domingo, 30 de março de 2014


Para não esquecer

Eduardo Mattos Cardoso

Professor Mestre em História - eduardomattoscardoso@gmail.com


A data “oficial” do golpe de 1964 no Brasil estabelecida pelos golpistas é 31 de março. Leonel Brizola afirmava que foi 1º de abril. Pegaria mal. Os golpistas logo se apressaram para mentir que não foi no dia da mentira. Ou será dos bobos? Enfim, o golpe foi dado e temos seus reflexos até hoje. E pelo andar de algumas ideias vai longe.

Sempre é interessante relembrar alguns acontecimentos relacionados à ditadura e a política partidária. É um exercício elementar para podermos entender por que algumas “coisas” persistem ou não mudam em nosso país, estado e município. Não é tarefa muito difícil, embora alguns tentem dizer que deve ser esquecido. Muito pelo contrário, deve ser sempre lembrado e está mais vivo do que se pensa.

Até a ditadura escancarada, a existência de partidos era livre. À época do golpe de 1964 havia uma polarização entre o PTB do presidente João Goulart (o PTB original, não este fajuto de hoje que “surrupiou” a sigla dos verdadeiros trabalhistas) e a UDN (União Democrática Nacional) que abrigava os reacionários e conservadores.

Com o golpe e o AI-2 (ato institucional nº 2) foi forçado o bipartidarismo. Partidos históricos foram colocados na clandestinidade. Daí resultou o MDB (Movimento Democrático Brasileiro) que teoricamente era oposição, e a ARENA (Aliança Renovadora Nacional) que abrigou a maior parte da UDN, portanto os sustentadores da Ditadura.

Com a abertura política dos anos oitenta, velhos e novos partidos vieram à cena. Da ARENA surgiu o PDS. Depois, mudou de PDS para PPB. Em seguida foi de PPB para PP. Só para lembrar, partidários da ARENA denunciavam “opositores” por aqui também. Tivemos alguns casos, quando Três Cachoeiras ainda pertencia à Torres, de pessoas que foram presas por pensar diferente. Descendentes desses “entregadores” são figuras atuais da nossa política local.

Por isso uma definição da UDN deve ser lembrada: “não se pode aceitar a UDN como um simples partido... a UDN deve ser encarada principalmente como estado de espírito. Todo vendilhão da pátria falando em patriotismo; todo desonesto falando em honestidade; todo amoral falando em moralidade...; enfim, todo aquele que fala exatamente o contrário daquilo que está sentindo ou fazendo está devidamente possuído do espírito udenista...; quando um udenista de boa estirpe falar em democracia, prepare seu lombo para apanhar. Se falar muito em honestidade, trate de abotoar seus bolsos”. Qualquer semelhança com alguma figura política local e atual não é mera coincidência.


Publicado no jornal Fato em Foco do dia 21 de março.

Os golpes continuam

Eduardo Mattos Cardoso

Professor Mestre em História - eduardomattoscardoso@gmail.com



Nos próximos dias se completam 50 anos do golpe militar de 1964 no Brasil. Ainda pagamos caro por isso. E pagaremos por longo tempo. Isso só pra falar no atraso educacional. Especificamente na educação pública da maioria o caos e o faz de conta são permanentes. Não por pura falta de recursos. Mas por falta de mentes. Ouve-se ainda de professores asneiras em defesa da ditadura. Se tivessem um familiar preso, torturado ou desaparecido até hoje simplesmente por pensar diferente, sua postura diante de um dos mais obscuros períodos da História brasileira seria outra.

Mas não lutamos apenas para nos recuperar desse golpe. Infelizmente somos golpeados a todo o momento, seja pelo que é privado ou público. Em todas as instâncias e graus. Nossa democracia é fraca e travestida. Por isso os golpes continuam. E o pior, estão em todos os lugares. Segue o aprendizado que parece eterno.

Não é necessário nenhum preparo especial para “sentir cheiro” de golpe. É claro, os golpistas se valem, em parte, da inocência e despreparo de uma parte considerável da população. E de outra parte muito grande e maleável que se vende fácil por ideias idiotas. A imbecilidade humana é capaz de muitas coisas. E o interesse pessoal também.

Pagaremos caro também em nossa cidade pelo golpe que estamos sofrendo. A curto e a longo prazo. O dia a dia está aí. As pessoas estão sentindo na pele, mas parece que não estão se dando conta da maldade a sua volta. Nunca foi tão cristalina a divisão entre esquerda e direita. E quem são as pessoas que as representam? A esquerda representa o progresso, a igualdade e o social. A direita, ao contrário, representa o atraso, a desigualdade e o privado.

Nosso guia municipal “pensa” que manda. É o supremo prazer. Por isso atitudes como o corte do transporte de alunos. Para que estudar. Eu só aprendi a multiplicar e sou prefeito. Faça um “teste”! E para inflar meu ego digo não quando quiser. Seus apoiadores na sua frente dizem uma coisa. Mas por trás..., ficam confabulando e lhe passando a perna. Mas no momento oportuno se abraçam de novo. Hipócritas, incompetentes e golpistas. É a estampa de nossos donos do poder. Quatro anos de golpe. Mais quatro anos perdidos em nossa História. Uma mancha difícil de limpar. Que venha o próximo.


Publicado no jornal Fato em Foco no dia 21 de março.

quinta-feira, 20 de março de 2014


Concerto na ponte

Eduardo Mattos Cardoso

Professor Mestre em História - eduardomattoscardoso@gmail.com



Parte da população trescachoeirense está muito feliz. O pessoal das comunidades de Rio do Terra e Lajeadinho, especialmente, estão muito contentes. Dar uma volta pela Raposa saindo pelo Santo Anjo, com estrada de chão, é uma beleza. Assim estão podendo observar o Município por outro ângulo. Além do quê, a gasolina deve estar muito barata.

Mas esse problema da ponte poderia ser resolvido com mais rapidez se nosso prefeito, junto com seus vereadores que só conversam, tivessem vontade e habilidade política. Cada situação diferente que o munícipio enfrenta é mais uma montra da incapacidade de nosso gestor e legisladores de situação. É uma pena. Três Cachoeiras só perde.

Já são dois meses de interrupção da ponte. E o prefeito viajando. Ao que parece, em outro planeta. Mas a viajem mais longa e poeirenta que o pessoal está se submetendo é real. Não vão esquecer. Além do mais, para quê existe prefeitura se não é para ser uma ligação mais próxima da população com o que é público? Num problema desses as pessoas não vão atrás do DAER ou do Governador. Quem tem que fazer isso é o prefeito. Mas, nem isso consegue.

Pelo menos, com esse episódio, a prefeitura vai começar a valorizar mais a cultura. É o que se deduz do ofício que o prefeito enviou ao DAER. É meio enrolado, mas quase no fim deixa bem claro. Diz assim: “Quando o DAER vier fazer o CONCERTO, o município retira o material”. Já que a ponte não está sendo usada mesmo, é uma ótima ideia fazer naquele local uma apresentação musical.

No entanto, confesso que fiquei intrigado. Esse tipo de pedido - de CONCERTO - deveria ser dirigido provavelmente à OSPA (Orquestra Sinfônica de Porto Alegre) e não ao DAER. Mero equívoco que deve ser corrigido. Não tira o mérito da iniciativa que deve ser levada adiante, e conta com meu apoio. Afinal, somos carentes de cultura. Não dá para ficar só com o mau gosto e “chinelagem” de algumas apresentações de festa do caminhoneiro. Essas “emburrecem” a população.

“CONCERTO NA PONTE”! Tô dentro. Apoio. Parabéns prefeito. Depois não diga que nunca lhe elogio. E vou além: deve ser criada uma Secretaria de Cultura e nomeado(a) para o cargo quem redigiu o ofício.

terça-feira, 11 de março de 2014


Sempre foi assim

Eduardo Mattos Cardoso

Professor Mestre em História - eduardomattoscardoso@gmail.com


Hoje vou falar sobre educação. Com educação, embora certas horas dê vontade de não usá-la, não por capricho ou vulgaridade, mas para ver se alguma pessoa que trabalha com educação escolar “saia do armário”. Mas não saem, ficam até virarem esqueletos que só largam o osso para agarrar outro.

Digo isso em relação às escolas públicas estaduais e muitas municipais que não se ajeitam e vivem em quase permanente atraso. O investimento é fundamental. Dados extraoficiais dão conta de que o “gasto” público com um aluno de escola estadual e municipal pouco passa de R$ 2.000,00 por ano. Para se ter uma ideia, um aluno de IF (Instituto Federal) como o de Santa Rosa do Sul-SC, por exemplo, “custa” mais de R$ 12.000,00 por ano. E nos colégios militares, que são públicos também, o “custo aluno” se eleva a mais de R$ 14.000,00 por ano (dados de 2013).

Uma pergunta pontual que não quer calar. Por que uma quantidade cada vez maior de pais faz força para seus filhos estudarem no IFC de Santa Rosa do Sul/Sombrio, no nível médio, se em Três Cachoeiras temos escola estadual com esse nível e dizem que é de boa qualidade? Ah! Seria porque no IFC é um curso técnico. Conversa. A grande maioria não atua como técnico depois de formado.

É claro que educação não é feita só com dinheiro. Mas esse é fundamental para qualidade na educação. Não tem milagre. Junto vêm competência e vontade política para às coisas acontecerem. O resto é maquiagem. É novela.

Além disso tudo, temos outros desafios em matéria educacional. Ainda sobre o nível médio: o IF é publico, para todos. Mas tem seleção. É piada pronta. Teoricamente se peneira os melhores. Para a escola estadual de Três Cachoeiras que oferece esse nível a regra é clara: inclusão sem dinheiro. Mais com menos, doação...

Mas tem outras coisas que me intrigam. Quando servi à FAB (Força Aérea Brasileira) tinha um tenente que era prático. Quando questionávamos uma ordem absurda ele encerrava assim: - As coisas são por que são! Coisas de quartel! O mais incrível é que expressões do gênero continuam por aí, e mais incrível ainda, a educação está cheia. Nessa volta às aulas, questionei uma situação. A resposta foi taxativa: - Sempre foi assim!

Crônica publicada no jornal Fato em Foco do dia 07 de março de 2014.

segunda-feira, 3 de março de 2014


Quase um retiro

Eduardo Mattos Cardoso

Professor Mestre em História - eduardomattoscardoso@gmail.com



Algum estimado leitor(a) pode ter ficado preocupado por esses dias. Sentiram minha falta. Outros já apontaram para a teoria da conspiração. Os mais excitados falavam em intriga da oposição.

- Conseguiram tirar o cara do ar!

Calma! Nada disso. Estou de volta. Foi só um período de descanso. Merecido, porque todos merecem. Mais do que um direito, férias é uma necessidade que deveria ser gozada por todo mundo. É um momento de descanso e reflexão.

Neste retorno, ao encontrar amigos e colegas, as novidades são postas em dia. Cada um tem uma história para contar. Principalmente quem viajou. Felizmente viajar está mais acessível. E o mais interessante disso é que as pessoas podem fazer comparações com nossas cidades, estado e país de origem. Nessas comparações, às vezes, da vontade de se mudar. Mas logo passa.

Aqueles que viajaram para o exterior preferencialmente rumaram para o Velho Mundo - Europa. Logo lhes indaguei porque não escolheram algum destino da moda tipo Miami, Orlando, Disney. Responderam que esse tipo de destino é fútil e serve para os deslumbrados que gostam de aparecer.

Outros escolheram destinos nacionais. Os mais preferidos foram os roteiros pelo nordeste brasileiro. A primeira impressão sobre o nordeste, contou-me um amigo, é que parece outro país. De fato, vivemos em um país continental onde a diversidade cultural é imensa. Talvez por isso nos surpreendamos tanto quando vamos à outra região do nosso Brasil.

No entanto, o que predomina na nossa cidade é o deslocamento sazonal de uma considerável parte da população para o Litoral marítimo. Entre outras, destaco as Praias Itapeva (praia da elite trescachoeirense, ou daqueles que se acham elite pelo fato de terem dinheiro), Recreio, Weber e Arroio Seco. É a sociabilidade do verão, na praia.

Eu, como reles mortal, também dei a minha viajada por alguns dias. Viajei nas leituras, nas leis e lugares. Naqueles dias de calor intenso quando lia um livro de frente para a Lagoa Itapeva pensava sobre a mesma. E de como damos, atualmente, as costas para essa beleza natural regada de rios cristalinos com suas cachoeiras que descem da encosta da serra. Por isso, longe do agito e próximo da natureza, esse período de descanso foi quase um retiro.

Publicado no jornal Fato em Foco do dia 28 de fevereiro de 2014