segunda-feira, 26 de maio de 2014


Ideias e piadas

Eduardo Mattos Cardoso

eduardomattoscardoso@gmail.com



Está chegando a Copa. E a pergunta continua: Copa para quem? Sim, porque a grande maioria (esmagadora) da população brasileira vai ter que se contentar com o evento pela TV. Mas tem uma turma prometendo agitar com protestos para todos os lados. Salve-se quem puder.

Enquanto isso, as discussões, debates e pensamentos continuam. A capital esteve movimentada de ideias. Tivemos o retorno do Fronteiras do Pensamento. O tema da temporada é “Ideias para Reinventar o Mundo”. A primeira conferência do ano foi com o escritor britânico/indiano Salman Rushdie, autor de “Os versos Satânicos” que provocou a ira dos muçulmanos. Em 1989 o Aiatolá Ruhollah Khomeini ordenou a execução de Rushdie por ofensa a Maomé.

Outro evento interessante aconteceu em Porto Alegre: o Fórum Unimed, que reuniu jornalistas e convidados para tratar de “Futebol e Sociedade”. Entre estes, Roberto da Matta autor de “Carnavais, Malandros e Heróis” (livro já apresentado por este cronista), obra essencial para entender a nossa sociedade através do “sabe com quem está falando” e do inigualável “jeitinho brasileiro”.

Neste mesmo evento se apresentou o filósofo e sociólogo francês Giles Lipovetsky, autor de livros instigantes como “O Império do Efêmero”, “A Era do Vazio”, entre outros, onde aborda temas como o hiperindividualismo, a medicalização da sociedade, a moda e a globalização.

Sobre consumo e crise mundial, Lipovetsky é enfático; “não há uma recusa do consumo, mas comportamentos mais razoáveis para continuar consumindo,... pois se o carro perde importância, os tablets e os smartphones interessam cada vez mais”. Para as nações “emergentes” afirma que o consumo de distinção ainda existe em países como Brasil e China onde os novos ricos querem mostrar o que têm. “A ostentação é a característica dos novos ricos”, afirma o pensador.

Mas não vivemos só de ideias sérias. De vez em quando temos que descontrair. Nisso não precisamos ir longe. Na cidade que pode mais tem sempre uma piada nova. A última: prefeito atual já fala em reeleição! Rá! Mais uma pegadinha!? Deve ter se emocionado com o desabafo da vice ou conheceu o cachimbo da paz.

Crônica publicada no jornal Fato em Foco no dia 23 de maio de 2014

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Os tucanos abriram o bico

Eduardo Mattos Cardoso

eduardomattoscardoso@gmail.com


Pararam de adoçar os tucanos. Resultado: abriram o bico. E bota bico grande. Mas isso é assim mesmo. Os tucanos acreditaram, dizem eles, em contrato de boca. Logo com quem. Isso é o que dá confundir bico grande com asas. Os vôos vão ficando mais curtos. Falta de aviso não foi. Tem sempre alguém para acreditar na história da carochinha na terra dos “inhos”. Mas essa história foi turbinada. Levar rasteira do “poltrãozinho”? Quase fiquei comovido.

Os tucanos são pássaros exóticos. Querem ser diferentes. Quando se metem na política continuam pensando como se na fauna estivessem. Daí para a “selva política” é outra coisa. Desde antes do descobrimento de Três Cachoeiras - ocorrido, segundo o “jênio” e seus lunáticos seguidores, em 1º de janeiro de 2013 - os tucanos quiseram estabelecer um governo paralelo ao do então mandatário. Com o atual não foi diferente. A secretaria dos voadores era uma Prefeitura a parte. Eu desconhecia esse lado “bondoso” dos tucanos. Foi obra de “caridade” pra todo lado.

Agora, cá entre nós: não foi o chefe que cortou as asas dos tucanos. Nosso mandatário não tem vontade própria. Age como marionete para os “donos do poder”. Por isso, e pelas denúncias graves dos tucanos, quem sabe chegou a hora de nossos nobres vereadores de situação e oposição entrarem para a História e ouvirem o clamor das ruas! O recado da maior parte da população insatisfeita é claro: “Fora Quartinho”, se recolha ao seu aposento.

Diante da calamidade administrativa em que o munícipio vive a posição digna de um vereador deveria ser a de se posicionar em favor da destituição do mandato do atual prefeito. Mas também não acredito nisso. A maioria, se não todos, tem medo. Os “donos do poder” são onipresentes, quase virtuais, mas estão na volta o tempo todo.

É a saída que vejo para Três Cachoeiras sair da podridão política atual. Com uma lambança dessas, recheada de ilegalidades admitidas pelos tucanos o que resolve é a pressão popular sobre os vereadores. Fora isso, esperar pela lei pode demorar. Mas se a lei funcionar, Papuda pra “bicharada”.

Artigo publicado no jornal Fato em Foco do dia 16 de maio de 2014
Quem manda em Três Cachoeiras?

Eduardo Mattos Cardoso

eduardomattoscardoso@gmail.com



A pergunta é no sentido político. A resposta que tenho, infelizmente, não é nenhuma novidade: o dinheiro. Não é o povo que manda na cidade. Deveria ser. A maior parte da população só assisti. Paga pra ver. Ou melhor, recebe pra ver. Mas apenas uma vez a cada quatro anos.

Alguns atribuem o mando político atual ao prefeito. Eu nunca acreditei nisso. Primeiro porque como administrador é incompetente. Segundo: para ser eleito vendeu a alma. E toda alma que se vende paga um preço alto. E o pior deles é a ridicularização. Vale o retorno financeiro? O comedor de milho pensa nisso até hoje.

Dois projetos de lei propostos pelo Executivo municipal na última semana comprovam a força e o poder do supremo dinheiro. Um poderia ser chamado de “lei para o inventor da cidade”, perdoando-o por construção irregular. Nesse caso vale a pena ser amigo do chefe e ser financiador de sua campanha. É só uma pequena cobrança por uma pequena parcela da alma vendida. Questão de investimento.

O segundo projeto de lei poderia ser chamado de “lei para pseudo-dono da chave do cofre municipal”. O pseudo é aquele que acha que é alguma coisa mais não é. Está cheio desses e dessas por aí, principalmente na administração pública municipal.

A diferença é que a cada dia que passa fica mais escancarado e nojento. É óbvio que o Prefeito não manda nada. Tem medo de empresário, de contador, de advogado, de vice e de quem mais? Por isso não manda. Não tem autonomia e é manipulado constantemente, sabendo ou não.

É constrangedor ficar sabendo das manipulações do “senhor mouse”. Pela frente é um “poço de bondade”. Por trás faz a “caveira” do chefe e de outros. E vai armando das suas. É um mestre da encenação e falsidade. E como o Ministério Público e a justiça parecem ter esquecido de Três Cachoeiras, a farra segue solta. Até quando? Até se recuperar o investido e se der um pouco mais. Afinal, é questão de negócio. Apenas dinheiro.
Bananas e macacos: comemorar o quê?


Eduardo Mattos Cardoso

eduardomattoscardoso@gmail.com



Lendo o título você pode ter pensado: lá vem ele falar sobre racismo e futebol. Nada disso. Futebol serve para vereador incompetente fazer comentário idiota na segunda. Futebol é fanatismo. E fanatismo é patológico. Deve ser tratado. Com o que não sei. E o preconceito? É caso de polícia. E de outras faltas. Enredei para te prender a atenção. Vou falar é sobre a fábula dos macacos e das bananas. E de aniversário também. Alguém grita: seu “banana”. Muito obrigado. Não importa. Segue a fábula.

“Numa experiência científica, um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula. No meio, uma escada e, sobre ela, um cacho de bananas. Quando um macaco subia na escada para pegar as bananas, os cientistas jogavam um jato de água fria nos que estavam no chão. Depois de certo tempo, quando um macaco ia subir a escada, os outros o pegavam e batiam muito nele.

Mas um tempo depois, nenhum macaco subia mais a escada, apesar da tentação das bananas. Então os cientistas substituíram um dos macacos por um novo. A primeira atitude do novo morador foi subir a escada. Mas foi retirado pelos outros, que o surraram.

Depois de algumas surras, o novo integrante do grupo não mais subia a escada.

Um segundo foi substituído e o mesmo ocorreu – tendo o primeiro substituto participado com entusiasmo da surra ao novato.

Um terceiro foi trocado e o mesmo ocorreu. Um quarto e, afinal, o último dos veteranos foi substituído.

Os cientistas, então, ficaram com o grupo de cinco macacos que, mesmo nunca tendo tomado um banho frio, continuavam batendo naquele que tentasse pegar as bananas. Se fosse possível perguntar a algum deles por que eles batiam em quem tentasse subir a escada, com certeza a resposta seria:

- ‘Não sei, mas as coisas sempre foram assim por aqui”.

Três Cachoeiras emancipou-se politicamente de Torres. Estamos comemorando 26 anos. O que mudou? Será que a consciência e a participação política emanciparam-se também? Parece que apenas em parte. O que resta? Descascar e comer a banana.
Piauí de grife

Eduardo Mattos Cardoso

eduardomattoscardoso@gmail.com


No vasto universo da internet se encontra muita coisa boa. No comentário de uma notícia de um jornal eletrônico gaúcho encontrei uma definição interessante para o Rio Grande do Sul atual: Piauí de grife. Vale para cidades também.

O que não se abandona é o preconceito. Para muitos aqui do sul, nordeste do Brasil é sinônimo de atraso, de pessoas inferiores. É o mito de um estado “superior”, “mais politizado” e “mais desenvolvido”.

Deixando de lado o preconceito aparecem algumas verdades que as palavras e expressões da língua portuguesa permitem. Claro que o Piauí não é nenhuma maravilha. Mas a comparação é sempre importante e derruba mentiras e crenças.

Uma rápida comparação de salários em duas áreas fundamentais: educação e segurança. Um professor estadual no Piauí recebe como piso (nível médio) para 40 horas R$ 1.965,00. Para termos uma ideia o piso nacional do magistério é R$ 1.697,00 (valores em janeiro de 2014). No RS não se paga nem o piso nacional.

Os salários da área de segurança nos dois estados são uma disputa a parte. Disputa para baixo. De novo o RS ganha. Ou melhor, perde. O salário de um soldado da policia militar do Piauí é o penúltimo pior do país: R$ 1.926,00. E vergonhosamente um soldado da nossa valorosa Brigada Militar (Polícia Militar) é o mais baixo do Brasil: R$ 1.375,71 (dados de novembro de 2013).

Sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra. E as filhas solteiras também. Ah, não podemos esquecer as gordas pensões e aposentadorias, tudo dentro da lei. O princípio fundamental da legalidade por aqui é sempre lembrado: direito adquirido. Maravilhosa aberração da lei.

Assim vamos. Depois de Leonel Brizola - lá no início da década de 1960 - a “direitização” do RS campeou solta. Alceu Colares tentou retomar os projetos trabalhistas. Pouco conseguiu. Devo reconhecer o empenho e a honestidade de Olívio Dutra. Foi engolido por “forças ocultas”. Agora, assistimos quietos o retorno sorrateiro da direita. Para os saudosistas pelo menos ficamos com a grife.
Vida de gado

Eduardo Mattos Cardoso

eduardomattoscardoso@gmail.com



Na verdade hoje eu gostaria de falar sobre a páscoa, seu significado, simbologia, etc., fazer uma reflexão sobre o consumo desmedido relacionado a esta data e outras. Sobre como a voracidade do “mercado” vem roendo as tradições como um coelho rói uma cenoura.

Mas não consegui. Estou confuso. Até o coelho da páscoa está sendo usado por aqui. Aliás, quase tudo por aqui é usado para a politicagem. As pessoas me param na rua e desabafam - inclusive os parentes do seu Onzinho que anda viajando. Um desses disparou: “não aguento mais ver a cara desses aproveitadores, conversadores e falsos; aonde a gente vai, lá estão eles/as pesando o ambiente; não faltam a um evento social: é no futebol, na festa comunitária ou qualquer outra coisa que tenha ajuntamento de pessoas; chega ser nojento”.

Acolho o desabafo dessas pessoas. Pode ser o meu também. Tento encontrar alguma explicação. Aparecem muitas. Mas o politicamente correto não me autoriza a dizer aqui. Fico com o elementar: é que “se mancol” ou “se tocol” não são características fortes desses interesseiros. Nem podia ser.

Para essa gente parece que eleição não termina nunca. Estão em constante processo de busca de voto. É que o poder não lhes basta. Ainda resta o personalismo. Tem que sentar no trono para atingir o orgasmo. Mas é um prazer pessoal às avessas, que faz mal à maioria do povo, embora não percebam. Alguns gostam. É sadomasoquismo puro.

Penso nessas coisas porque sou lento. Minha ingenuidade não entende coisas complexas como a demissão de um secretário bom. Ora, se era bom, trabalhador e honesto, por que demitir? Ah! Respondem-me alguns mais ligeiros: “era bom para alguns”.

Enquanto meu cérebro não processa essas coisas eu vou cantando: “O povo foge da ignorância. Apesar de viver tão perto dela. Sonham com melhores tempos idos. Contemplam esta vida numa cela. Êh, oô, vida de gado. Povo marcado. Êh, povo feliz”, música do Zé Ramalho que vai se apresentar em Torres. Até que enfim música de verdade. Ainda bem que algum iluminado da nossa cidade mãe teve a coragem de bancar um artista descente na região.