quarta-feira, 17 de abril de 2013


Agora vai

Eduardo Mattos Cardoso
Professor Mestre em História
           
Tenho minhas dúvidas de que só falta tempo para o prefeito Nestor (opa!, Quartinho) mostrar seu trabalho. Como já deve ter “arrumado a casa” e seus aposentos para os amigos, agora vai! E vai de ônibus. Isso mesmo, de ônibus doado pela receita federal. Estamos em abril, e o grande feito do prefeito (desculpe o trocadilho) parece ter sido o recebimento de um ônibus – usado, mas bem vindo – resultado de pedido da administração passada para fazer viagens ao interior do município. Moto niveladora nova (“patrola”) de R$ 500.000,00 é coisa menor.
Será que vamos ter uma linha municipal? Em determinadas localidades não sei não, não vai manobrar. É um ônibus grande. Seria melhor usar na linha diária para Porto Alegre. Em vez de duas vans, um ônibus maior faria o mesmo trabalho. Pelo princípio da economicidade alardeado na Câmara de Vereadores seria uma boa ideia. Pouparia um motorista. Uma linha fixa diária! “Canetaço” do prefeito, com o aval legislativo é claro. E tem lei para isso? Para que lei. E os órgãos fiscalizadores? Que se danem, são políticos ou não metem medo!
Para Três Cachoeiras lei e justiça longe. Para levar estudantes para Santa Rosa do Sul/SC, lei, mesmo que não exista. Lei para os outros. Para nossos amigos não se fala em lei. Acima da lei esta o jeitinho. Nesse raciocínio poderia se levar os estudantes para Santa Rosa no novo – usado – ônibus. E daria pra criar mais uma vaga em Cc. (cargo em comissão, 5, 6, 7) para mais um amigo. Mais uma oportunidade de emprego no município.
Três Cachoeiras pode virar o paraíso dos anarquistas. Não, não são aqueles de Porto Alegre protestando pelo valor da passagem de ônibus. Querem pagar, mas pagar menos. Que venham para cá, pois ao mesmo tempo em que os políticos (prefeito e vereadores de situação) não gostam de leis, vão proporcionar linha de ônibus gratuita no município. E se quiserem cobrar, que venham as manifestações. Mas não se preocupem com polícia, justiça e leis. Por aqui não se gosta muito de leis (e muito menos de cumpri-las). O poder público executivo e legislativo não tem “medo” do Ministério Público e muito menos do Tribunal de Contas do Estado que é ineficiente, por que é político (o que pode ser uma verdade!). Três Cachoeiras esta acima da lei. Não gosta de lei. Quando é preciso resolver algum problema acima da lei se aprova um PJ (projeto de jeitinho) na Câmara de Vereadores por 5 votos a favor da situação contra 4. E pronto. Nada de leis por que agora vamos de ônibus.

quarta-feira, 10 de abril de 2013


O que se vê o que não se vê: da arte de sonegar a memória    por Marco Weissheimer do Jornal sul21

O que não se vê no Fórum da Liberdade: um debate sobre a participação de empresários na ditadura.
 A amnésia seletiva que marcou alguns dos pronunciamentos dos proprietários de empresas de comunicação no 26º Fórum da Liberdade, em Porto Alegre, chamou a atenção nestes tempos de Comissão da Verdade no Brasil. Representantes de empresas apoiadoras e/ou protagonistas de movimentos golpistas e ditaduras que implementaram durante anos a fio as formas mais diversas de censura e de violação de direitos humanos, apresentaram-se como defensores das liberdades e paladinos da luta contra supostas tentativas de “controle da imprensa”. Essas empresas não só apoiaram a censura e ditaduras que torturaram, assassinaram e fizeram desaparecer milhares de pessoas, como construíram impérios midiáticos à sombra desses regimes, ganhando concessões de rádio e tv e generosas verbas de publicidade. Nada disso é novo, mas como esses empresários insistem em sonegar a memória e a história, cabe sempre trazê-las à tona.
O slogan do Fórum da Liberdade este ano é “o que se vê e o que não se vê”. O que não se vê, nunca se viu, é uma declaração que seja desses grupos empresariais a respeito de suas relações com governos ditatoriais que controlaram a imprensa e assassinaram jornalistas. O que não se vê são dirigentes das entidades empresariais que apoiam e patrocinam o Fórum da Liberdade explicarem à população por que, em passado recente, conspiraram para derrubar o governo constitucional de João Goulart e implantar uma ditadura no Brasil.
O que se vê são figuras como João Roberto Marinho, presidente do conselho editorial e vice-presidente das Organizações Globo, dizer que “existem minorias tentando desestabilizar a liberdade de imprensa, com o discurso de buscar regulação”.
O que não se vê: uma avaliação desse empresário tão preocupado com a liberdade, com a posição de seu jornal no dia 4 de abril de 1964: Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas que, obedientes a seus chefes, demonstraram a falta de visão dos que tentavam destruir a hierarquia e a disciplina, o Brasil livrou-se do governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições (Editorial de O Globo).
O que se vê: Nelson Sirotsky, presidente do conselho de administração do Grupo RBS,  aponta a proposta de criação de um conselho estadual de comunicação no Rio Grande do Sul como um possível “retrocesso à liberdade de expressão”.
O que não se vê: o mesmo Nelson Sirotsky explicar por que sua empresa apoiou um governo que amordaçou durante anos a liberdade de expressão. O jornal Zero Hora, como se sabe, ocupou o lugar da Última Hora, fechado pela ditadura por apoiar o governo constitucional de João Goulart. A certidão de batismo do principal veículo impresso do grupo RBS é marcada pelo desprezo à democracia e pela aliança com o autoritarismo.
O que também não se vê: Três dias depois da publicação do famigerado Ato Institucional n° 5 (13 de dezembro de 1968), ZH publicou matéria sobre o assunto afirmando que “o governo federal vem recebendo a solidariedade e o apoio dos diversos setores da vida nacional”. No dia 1° de setembro de 1969, o jornal publica um editorial intitulado “A preservação dos ideais”, exaltando a “autoridade e a irreversibilidade da Revolução”. A última frase editorial fala por si: “Os interesses nacionais devem ser preservados a qualquer preço e acima de tudo”.
Os interesses nacionais, no caso, se confundiam com os interesses privados dos donos da empresa. A expansão da empresa se consolidou em 1970, quando o grupo adotou a sigla RBS. A partir das boas relações estabelecidas com os governos da ditadura militar e da ação articulada com a Rede Globo, a RBS foi conseguindo novas concessões e diversificando seus negócios.
O que se vê: Julio Saguier, presidente do jornal argentino La Nación, diz que restrições à imprensa em seu país “têm retirado da população o direito de saber o que está errado, reduzindo o poder de mobilização”. Não há nenhuma restrição à imprensa na Argentina. Quem tiver alguma dúvida que vá a Buenos Aires e tente comprar um exemplar dos opositores La Nación ou o Clarín em uma banca qualquer.
O que não se vê: Julio Saguier explicando as acusações feitas pela Justiça argentina contra os donos do La Nación e do Clarín pela obtenção mediante extorsão, da empresa Papel Prensa (fornecedora de papel para a impressão de jornais), durante a ditadura argentina.
Se há algum controle da imprensa hoje na América Latina é o exercido por essas grandes empresas que, além de sonegar a história e a memória, sufocam médios e pequenos empresários, concentram a maior parte dos recursos públicos investidos na comunicação e defendem uma visão de mundo onde figuras como Luciano Huck e Margaret Thatcher são apresentados como modelos de sucesso e empreendedorismo.
O editorial publicado pelo jornal ZH nesta terça-feira, intitulado “O legado da Era Thatcher”, é emblemático, ao dizer: “a chamada Dama de Ferro demonstrou que é possível modernizar uma economia quando há disposição para vencer a resistência de grupos organizados, decididos a não abrir mão do que consideram direitos adquiridos”. Chama atenção o uso da expressão: “do que consideram direitos adquiridos”. De fato, Thatcher (que dizia não existir sociedade, só indivíduos isolados – o que é uma definição interessante para a psicopatia) fez isso, assim como seu grande amigo, o genocida Augusto Pinochet, no Chile, ou como os golpistas brasileiros que também trabalharam para “vencer a resistência de grupos organizados, decididos a não abrir mão do que consideram direitos adquiridos”. O desrespeito pela democracia e pela noção de direito parece estar incrustrado no DNA de alguns setores da sociedade. Foi assim em passado recente. Segue sendo no presente.

Três Cachoeiras segundo Ruschel e Delai

Eduardo Mattos Cardoso
Professor Mestre em História
           
Outro trabalho que veio contribuir significativamente para a história de Três Cachoeiras é o livroTrês Cachoeiras e suas comunidades”, de Ruy Ruben Ruschel e do Padre Rizzieri Delai. A obra está dividida em duas partes: na primeira, o historiador Ruy Ruben Ruschel apresenta suas pesquisas históricas sobre o atual município; na segunda, o Pe. Rizzieri Delai, com sua experiência de vida regional e local de mais de meio século, nos conta sobre a vida religiosa e a constituição das comunidades que formam atualmente o município.
Ruschel é autor que muito contribui para a preservação da memória histórica do Litoral Norte, mais especificamente sobre a história de Torres. Seus escritos trouxeram importante apoio para os interessados na história torrense e , trescachoeirense também. Divide sua contribuição em dois capítulos. No primeiro aborda a constituição geológica do município, a Serra Geral e os morros, a Lagoa Itapeva e os rios (e sua importância), partindo desses para uma localização geográfica do território e origem do nome Três Cachoeiras com outra perspectiva.
No segundo capitulo, Ruschel traça as “Linhas do povoamento inicial”, destacando a tardia ocupação territorial e as linhas étnico-populacionais que ocuparam Três Cachoeiras. Aponta três fontes básicas de povoamento desse território: a partir de 1790, com concessões de sesmarias a pessoas de origem portuguesa e/ou açoriana; depois de 1830, com os descendentes de imigrantes alemães de 1826, que se deslocavam na região; e a partir de 1890, com colonos de descendência italiana.
A segunda parte do livro fica por conta do Pe. Rizzieri Delai. Contribui com muitas informações empíricas e de fácil leitura. Sobre religiosidade, faz um levantamento dos párocos que serviram a região e suas relações com Três Cachoeiras, desde a construção da primeira capela (e a evolução da mesma junto à comunidade) até a construção da nova igreja. Levanta muitas informações sobre a política em Três Cachoeiras, desde sua ligação enquanto distrito à Torres, seus subprefeitos, as razões da emancipação, os trabalhos emancipacionistas entre outras peculiaridades como escolas e entidades que se desenvolveram com o crescimento local.
Delai enfoca o transporte lacustre que muito influenciou economicamente o território do futuro município, dando destaque ao mais importante porto da região, o Porto Guerreiro no Rio Cardoso. Conclui seu trabalho dando uma visão geral da constituição e evolução das comunidades que formam o atual município de Três Cachoeiras, finalizando com algumas fotos de época.        

Três Cachoeiras tem História

Eduardo Mattos Cardoso
Professor Mestre em História

            Dia 29 de abril Três Cachoeiras comemora sua data magna de emancipação política de Torres. Embora município apenas a partir de 1988, sua história vem de longa data. Neste mês que antecede o dia oficial do aniversário cabe aqui retornar ao passado e relembrar como se forjou esta cidade tão pujante e próspera, revisitando autores e suas obras além de documentos históricos que marcaram e marcam nossa história.
            Preservar a memória é essencial para um grupo social. A inauguração do monumento ao Tropeiro na localidade de Morro Azul reforça a preservação da memória. Mas como diz Michael Pollak, a memória é seletiva, ou seja, muitas vezes se seleciona o que se quer preservar, seja individual ou coletivamente. Esse cuidado metodológico o historiador deve ter no seu olhar sobre o passado e o presente, principalmente quando preservado de forma oral.
            Com esse olhar cuidadoso revisito o pioneiro trabalho sobre Três Cachoeiras que se tem conhecimento, e que foi tornado público: é o livro de Ignácio José Schaeffer, intitulado “Breve relato histórico da fundação de Três Cachoeiras” de 1985. Um trabalho pessoal, com ressalvas e observações a serem feitas é certo, mas que sem dúvida foi e é uma importante contribuição escrita, portanto registrada, por um homem que viveu no seu tempo a constituição de um povoado que se transformaria em município. Schaeffer nasceu em 08 de janeiro de 1905 e evidentemente vivenciou muito do que relata em seu escrito.
Uma característica que chama a atenção (o que não diminui sua contribuição), e conduz praticamente toda a escrita de Schaeffer, é a forma romântica de apresentar seus levantamentos e fatos. Dessa forma aborda a origem do nome “Três Cachoeiras”, passando pelo “picadão” e os “bandeirantes”, por “índios e escravos”, por “tropeiros e intermediários”, por “missionários”, e ainda pela composição étnica desde portugueses açorianos até a contribuição de descendência alemã e italiana.
Além de muitas curiosidades e detalhes interessantes sobre o povoado nas décadas de 1910 e 1920 pertencente a Torres, traça uma breve biografia de seu pai José Felipe Schaeffer e sua contribuição no desenvolvimento local principalmente nas tratativas da construção da primeira capela sob orientação do Padre Bartolomeu Tiecher por volta de 1915. A primeira missa, com a capela ainda não concluída se daria em 25 de julho de 1925. E ainda, lembra o início do ensino escolar na localidade, desde os primeiros professores até Maria Angelina Maggi. É a primeira leitura obrigatória sobre a história de Três Cachoeiras.