quinta-feira, 23 de janeiro de 2014


Tempo de visitas 

Eduardo Mattos Cardoso

Professor Mestre em História - eduardomattoscardoso@gmail.com


Fim e início de ano é tempo de festa, férias, viagens e de receber visitas.

Isso mesmo: visitas.

É uma satisfação muito grande receber velhos e novos amigos. E também os parentes.

Nesse mundo globalizado e com gente morando em tudo quanto é canto do mundo, até parente que mora no exterior apareceu.

O mundo está mudado!

Mas esse assunto, o de visita, nem sempre foi assim muito tranquilo. Tem História, processo, mudança, evolução e inflexão.

Lá pelas décadas de 1960 e 1970 era diferente. Era tempo de família grande. Nem todos ficavam no interior. Alguns rumavam para capital Porto Alegre em busca de melhores condições de vida. E lá formavam suas famílias.

Em época de férias debandavam com a família inteira para visitar os parentes do interior. A criançada tomava conta. Era tempo difícil financeiramente. Não tinha aposentadoria e nem mercado na esquina. Uma ou outra família trazia mantimentos para a temporada. Outras não.

O tempo passou.

Pelos idos da década de 1980 e início dos 90 o tipo de visita mudou. Era meu tempo de criança. As visitas de parentes eram mais escassas. Volta e meia tios, tias, primos ou primas apareciam. Detestava quando certos parentes apareciam. Coisa de criança. Eram daqueles que pegavam as crianças pelo rosto e quase nos levantavam dizendo: - Tá bonitinho esse guri!

Além disso, a parentada vinha para o interior se exibir. Mostrar seus carros, suas roupas e suas conversas fiadas, tentando aparecer.

Foi nesse período que conheci o tal do laquê que as mulheres usavam no cabelo. O produto funcionava tão bem que mesmo depois de dormir uma noite acordavam com o penteado intacto. Coisas da modernidade e da cidade naqueles anos. 

Duas décadas adiante.

Hoje está muito diferente.

Visitas de parentes são raras. Às vezes nos perguntamos se esqueceram de nós. Até os de perto não aparecem.

O que será que está acontecendo? Muitos compromissos, muitas festas, muitas viagens, muito trabalho, enfim, o tempo da pós-modernidade modificou e continua modificando profundamente a vida e consequentemente as relações humanas.

Ainda bem que os amigos não se esquecem da gente e nos visitam.

São agradáveis momentos para botar a conversa em dia e não cair na armadilha do consumo desenfreado de coisas, lugares e achismos.

Os visitantes são outros.

Fico feliz em poder passar com vocês esses momentos.

Artigo publicado no Jornal Fato em Foco do dia 17 de janeiro de 2014.