – inclusive a partir da qualidade da própria lista que os Partidos apresentaram – e fica sabendo, não só quem compõe a lista do seu partido, mas também a ordem dos nomes que vão ter a preferência do seu voto.
Na lista aberta, ao invés de crescer o poder político dos partidos – que Elio parece desprezar do alto da sua superioridade golberyana – o que aumenta é o poder eleitoral pessoal de candidatos que, neste sistema de lista aberta, carreiam os votos dos eleitores para qualquer desconhecido. Por mais respeito humano que se tenha por figuras folclóricas que ajudam eleger pessoas com meia dúzia de votos, não se pode dizer que a sua influência pessoal possa ser melhor que a influência das comunidades partidárias, por mais defeitos que elas tenham.
A tegiversação sobre o financiamento público das campanhas não é ridícula, porque é simplesmente uma falcatrua argumentativa. Elio diz que este tipo de financiamento não acabará com o “caixa 2” e que tal procedimento vai levar a conta para o povo, que ele chama gentilmente de “patuléia”. Vejamos se estes argumentos são sérios.
Primeiro: ninguém tem a ilusão de acabar com o “caixa 2”, que acompanhará as campanhas, enquanto tivermos eleições. O que devemos e podemos buscar é um sistema que possa diminuí-la, substancialmente, através – por exemplo – de um controle “on line”, de todos os gastos das campanhas, num sistema financiado por recursos conhecidos e previamente distribuídos aos partidos.
Este sistema certamente diminuirá a dependência dos partidos em relação aos empresários e permitirá um controle mais detalhado dos gastos, pois cada partido terá um valor previamente arbitrado, para ser fiscalizado à medida que os recursos forem sendo gastos. Reduzir, portanto, a força do poder econômico sobre as eleições, este é o objetivo central do financiamento público.
Quanto à transferência das despesas para o povo, qualquer aluno do General Golbery – digo aqui da modesta situação de fisiológico que me foi imputada – sabe que as contribuições dadas pelas empresas aos partidos e aos políticos, são “custos” de funcionamento de uma empresa, que integram o preço dos seus produtos e serviços, que são comprados pelo consumidor comum ou pelo Estado.
Quem paga por tudo, sempre, é o povo que trabalha e compra e o Estado que encomenda, compra e paga. O defensor da patuléia, portanto, não está defendendo nem a “viúva” metafórica nem o Estado concreto. Está, sim, defendendo a atual influência do poder econômico sobre os processos eleitorais, de uma forma aparentemente moralista, mas concretamente interessada: acha que o sistema assim está bem. Uma forma de fisiologismo altamente disfarçado. O alto comissário do Golbery não toma jeito.
(*) Governador do Rio Grande do Sul


Ruas e promessas

Eduardo Mattos Cardoso
Professor Mestre em História

Segunda-feira, 18 de fevereiro 2013, meu pai recebeu a visita do Vereador presidente da Câmara de Vereadores de Três Cachoeiras. Não é muito comum sua visita. A última tinha sido na campanha eleitoral de 2012. Não fui convidado para o momento. Depois perguntei a meu pai sobre o assunto da conversa. Meu pai desconversou meio constrangido: sobre placas e nomes de ruas. Fiquei intrigado, pois percebi que ele não conseguia explicar bem o assunto.
            Ouvindo a seção da Câmara Municipal foi apresentado rapidamente um projeto de lei (PL) que prevê a alteração dos nomes das ruas de nosso Bairro: um projeto esdrúxulo que troca parte da Rua Olívio Nunes Cardoso para Maria Cardoso da Conceição e vice-versa. Entendi a visita do vereador a meu pai.
            Fiquei pensando: como assim trocar nome de rua. Os nomes para as ditas ruas foi um pedido de meu pai à Câmara de Vereadores para virar lei e levar os nomes dos seus pais, no caso meus avós paternos. Eu pessoalmente acompanhei meu pai no pedido e este foi taxativo para um Vereador à época: a rua de baixo deve se chamar Olívio Nunes Cardoso e a de cima Maria Cardoso da Conceição, nessa ordem.
            Meu pai com 72 anos de idade, lúcido mais de boa fé, não entendeu a artimanha do Vereador. Explico: na época de campanha eleitoral o atual Vereador presidente da Câmara Municipal de Vereadores de Três Cachoeiras prometeu aos moradores o calçamento da Rua Olívio Nunes Cardoso através de uma emenda parlamentar encaminhada à Prefeitura no ano de 2012 através de uma série de ofícios. Ainda na época da eleição envolveu a então Secretária de Administração do município em um episódio lastimável. Agora quer trocar os nomes das ruas para “ajeitar” melhor as coisas.
            Ora caro Vereador, o senhor está se metendo numa questão familiar e histórica que não lhe diz respeito. E, além disso, e que não é menos grave, quer trocar nome de rua para “ajeitar” promessa de campanha porque diz ter sido induzido ao engano! Logo o senhor! Nunca vi disso. E não venha com conversa mole que se não mudar perde verba, o que não procede, ou que vai favorecer mais famílias o que não é verdade também. Qualquer uma das ruas favorece direta ou indiretamente em torno de vinte (20) famílias. É só contar. Não seja rasteiro.
            Em conversa que tive com o Vereador lhe fiz o pedido cordialmente que não leve tal projeto espúrio de troca de nome de ruas adiante. E caso não o faça, não vou admitir tal mudança. Mal-estar o senhor Vereador já gerou, espero que assuma seus erros e cumpra com sua palavra e assinatura para pelo menos amenizar o constrangimento que está causando. E para calçar outras ruas o senhor tem capacidade para ir atrás de verba.

sábado, 16 de fevereiro de 2013


Outros Carnavais

Eduardo Mattos Cardoso
Professor Mestre em História

          Carnaval é tempo de festa. Brasileiro adora festa. Para uns agito e curtição. Para outros folga e tranquilidade. Para tudo. Depende da ótica. No Carnaval da mídia o consumo se sobrepõe a cultura, a manifestação popular. A competição é exaltada ao extremo. Vale tudo. Vale o que quiser. Tem de tudo, até homem vestido de mulher. Ninguém é de ninguém! Opa! Depende!
           Aos gregos se atribui o surgimento do Carnaval relacionado aos deuses, onde transcendia o humano. Bem estar espiritual. Depois é que veio o sentido religioso marcado pela precedência à quaresma, temporada de dar “adeus à carne”. Já no tempo das luzes (iluminismo), o rei Luiz XIV lotou salões de Paris com bailes à fantasia assim como o Carnaval de Veneza se destacava com suas máscaras.
            O Brasil não podia ficar de fora. E foi além. Reinventou o Carnaval. O movimento dos bailes e seus salões foi ganhando as ruas. É o que temos hoje, uma grande festa popular espalhada por quase todos os cantos do país. Alguns tentam se apropriar dessa festa lhe dando caráter de jogo, disputa. Mas seu sentido “das ruas” não se perde quando olhamos as manifestações nas cidades históricas de Minas Gerais e do Nordeste. É reinventado, mas é genuíno. Não é mercantilizado.
            Para os saudosistas fica a lembrança de “outros” Carnavais e suas marchinhas. Muitas marchinhas são famosas e cantadas até hoje: “ô abre alas que eu quero passar...”; ou então: “você pensa que cachaça é água...” Outra, menos conhecida, mas não menos atual diz assim:
            “Aí vem o cordão do puxa saco,
            Vem dando viva os seus maiorais,
            Quem vem na frente vai passando para trás,
            O cordão do puxa saco cada vez aumenta mais”.
            Quando ouvi essa marchinha logo pensei na política municipal de Três Cachoeiras. É muito atual. O puxa-saquismo é uma epidemia. Alastrou-se de um jeito que tem gente defendendo a lógica do aumento de 44% para secretários quando a prefeitura estava quebrada. A lógica matemática esta se revirando. Mas nestes dias tudo é carnaval. É diversão, encenação, fuga da realidade.
            O Carnaval deve ser um tempo muito propício aos atuais gestores municipais de Três Cachoeiras: fantasias, máscaras e transmutação. Dizem que a moda nesse carnaval são os trajes imitando animais. Adoram se fantasiar de cordeiros. Deve ser calor! Algumas pessoas dizem ter visto o prefeito por aí fantasiado de Sérgio Malandro. Será possível?


sábado, 9 de fevereiro de 2013


Seu Onzinho

Eduardo Mattos Cardoso

            Seu Onzinho é um típico trescachoeirense. Como a maioria, honesto e trabalhador. Mas antes de tudo ele ressalta: – detesto quando tentam me enrolar; a mentira tem perna curta! exclama seu Onzinho enfático.  Mas ultimamente anda meio atarantado, com a ideia confusa. Não lhe faltam razões. Principalmente na política, pois de resto vai se levando.
            Onzenildo foi apelidado carinhosamente como seu Onzinho. Mania de Três Cachoeiras. Se sente muito bem quando é recebido calorosamente na fantástica fábrica de favores: – olá seu Onzinho, como vai? O que o senhor precisa hoje? Mas não respondem suas perguntas como antes.
            Quando na época de eleição estava contente com o que vinha sendo feito. Mas as promessas e mais promessas foram tantas que seu Onzinho acabou acreditando que Três Cachoeiras podia mais e embarcou na mudança. Estranhou um pouco seu candidato não aceitar um debate. Mas continuou firme e viu seu candidato ser eleito.
            Desde a eleição vem acompanhando tudo. No dia da posse chorou copiosamente nos discursos dos empossados. Era muita emoção. Desde antes da posse ouvia do atual prefeito que a prefeitura estava “quebrada”, sem dinheiro e que as máquinas também estavam quebradas. Acreditava no prefeito e nas suas palavras. Era uma calamidade. Estava ansioso. – Coitado do prefeito – pensava.
Nos primeiros dias de governo começou a desconfiar dos gestores que ajudou a eleger. Também pudera. Ouviu a seguinte frase de um empresário matuto da cidade: – nóis elegemo o Pinóquio; elegemo quarqué um, pode sê até o Bode Zé; o que importa é tirá aquela gente de lá pra nóis toma conta; agora é nóis que mandemo de novo.
Passou uns dias e lá estava uma máquina da prefeitura arrumando sua rua. Logo pensou: – mas o prefeito disse que tava tudo quebrada! Na última semana Seu Onzinho se sentiu enganado. Soube que a Câmara de Vereadores de Três Cachoeiras aprovou aumento de 44% para secretários. – Como que pode dar aumento de 44% pra secretário se a prefeitura tava quebrada! Esse prefeito só pode tá tirando a gente pra bobo.
Como não gosta de rodeio imediatamente fez uma ligação para o telefone mágico. Tentou uma, duas, várias vezes. Desligado. Tentou falar com o prefeito. Não estava em lugar nenhum. Um vizinho disse que nem na rádio apareceu mais.
– É – desabafou seu Onzinho – acreditei na história da carochinha! (acho que quis dizer na do chapeuzinho vermelho!). – Mas nada do que um dia depois do outro.

Santa Maria

Eduardo Mattos Cardoso

            Semana difícil para gaúchos e brasileiros. Mais de 230 vidas ceifadas no incêndio numa boate em Santa Maria. Na grande maioria jovens e universitários que buscavam diversão numa noite de sábado para domingo. Foram curtir à noite.
            De Santa Maria conheço o que alguns amigos dos tempos de Força Aérea Brasileira ou agora de Universidade me relatam. Que é uma cidade Universitária graças principalmente a UFSM – Universidade Federal de Santa Maria – entre outras. Além do setor educacional tem a BASM – Base Aérea de Santa Maria – e grande destacamento do Exército Brasileiro. Afora outros serviços públicos estaduais e federais, Santa Maria é a cidade na qual cruza praticamente toda a malha ferroviária (embora pequena) do Rio Grande do Sul. É uma cidade, portanto, que atrai muitos jovens.
            Santa Maria, que um dia já foi chamada de Santa Maria da Boca do Monte, guardará na sua história esta tragédia indescritível, mas que precisa ser encarada e responsabilizada para que não aconteça nunca mais. Fatalidade ou negligência? Não queremos “caça as bruxas”. Queremos responsabilidade.
            Tragédias como esta despertam alguns de nossos melhores e piores sentimentos. Brutalidade e estupidez que tira em minutos a vida de mais de 230 pessoas; é um acontecimento que nos joga em um espaço estranho, onde a dor indescritível dos familiares e amigos das vítimas se mistura com a perplexidade de todos os demais. Queremos os culpados? Quem são os responsáveis? É um desabafo óbvio numa hora difícil.
            Mas esses momentos, ao mesmo tempo, são marcados por silêncio, presença e exaltação da vida. Antes de tudo, embora a incredulidade e dor, os parentes e amigos das vítimas precisam de apoio, cuidado, atenção ou simplesmente uma palavra de força. É onde brota a solidariedade, a ajuda imediata, destemida e desinteressada que celebra o verdadeiro amor da vida e do amor sobre todas as demais coisas. A vida é mais importante que a propriedade, o lucro, os negócios e todas nossas ambições e mesquinharias. Mas o direito a vida neste mundo e na forma em que vivemos é constantemente ameaçada.
            Não foi fatalidade. Mas o que vimos em Santa Maria foi obra do homem. Como os seres humanos têm dificuldade de aprendizado (não por incapacidade) fica a lição: que aprendamos com os ensinamentos.