domingo, 4 de janeiro de 2015


Premiação

Eduardo Mattos Cardoso
eduardomattoscardoso@gmail.com


Fim de ano é assim: confraternização, amigo secreto, Papai Noel e prêmios. No quesito premiação está faltando uma pompa maior para agraciar “autoridades” ou “personalidades” e órgãos ou organizações em Três Cachoeiras. Por isso, diante dessa falta, lanço minha contribuição para atribuirmos alguns títulos que não podem ser esquecidos neste ano que esta terminando.

A premiação é dividida em categorias. Afinal temos que inventar uma categoria para cada situação, pois corre-se o risco de alguma “personalidade” ficar de fora, pois não “fede nem cheira”, como diz a sabedoria popular.

Mas chega de rodeios. Vamos lá. Na categoria “Brincalhão do ano”, o prêmio “Sérgio Malandro” vai, indiscutivelmente, para Nosso Guia municipal, o “Perfeito Reizinho”. Não podia ser diferente, afinal suas pegadinhas constantes em relação à falta virtual de dinheiro com a sobra real são muito boas.

Na categoria “Esculhambador da política local e das sessões da Câmara Municipal”, o prêmio duplo “171” e “Jeitinho Brasileiro” vai - por aclamação - para o Vereador “Roedor”. É o reconhecimento mínimo pela sua contribuição “jeitosa” na “avacalhação” da política e das relações sociais locais.

A categoria “Mil e uma inutilidades” deveria ser revelada na última sessão da Câmara Municipal. O ganhador (a) dessa honraria abocanharia os prêmios “Bom Bril do Paraguai” e “Discurso bonito pra bajulador aplaudir”. Como a sessão foi tumultuada o prêmio ficou por ser revelado.

Nesse ano temos também a categoria “Turismo com Saúde sobre rodas”, antiga “Ambulânciaterapia”. O prêmio “Agência de Viajem” foi conferido, por unanimidade, para a Secretaria Municipal de Saúde, principalmente pelos “amigos”, afinal, para amigos sempre se dá um “jeitinho”.

A categoria “Melhor Equipe Diretiva de Escola Municipal”, que levaria o prêmio “Perfeição”, não teve ganhadora porque as concorrentes à distinção não entenderam o regulamento.

Já a categoria “O que é serviço público” não teve nem concorrente. O prêmio “Obrigação não é Favor” foi recusado por alguns servidores públicos que dizem não se enquadrarem na categoria “servidor”, mas sim na categoria “fazedor de favor”.

Ano que vem tem mais.

Crônica publicada no jornal Fato em Foco do dia 24 de dezembro de 2014

Formatura

Eduardo Mattos Cardoso
eduardomattoscardoso@gmail.com


Nesta sexta-feira ocorre a formatura do Ensino Médio do Instituto Estadual de Educação Maria Angelina Maggi de Três Cachoeiras. Aparentemente é mais uma formatura de fim de ano como tantas outras que acontecem e aconteceram. Mas esta tem uma diferença: são as primeiras turmas a concluírem os três anos do Ensino Médio Politécnico, novo curso de Ensino Médio que começou a partir do ano de 2012 nas escolas estaduais do RS.

Nesses três anos de experiência muitas coisas aprendemos. Embora romper com o tradicional e o “sempre foi assim” não seja tarefa muito fácil, uma semente foi plantada. É claro que não é um projeto acabado, tampouco seja perfeito. É uma proposta diferente que pode e deve ser lapidada para transformarmos a educação cada vez mais em direito, inclusão e igualdade.

É uma tentativa de mudarmos a realidade a partir de uma visão diferente de mundo e consequentemente de educação. Para a educação tenta resgatar a concepção de que crianças e adolescentes não são apenas números, são seres humanos em formação escolar e por isso devem ser tratados como tal e não como coisas.

Como professor e humanista faço parte dessa caminhada. E me sinto muito a vontade para defender ou criticar este ou aquele método/modelo educacional. De fato temos que aprimorar algumas coisas, mas temos que mudar.

Se queremos um estado/nação mais justo temos que nos desafiar. E o desafio começa em se dar conta que tem alguma coisa errada em nosso país. Não é possível um país com tamanha riqueza como o Brasil ter tanta desigualdade e negação de direitos essenciais à dignidade de seu povo.

Espero que esta visão seja de estado e não de governo. Alguns professores, pais ou alunos parecem desejar que, com a posse do novo governador, o modelo educacional volte como era antes. Por um mundo de mais igualdade e dignidade e de menos injustiça e discriminação, que a mudança continue.

Crônica publicada no jornal Fato em Foco do dia 19 de dezembro de 2014

Um jeito “jenioso” de governar

Eduardo Mattos Cardoso
eduardomattoscardoso@gmail.com


Do saco de histórias de Papai Noel. Era o ano de 2012. Nosso futuro Guia municipal encontrou uma Lâmpada de Gênio num escritório qualquer. Passou a mão e, sem querer, o Gênio apareceu. Era um Gênio tradicional com “G”. O Gênio lhe disse: tu tens direito a três pedidos. Nosso Guia nem um pouco surpreso lascou: “Que pedido o quê seu Gênio, aqui é eu que vou mandar e Gênio por aqui é com “J” mesmo”.

Até que o PTB se esforçou para se manter na coligação “Jeniosa”. Não conseguiu ultrapassar a metade do percurso. A princípio, por um simples motivo: nosso Guia municipal e seu partido parecem não ser confiáveis. Humm! Dizem que confiança só se tem uma vez. Vai confiar nessa teoria!?

Chegamos ao fim do segundo ano de mandato. Agora com um tempero a mais. Com a mudança de lado do PTB é para termos oposição ao jeito “jenioso” de governar. Como as ideias mirabolantes e “jeniosas” de Nosso Guia continuam, a gritaria de seus defensores começou.

A tática agora é jogar para cima da oposição a não realização de alguma coisa. Perguntar não ofende: o que é que foi realizado de novo e útil mesmo em dois anos? O que está acontecendo é uma velha prática do partido no poder. Segurar o dinheiro nos primeiros anos para gastar livremente em tempos e espaços mais perto da próxima eleição.

No início do mandato veio aquela pegadinha de não ter dinheiro, choradeira e prefeitura quebrada com reajuste de 44% para secretários. Entre outras, nesses dois anos, muitas malandragens ocorreram. No campo da malandragem até entendo. Afinal, “malandro é malandro, mané é mané”, já dizia a música, e tem gente que sente prazer em fazer os outros de trouxa.

Acontece que Nosso Guia não desiste de empulhar a turma. A má qualidade nos serviços públicos municipais se aprofunda. Enquanto isso, só nesse ano o prefeito vai “economizar” mais de R$ 1.000.000,00 (Um milhão de Reais). E ainda quer pegar mais um empréstimo para pagar promessa de campanha. Mais um fim de ano “jenioso”.

Crônica publicada no jornal Fato em Foco do dia 12 de dezembro de 2014

A função do “não dito”

Eduardo Mattos Cardoso
eduardomattoscardoso@gmail.com


Querem me tirar “da zona de conforto”. Até entendo, mas não vou sair. Lembrei-me de Bourdieu e Pollak. Pensei: - será que o que está em debate é mais para “Coisas ditas”, livro do Sociólogo francês Pierre Bourdieu que, entre outras coisas, mostra como vários setores (político, religioso, médico, comercial, entre outros) falam em nome do “povo”.

Pensei de novo. Não! Está mais para o “não dito”! Aí me veio as palavras do Historiador Michel Pollak, em “Memória, Esquecimento, Silêncio”. A função do “não-dito” aparece, em primeiro lugar, como o levante de uma memória subterrânea favorecida pela crise de sustentação do insustentável; em segundo, o consentimento ou o silêncio dos que pensam diferente, por opressão ou interesse em uma oportunidade possível, tentando, em nome do bem comum, restabelecer o que considera ser a verdade e a justiça.

Segundo Pollak, “as lembranças proibidas, indizíveis ou vergonhosas são zelosamente guardadas na informalidade e passam despercebidas pela sociedade. É aí que intervém, com todo o poder, o discurso interior, o compromisso do “não-dito” entre aquilo que o sujeito se confessa a si mesmo e aquilo que ele pode transmitir ao exterior.”

A fronteira entre o dizível e o indizível, o confessável e o inconfessável, separa uma memória coletiva subterrânea da sociedade em geral dominada por grupos específicos. E a memória de grupos tem problemas de credibilidade, de aceitação e também de sua organização. A memória de grupos se integra em tentativas mais ou menos conscientes de definir e de reforçar sentimentos de pertencimento e fronteiras sociais entre coletividades de tamanhos diferentes: partidos, sindicatos, igrejas, famílias, etc.

Manter a coesão interna e defender as fronteiras daquilo que um grupo tem interesse em comum, aonde se inclui o espaço social, são algumas das funções essenciais da memória seletiva, ou seja, quando é conveniente se esquece do passado. O silêncio, além da acomodação ao meio social, poderia representar também uma recusa a experiências reais doloridas. Superação ou conveniência? Eis a questão!

Crônica publicada no jornal Fato em Foco do dia 05 de dezembro de 2014

Crítica e política

Eduardo Mattos Cardoso
eduardomattoscardoso@gmail.com


Fazer crítica na nossa cidade é entrar num campo minado. Ainda mais quando algumas pessoas – ou categoria – confundem debate de ideias com interesse pessoal, partidário ou de classe. E o que é pior, distorcem opiniões. Semana passada fiz críticas a grupo partidário travestido de docente que atrasa a educação. Quem sabe ler deve ter percebido que foi uma crítica dirigida a um grupo específico e não generalista. Ao professor (a) que numa primeira leitura entendeu que me referi a todos faço duas sugestões: leia de novo ou volte a estudar a língua portuguesa.

Isso deve ter ocorrido com a nossa única Professora/Vereadora. Seu “desabafo” não foi de classe. Foi do grupo partidário travestido de docente que representa e defende. E isso pode ser legítimo. O que não pode é distorcer opinião. Isso sim é de uma infelicidade muito grande com odor de má fé. Porque corporativismo de grupos geralmente acaba em interesse particular.

Aí temos um entrave brutal para a melhoria do nosso país. Sabemos que o Brasil precisa de reformas em diversas áreas. Pergunta-se: tu achas que políticos com interesses particulares vão fazer reforma política? Tu achas que médicos com conselhos corporativos vão fazer reforma de saúde? Tu achas que advogados com sua OAB vão fazer reforma do judiciário? E tu achas que professor com miopia social vai fazer reforma educacional?

Esses desvios de interesse podem indicar o que está se vendo no cenário político municipal. O prefeito atual do PP queria ganhar a última eleição a qualquer custo. Fez coligações com PSDB e PTB prometendo secretarias e cargos. Ao assumir cumpriu. Mas antes da metade do mandato não se conteve e “roeu na corda”. Até parece que tem a ajuda de um roedor!

Evidente que muitos interesses particulares estão em jogo. Infelizmente o interesse público fica por último. A atitude do prefeito de não cumprir com o que prometeu, segundo o PTB, não deveria ser nenhuma novidade porque apenas representa um tipo de política que já deveria ser conhecida.

Crônica publicada no jornal Fato em Foco do dia 28 de novembro de 2014