sexta-feira, 31 de maio de 2013


Democracia e revolução europeia

Tarso Genro*


O grande movimento que deverá ser feito pelos oligopólios financeiros globais que tutelam as políticas dos países em crise será, processualmente, transferir os ônus da “recuperação” aos países pobres e aos chamados “emergentes”. Não somente através de um desequilíbrio ainda maior, no intercâmbio comercial, mas também desencadeando ondas especulativas sobre as economias que não consigam colocar sob controle sua dívida pública.


Estes oligopólios vão se esmerar – a partir da insegurança generalizada já em curso – em provocar crises de governabilidade instigando, a partir delas, mais uma onda de privatizações, cujos recursos se “esfumarão” rapidamente, como ocorreu aqui no Brasil na era FHC. Ao mesmo tempo irão financiar e incentivar governos tecnocráticos, “choques” de gestão e mais destruição das funções públicas do Estado, como já está ocorrendo em Portugal, na Grécia e na Espanha.


O impasse político gerado pela crise reergueu a Alemanha à condição de potência política de primeira grandeza e ainda não demonstrou todo o seu potencial destrutivo, nem na Europa nem na América Latina. No Brasil, porém, a centro-direita já manifestou que “aceita” o desafio de representar a “saída” desejada pelos credores da dívida pública global. O candidato Aécio Neves colocou na sua agenda a defesa da era FHC, inclusive para sustentar novas privatizações, sinceridade que visa, não só provocar a formação de um bloco neoliberal e conservador, no seu entorno, mas também oferecer o Brasil como território disponível para assimilar aquela transferência da crise.


Trata-se, na Europa, de uma situação aparentemente sem saída, pois as classes trabalhadoras dos países mais atingidos, os setores médios, as empresas endividadas – premidos por uma situação que ameaça o financiamento estatal e os direitos sociais e do “Welfare”- nem conseguem maiorias eleitorais para formar governos de oposição à dogmática neoliberal, nem conseguem constituir um bloco social de caráter contestatório, capaz de por em risco o atual regime do capital. Ou seja: no enfrentamento da crise, nem reforma neo-socialdemocrata, nem revolução social novo tipo, até agora.


Como esta situação de bloqueio às conquistas da socialdemocracia europeia vai interferir na democracia política, com consequências em todo o mundo, ainda não se sabe. Proponho-me, aqui, a levantar algumas hipóteses, para contribuir com o debate sobre a nossa questão democrática, no interior da esquerda que defende a necessidade de governar dentro da ordem democrática e que isso, não só é válido, mas é um “front” elementar para bloquear os avanços da pior direita, que pode levar o mundo a uma nova ordem neofascista.


Entendo que o fato político mais marcante deste período é a subjugação da França pela Alemanha, quebrando as esperanças de um vasto contingente popular de esquerda e de centro-esquerda – algo que vai de Hollande a Mélenchon – que esperava por parte do governo Hollande um processo restaurativo dos direitos e benefícios que vinham sendo sucateados pelo governo Sarkozi, que levou este à derrota eleitoral. Algo de bem significativo -em termos político-eleitorais – apresentou-se naquele cenário, com um crescimento eleitoral expressivo, à direita à esquerda da socialdemocracia tradicional, já demonstrando a emergência de inconformismo radicalizado com os partidos da ordem que se renderam à Alemanha.


Entendo que o presidente Hollande pretendia, por convicção e necessidade política, restaurar o pacto socialdemocrata, esquecendo que ele fora erguido sob pilares sem fundo, o que frustrou as expectativas sobre o seu governo. Nem foram encaminhadas medidas alternativas de longo curso, para organizar um novo modelo de bem-estar que, pelo menos, repartisse os sacrifícios necessários para sair da crise. Sair da crise dentro do regime do capital, diga-se de passagem, pois ninguém com força política real na França estava defendendo, por exemplo, uma nova onda de nacionalizações ou a estatização dos bancos, com ocorreu na era Mitterrand.


Aqui reside, na minha opinião, a questão-chave. O que devemos nos perguntar é se, moldada a União Europeia tal qual foi moldada, Hollande poderia fazer reformas “pela esquerda” sem romper com União. Ou, ainda, sem usar “medidas de exceção” no terreno econômico (como aumentar o déficit público, exigir financiamento para os governos e empresas, não para os bancos privados), para proteger especialmente as pequenas e médias empresas, os empregos, bem como distribuir a proteção social mínima, necessária em momentos agudos de desmantelamento social, como está ocorrendo nos principais países do euro.


O que Hollande não fez a União Europeia fez, pois o que se observou nas saídas engendradas para a crise – por parte das autoridades da União Europeia – foi precisamente a declaração de uma emergência política, com um “estado de exceção” não declarado, para a tomada de decisões. E isso foi feito a partir de um “constitucionalismo de urgência”, no qual as regras gerais da União foram subjugadas por decisões intergovernamentais, bancadas pelo Banco Central Europeu.


Em especial estas medidas foram orientadas pela política nacional alemã, pois, de um só golpe, as medidas de austeridade (de caráter “excepcional”) sequestraram a soberania política dos países em crise e interferiram duramente nos seus orçamentos: “os perdedores, até o momento, neste processo, são os parlamentos, tanto os nacionais, como o Parlamento Europeu.” (Carlos Closa, “El Estado da Unión Europea”, El fracaso de la austeridad, Fundación Alternativas, 2012, pg.24). Resultado: o sequestro da política, que esvaziou o sr. Hollande, foi capitalizado na ação política alemã, sob o comando da sra. Merkell.


Em síntese: a “exceção”, com o nome de “intergovernamentalismo” já começou, comandada pela direita alemã, sem que sejam consideradas as consequências para o projeto democrático europeu e os seus efeitos destrutivos sobre a juventude, os idosos, os aposentados, os trabalhadores do setor público, os precários e intermitentes, os imigrantes e os desempregados. O que farão os cidadãos europeus, quando descobrirem que não adianta mudar governos? Eis a pergunta recentemente lançada pelo professor Boaventura Souza Santos, em artigo memorável.


Sugiro, como agenda para debate, que o impasse europeu poderá desdobrar-se em três possibilidades: 1. as reformas de austeridade são implantadas e forma-se a famosa sociedade dos três terços, como vinha sendo encaminhado aqui no Brasil, pela saudosa aliança tucano-pefelista (um terço incluído e feliz, um terço que come mais ou menos e não se educa e o outro terço nos guetos sociais das periferia, tratados predominantemente pela Polícia); 2. ou as reformas de austeridade se desdobrarão por muito tempo, comandadas por governos tecnocráticos semi-fascistas, com sustentação nas mídias e fortes repressões seletivas contra os imigrantes e miseráveis, com o apoio envergonhado das classes médias (nenhum dos blocos em confronto, nesta hipótese, tem força para impor-se); 3. ou processa-se um novo episódio da revolução social europeia, que se arrasta desde a Comuna de Paris, reinventando-se ali algo como um novo pacto “socialista-social-democrata” -um novo contrato social europeu – para enfrentar a direita alemã (com seus tentáculos tecnocráticos e políticos em todos os países europeus) cuja pior face já vem crescendo no interior da própria Alemanha: o neonazismo. Um bloco que suponha que preservação da democracia só ocorrerá com o sequestro, desta feita, da economia pela política.


Isso tem muito a ver conosco, que a duros custos estamos remando contra a maré: criando empregos, reestruturado o setor público, contratando servidores, investindo incomparavelmente mais em inovação, ciência e tecnologia, fortalecendo o mercado interno ao incluir no consumo milhões de famílias. Mesmo conciliando com o domínio pleno do capital financeiro sobre a economia global – o que inclusive Cuba vem tentando fazer e é impedida pelo bloqueio político e econômico dos Estados Unidos – o Brasil constitui uma ameaça mundial às saídas ofertadas pela dogmática neoliberal, porque mostra que as opções no terreno da política podem fazer frente à visão de que “não existem alternativas.”


É visível, porém, que um certo tipo de desenvolvimento que desafia e se contrapõe às leis de bronze do capital financeiro pode perdurar, com o mesmo bloco de forças que lhe dão sustentação, pelo tempo do cumprimento das tarefas que impulsionaram a sua formação. E que nos próximos cinco anos, certamente, nosso modelo atingirá o apogeu e a sociedade brasileira não será “inteiramente outra”, mas terá uma estrutura de classes e novos sujeitos sociais e políticos novos.


Milhões de pessoas estarão no mundo da política, dos negócios, dos movimentos sociais, na intelectualidade acadêmica, à frente das técnicas de indústria e da inteligência, indiferentes à memória política do processo de mudanças que o país sofreu. A partir daí os desafios serão outros, mais complexos e difíceis de resolver dentro do sistema político atual, com a fragmentação federativa ainda mais exposta e com um sistema tributário que funcionará de forma mais arcaica do que nos dias de hoje.


O difícil sistema de alianças que trouxe o Brasil até hoje dá sinais de cansaço, não porque os políticos são vilões ou corrompidos, até porque a taxa de vilania e corrupção, em cada época, é mais ou menos a mesma. Ela adquire é tinturas diferentes, desperta interesse ou alimenta indiferença na grande mídia, segundo seus interesses conjunturais (onde estão as cobranças para o julgamento do mensalão mineiro?). Os processos de corrupção no Estado, é elementar, são dependentes das formas pelas quais se realiza a acumulação de capital e como esta reflete inclusive no financiamento das mídias, com as suas regras “morais” mais, ou menos rígidas. Na era do capitalismo financeiro global os multimilionários esquemas de corrupção se transladaram das relações da burguesia industrial com Estado, para as relações diretas da burguesia financeira com o Estado.


O sistema de alianças dá sinais de cansaço, porque as mudanças no sistema tributário, a fragmentação federativa e a necessidade da reforma política, despertam reações diferentes nos distintos grupos de classes e nas diferentes regiões do país. Esta fadiga dos metais imobiliza as bases parlamentares, proporcionando que grupos de parlamentares troquem de posições em cada tema, sem nexo com as suas bancadas e com os seus compromissos de fidelidade ao governo ou à plataforma oposicionista.


Enquanto na Europa o tecido político dominante cumpre o seu papel de transmissor do programa do Banco Central Europeu, no Brasil este mesmo tecido fragmenta-se porque não mais corresponde aos desafios políticos que os partidos devem enfrentar, em nome das suas bases sociais e regionais: enfrentá-los para o país completar seu ciclo de mudanças, capazes de nos integrar no mundo, no polo de resistência a um neoliberalismo agônico, mas, por isso mesmo, mais capaz de radicalizar os ataques à democracia, para destruir as conquistas históricas do conjunto das classes trabalhadoras no século passado.


Creio que a esquerda brasileira – parlamentar ou extra-parlamentar – socialista, comunista, socialdemocrata, ou simplesmente republicano-democrática – deveria se unir em torno de um amplo movimento político e social para preparar um calendário de lutas, com um programa mínimo muito simples, de resistência democrática ao impasse que a Europa neoliberal está apresentando ao mundo: novos marcos regulatórios para democratizar o acesso à comunicação e garantir o direito à livre circulação da opinião; reforma política, no mínimo para acabar com o financiamento privado nas eleições e valorizar os partidos através da votação em lista; reforma do pacto federativo, principalmente tributário, para reduzir drasticamente as desigualdades sociais e regionais.


Estou tentado a pensar que se não conseguirmos avançar, nos anos imediatos, nesta agenda democrática de resistência, os avanços que tivemos até agora poderão ser revertidos, porque sabemos muito bem: o nosso centro do espectro político não é majoritariamente programático, mas vincula-se a um complexo de conveniências, que não raro lhe aproximam da pior direita, tanto neoliberal, como autoritária.


(*) Governador do Estado do Rio Grande do Sul.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Os donos do poder

Eduardo Mattos Cardoso
Professor Mestre em História
           
O título de hoje faz referência a uma obra essencial para a História, a Sociologia, a política e o Direito, entre outras áreas do conhecimento: Os donos do poder. Formação do patronato político brasileiro, de Raymundo Faoro. O original é de 1958, ano que os intelectuais brasileiros descobriram Max Weber. Mais de meio século se passou, mas o livro de Faoro além de instigante é instrumento importante para entendermos nossa sociedade atual.
Faoro foi na contramão da interpretação marxista da sociedade. Nem tudo se explicaria pela luta de classes. Segundo o autor, um sistema de forças políticas paira acima das classes. E é representado por uma camada de pessoas influentes que muda e se renova, mas não representa a nação, muito menos o povo. A herança portuguesa que viajou até Getúlio Vargas (período estudado por Faoro), e que se estenderia seguramente até hoje mantém o patrimonialismo estatal, os olhos voltados para a especulação, o lucro e a aventura.
Para Faoro, “o poder – a soberania nominalmente popular – tem donos que não emanam da nação, da sociedade, da plebe ignara e pobre. O chefe não é um delegado, mas um gestor de negócios e não mandatário. O Estado, pela cooptação sempre que possível, pela violência se necessário, resiste a todos os assaltos, reduzido, nos seus conflitos, à conquista dos membros graduados de seu estado-maior. E o povo, palavra e não realidade dos contestatários, o que quer ele? Este oscila entre o parasitismo, a mobilização das passeatas sem participação política e a nacionalização do poder […] A lei, retórica e elegante, não o interessa. A eleição, mesmo formalmente livre, lhe reserva a escolha entre opções que ele não formulou”.

A classe social negocia. É questão de economia. O estamento é uma camada social que governa. Para Faoro, “o estamento político é aquele em que os membros têm consciência de pertencer a um mesmo grupo – qualificado para o exercício do poder – e que se caracteriza pelo desejo de prestígio e honra social”. Trazendo essas reflexões para a “cidade que pode mais”, podemos dizer que qualificado não quer dizer o melhor, mas sim qualquer um desde que faça parte do grupo. Pode ser uma marionete. Nesse sentido, a exploração sistemática de cargos – os cargos são para os homens, e não os homens para os cargos – caracteriza a apropriação do que é público, cujo objetivo é a obtenção do máximo proveito possível. Em Três Cachoeiras os “donos do poder” aperfeiçoaram: conciliação e pressão. Mas tudo bem, as cidades têm seus equívocos.
Eu não sabia

Eduardo Mattos Cardoso
Professor Mestre em História
           
O cenário político do município esta conturbado. O esforço é imenso para acreditarmos na boa fé do prefeito de Três Cachoeiras. Imaginava ingenuamente que nosso chefe do executivo era apenas cercado de incompetentes e aproveitadores. Mas declarar, em relação ao episódio recente, que não sabia de nada agride a inteligência dos cidadãos. Só falta agora chamar o secretário afastado e outros que o cercam de “aloprados” como dizia um ex-presidente.
Ora prefeito, o senhor deve conhecer alguns ditados populares, um deles muito próprio para o momento: “me diga com quem andas que te direi quem és”. Logo o senhor que foi colega como vereador do secretário afastado. Logo o senhor que conhece (ou esperamos que conheça) as figuras públicas/políticas a sua volta. É constrangedor, para não dizer débil, escutar frases prontas dizendo não saber de nada.
Não se trata de vociferar e dizer que as pessoas que estão a sua volta são todas incompetentes e sem confiança. Não estabeleço duelo entre o bem e o mal. O prefeito tem opções de qualidade infinitamente melhor do que alguns ocupantes de secretarias e outros cargos. Mas desde a eleição parece deixar-se levar pelas más companhias. Sabendo ou não pode significar má fé. Ou é incompetência mesmo? Mas isso não caracteriza ofensa. Puramente constatação. E não é só minha. A indignação é geral.
Nesse andar chega-se a conclusão que a maioria da população municipal que escolheu o prefeito atual esta sendo enganada. É verdade que vivemos do imaginário, dos desejos, dos sonhos. Faz parte da vida. Mas enrolar o tempo todo. Estabelecer na cidade sobre rodas o “coitadismo” é maquiar a realidade. Já temos muitos salões de beleza. Chega de perfumaria e aparência. Já basta de patético o que vemos na Câmara de Vereadores.

O momento é interessante para um choque de honestidade e grandeza de ações. Extirpar os ruins e dar lugar aos melhores. Precisamos de atitudes para o bem comum, para o coletivo. O tempo dos coronéis tem que ser ultrapassado. Os favores pessoais sobremaneira. Que se expulsem os aproveitadores e sanguessugas da máquina pública. Eles (as) são muito bem conhecidos. Ou é só o senhor prefeito que não conhece. 

sexta-feira, 10 de maio de 2013


O falastrão

Eduardo Mattos Cardoso
Professor Mestre em História
           
Temos figuras folclóricas na política. Na esfera federal os exemplos são incontáveis. Basta lembrar o ex-presidente Lula. Diz a música do Paralamas do Sucesso: “Luiz Inácio falou, Luiz Inácio avisou”... Quem acompanha um pouco de política nas últimas décadas vai lembrar o que Lula falava antes de ser eleito presidente. E vai lembrar melhor ainda de suas falas enquanto presidente. E agora como ex-presidente! Como vivemos num país dito de “livre expressão”, podemos criticar até o presidente. Dessa maneira, Lula ganhou “carinhosamente” o apelido de falastrão.
No Rio Grande do Sul temos o “falastrão dos pampas”. Tarso Genro falou e prometeu que se eleito fosse pagaria o piso nacional do magistério. Não cumpriu e, como todo bom falastrão, enrola o tempo todo. Mas com uma diferença: com palavras bonitas. Isto no Estado dito “mais politizado e educado do Brasil”. Aqui temos filhas solteiras também!
E aqui na cidade sobre rodas temos muitos falastrões de plantão. Na Câmara de Vereadores nem se fala. Mas um se destacou nos últimos quatro meses: nosso Prefeito. Nunca na história deste Município tivemos um prefeito tão falastrão como agora. Quatro meses e nada. Só conversa. E o que é mais grave, está conseguindo piorar as coisas. O cheiro de incompetência, inoperância e má vontade está ficando mais forte. Mas o que o Prefeito prometeu na época de campanha? Nada, enrolou o tempo todo como agora. Foge das perguntas e só aparece na rádio e olhe lá.
Mas o prefeito tinha e tem um “slogan”: primeiro as pessoas. Mas quem são essas pessoas? Primeiro as pessoas do meu partido; primeiro as pessoas que me financiaram; primeiro as pessoas da minha família; primeiro meus amigos; primeiro tal empresa; primeiro tal farmácia; primeiro tal fornecedor; primeiro... E depois se sobrar para o resto.
Dessa forma, é mais interessante pão e circo pra turma. Vamos dar ao povo festa. Festa de emancipação e bicicletas. Festa do caminhoneiro e algodão doce. É anestesia pura. E na veia com efeito mais rápido. Ficar na frente de um posto de saúde ás 05h00min da manhã no inverno para tentar marcar uma consulta é coisa menor. Telefone é bobagem. Os meus amigos não passam por isso. Cobrar valor em dinheiro do povo para ir a capital também é coisa pífia. Tem muito passeador. Agora, ter duas (2) patrolas (moto niveladoras) novas e não ter saibreira! Só pode ser coisa de um baita falastrão. Ou falastrãozinho!

quarta-feira, 8 de maio de 2013


Sobre “lâmpidas” e doutores

Eduardo Mattos Cardoso
Professor Mestre em História
           
Para fugir da escuridão da idade média os europeus acenderam as luzes do iluminismo. Embora a energia elétrica ainda não tivesse sido inventada, a luz de novas ideias começou a clarear o pensamento daquele momento histórico. O fim do período de trevas estava a caminho. Do atraso social e suas divisões, da tirania e de outros males humanos que faziam uns melhores que outros.
Os títulos de nobreza insistem em permanecer até hoje. Mesmo com um mundo tão iluminado por lâmpadas alguns lugares parecem no escuro. E essa escuridão tem ofuscado a visão de realidade para alguns. Deve ser a quantidade de lâmpadas queimadas o motivo de as cidades estarem acometidas de retrocessos. Mas ai vem o novo, uma luz que vem da “lâmpida” que pode ser mágica como a magia dos bruxos da época medieval.
O absolutismo nas ditas sociedades modernas ruiu. Substituto legal veio o “doutorismo”. Corrijam-me prezados leitores: não conheço nenhum médico doutor em nossa cidade, muito menos dentista; e muito menos ainda advogado. Claro, na concepção acadêmica do título que é o que vale. Mais uma mania trescachoeirense: além do diminutivo, botar o “doutor” na frente de nomes. Quem se autodenomina doutor, além de querer ser o que não é, pode querer parecer ser. Como gosta muito do título de nobreza concede esse grau a outros que não se importavam muito com isso, mas começam a gostar. O poder vai mudando o sangue para azul.
Enganar-se a si não é novidade. Pode ser casos de ego, superego, id, essas coisas que Freud explica. Mas aos outros? A escolaridade ou a falta dela não diminui nem aumenta a nobreza de uma pessoa ou conjunto dessas. A titulação escolar ajuda, mas nada substitui a honestidade, em suas múltiplas facetas, seja ela material, moral, ética e intelectual. Tampouco o “doutorismo” isenta alguém de falhas ou lhe dá credenciais para parecer ser.
Os pronomes de tratamento de nossa língua portuguesa existem para serem usados. Entretanto, o mau uso diário da nossa língua é inquietante. Parece que vira moda falar errado, é legal e da legitimidade. Pelos erros ou pelos excessos. Mas muitas vezes, por insistência, vai caindo no ridículo. A simplicidade não impede a melhoria, o polimento. Por isso que “lâmpida” com doutor não combina.

sexta-feira, 3 de maio de 2013


O 29 de abril

Eduardo Mattos Cardoso
Professor Mestre em História

            Em 24 de maio de 1986, no salão paroquial do distrito de Três Cachoeiras, então município de Torres, reuniram-se lideranças do distrito, com a finalidade de eleger a Comissão Emancipacionista do futuro município. Chegou-se a conclusão que a localidade possuía os requisitos necessários à criação de novo município. E por aclamação dos presentes, foi eleita a comissão que tinha os seguintes nomes: José Luiz Maggi, Ademar José Lumertz Borges, Davi Evaldt Hainzenreder, Eraclides Webber Bock, Antônio Moacir Lumertz, Antônio Bernardo da Luz, Ronaldo de Campos Fernandes, Tadeu Silva da Luz, Osvaldo Maggi, Alberi Bento Cardoso, Pedro José Lumertz, João Nicolau Krás e Rizzieri Frederico Delai.
            Segundo a ata dessa reunião, estavam presentes 118 pessoas, todos moradores da área a ser emancipada e com domicílio eleitoral na mesma. Seguiu-se o processo legal. No dia 20 de dezembro de 1987 ocorreu a consulta plebiscitária (plebiscito), que apontaria a vontade popular dos 4.091 inscritos aptos a votar. O resultado foi o seguinte: 2.720 votos SIM; 590 votos NÃO; 33 votos em BRANCO; 19 votos NULOS. No total, 3.362 eleitores votaram. Sendo assim, pela grande maioria dos votos, foi proclamado vencedor a manifestação popular a favor da criação do novo município correspondente à área da consulta plebiscitária.
            Precisaria mais um ano se passar. Num ato burocrático, decretado pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, o Governador do Estado à época Pedro Simon, sancionou a Lei Nº 8.578, de 29 ABRIL DE 1988, que criava o Município de Três Cachoeiras. E o povo nesse dia onde estava? Nessa semana onde o município comemora sua emancipação política é conveniente lembrarmos as pessoas que contribuíram diretamente nesse processo, alguns já falecidos. E os anônimos, aqueles que não tiveram seus nomes inscritos em atas, documentos e outros registros? Caíram no esquecimento, nunca apareceram ou nunca foram lembrados?
            A história das “grandes personalidades”, dos grandes vultos e seus feitos é predominante, desde as aulas de história, passando pelos mais singelos escritos memorialistas locais até lembranças em cerimoniais. Mas será que os 3.362 votantes do plebiscito de 1987 estavam realmente a par do que estava acontecendo (e iria acontecer), já que na primeira reunião estavam presentes somente 118 pessoas? Fica aqui o registro de PARABÉNS ao nosso município pelos seus 25 anos. E que nos próximos 25 anos não se lembrem apenas das “grandes personalidades” locais. 

Nossos liberais

Eduardo Mattos Cardoso
Professor Mestre em História
           
Nesse mês de abril Três Cachoeiras completa ¼ de século. É um privilégio. Nosso município é fruto, como outros tantos, daquela leva de municípios que se emanciparam a partir da nova constituição de 1988. Foi a farra das emancipações. Algumas cidades definharam. A nossa não. Muito pelo contrário. Esta aí, pujante e com 25 anos já adulta, amadurecida. Cabe a pergunta: o que queremos para nossa cidade nos próximos 25 anos?
As forças partidárias de um município refletem sua dinâmica política e seu modelo de desenvolvimento. Aparentemente temos dois blocos alternando-se no poder. Mas não são homogêneos. Temos meia dúzia de partidos com suas propostas e ideologias. Sim, ideologia, pois todos as têm. Ou algum partido é mero coadjuvante? Quando a coligação é eleita todos têm o seu espaço. E qual é a ideologia de nossos agentes políticos atuais, no que diz respeito ao que é público, desenvolvimento, economia e sociedade?
Pela ingerência com que o empresariado local atua nas decisões politicas e administrativas arrisco uma resposta: os atotes políticos atuais mais esclarecidos – aqueles que comandam de verdade – são liberais. E devem ter se encontrado no Fórum da Liberdade em Porto Alegre. São pessoas adeptas do estado mínimo. Mas quando seus negócios vão mal adoram uma ajuda financeira pública, bancos estatais, agências de fomento, isenções municipais entre outras amenidades. Tipo Eike Batista: toma dinheiro emprestado do BNDES e depois faz de conta que investe em empresas, mas na prática compra títulos públicos do estado brasileiro. Negócio da China pela diferença de juros!
O liberal, às vezes enrustido, é aquele que quando não esta no governo esbraveja dizendo que falta vontade política, que não se cumpre as leis, etc. No entanto, quando é governo esquece o que disse e faz o contrário. Aquela máxima do tempo em que o Brasil era Império é sempre atual: “nada mais conservador do que um liberal no poder”. Aliás, nossos liberais amam o poder, porém negam esse sentimento. Na sua mão, o poder lhes provoca orgasmos. Suspeito que nossos gestores atuais sofram dessa paixão, mas se travestem para não demonstrá-la. Ficam em cima do muro. Nesse caso leis não são interessantes a não ser para os outros. Para os outros o peso da lei. Para nós o poder. Os donos do poder.