sexta-feira, 28 de novembro de 2014


Escola em movimento

Eduardo Mattos Cardoso
eduardomattoscardoso@gmail.com


Alguns saudosistas que deseducam netos atualmente acham que a escola de hoje tinha que ser como era no tempo da ditadura. Ainda bem que a instituição escola não para no tempo. O tempo em história é processo. Não é estático. E a vida também não. Pelo menos penso que não deve ser. Estou falando disso porque estava refletindo sobre o desabafo que uma professora fez na semana passada no espaço do Erê dos Santos. Aliás, preciso conhecer esse cronista/colunista. Penso como você Erê, que esse espaço privilegiado também pode servir para o desabafo.

A professora se referiu à Escola Municipal Felipe Schaeffer, relatando o descaso, o abandono e a preferência pela “pompa” da festa bonita dos 25 anos. Convém lembrar o caro leitor que, longe de ser o ideal, os professores municipais de Três Cachoeiras são melhor remunerados que os profissionais da rede estadual. Isso, por si só, não significa qualidade. Além disso, é preciso clareza política (não confundir com miopia partidária), moral e ética, além de outros ingredientes indispensáveis para o todo da escola. Agora, cá entre nós, mandatário semianalfabeto ou analfabeto funcional escolhendo professor alfabetizador e equipe diretiva tem como dar certo? Pergunta difícil?

É preciso ressalvar que as circunstâncias relatadas devem ser relativizadas. Parece evidente que não se trata de generalização aos profissionais da referida escola e rede, mas sim de atitudes e prioridades do grupo que a dirige. Isso indica oportunismo partidário recheado com incompetência.

Enquanto isso, com muito menos dinheiro e pessoal, escolas estaduais seguem enfrentando a estagnação e a incompetência. Duas, em particular, acompanho de perto. E estão em movimento. A Escola Estadual Baréa não descansa nunca. Essa semana fez mais uma SCA – Semana de Conscientização Ambiental, desta vez com o enfoque na água. Não poderia destacar um nome. Há muito os profissionais desta escola já passaram de grupo à equipe. Outro exemplo é o Instituto Estadual Angelina Maggi. Entre outras atividades extraclasse, destaco a recente visita a campo que fizemos à região das Missões. Neste caso parabenizo a competência do grupo que organizou esta visita, em especial a dedicação da Profª. Patrícia Lumertz.

Crônica publicada no jornal Fato em Foco do dia 21 de novembro de 2014

Segundo ano à direita
Eduardo Mattos Cardoso
eduardomattoscardoso@gmail.com


Enquanto o espírito golpista da direita vai perdendo folego, a vida segue. Falar em Comunismo em um país onde se incentiva cada vez mais o consumo desenfreado é coisa de mal informado ou de má fé mesmo. Nosso povo é diferente mesmo. Reelege candidata a presidenta que aumenta tudo, até a qualidade de vida. Esse Brasil não toma jeito.

Aqui nos pampas, os jornais da capital já preparam manchetes para a primeira semana de janeiro de 2015. Primeiras palavras do governador “Gringo” empossado: “O estado está quebrado”. Baita novidade. Até minha cadela sabe. No sul nos achamos mais diferentes ainda. Gabamos-nos de não votar com a barriga. Votamos para derrubar alguém. Inteligência pura. Viva o gauchismo.

No estado e no país tudo começa ou recomeça politicamente no ano novo. Os municípios estão fechando dois anos do mandato atual. Se a tal da reforma política acontecesse talvez fosse melhor. Entre as propostas está o fim da reeleição, mandato de cinco anos e unificação dos pleitos, ou seja, todas as eleições em uma só data. Os poleiros diminuiriam.

Será que as primeiras medidas de um governante indicam o tipo de governo que vai fazer? Começar progressista e assim continuar; ou começar medíocre ou terminar pior? Nossa realidade municipal não é muito animadora.

O “Gringo” deve começar dizendo o mesmo que nosso “Jênio” disse no início do seu governo: “Tá tudo quebrado, não tem dinheiro pra nada”. Mas será que o futuro governador vai gozar da nossa cara como fez nosso prefeito? Para refrescar a memória: quando Quartinho assumiu o poder em 2013 fez uma choradeira patética sobre a situação financeira da prefeitura. Muitos engoliram e choraram junto. Um mês depois num “canetaço” aumentou o salário dos secretários em apenas 44%, entre outras farras.

O segundo ano de mandato de nosso “Jênio” esta fechando. Uma maravilha. Obras concluídas e bem feitas. Atendimento de saúde próprio a qualquer hora. Funcionários públicos com aquele atendimento cordial e imparcial. O município está se endireitando. Para a direita.


Crônica publicada no jornal Fato em Foco do dia 14 de novembro de 2014

O golpe, o partido e o boi voador
Eduardo Mattos Cardoso
eduardomattoscardoso@gmail.com



Fiquei interessado nesse novo partido que apareceu na eleição do Rio Grande do Sul. Partido do Rio Grande. Nome bonito. Braços abertos, pensei: dever ser coisa boa. Decidi me filiar. Vou atrás, não encontro nenhum correligionário. Pergunto no TRE: não existe. Como assim não existe? Estava na propaganda direitinho; o candidato repetia o tempo todo “Meu partido é o Rio Grande”. Imaginei até a sigla: PRG. Acordei!

O RS é um estado realmente de façanhas. Elegeu um governador sem partido. Pelo menos é o que as propagandas mostravam. Na real não é bem assim. O candidato para ser eleito arrebanhou, entre coligação e apoio no segundo turno, “apenas” 19 partidos.

A presidenta reeleita não fica longe desse número de partidos coligados, onde PMDB, PP e PDT nacionais são apoios de carteirinha. Mas por que “os donos do poder”, com uma “mãozinha” da mídia golpista, não gostam do PT? Globo, Veja, Folha de São Paulo e Cia. Ltda. não desistem nunca. Detestam democracia. Quando o assunto é corrupção, só vale a de hoje, a de ontem não.

Relendo sobre a ocupação holandesa do litoral nordestino brasileiro no séc. XVII, principalmente na Pernambuco atual, lembrei-me do “Gringo” – e de seus braços abertos – e da presidenta. Nessa região brasileira é comum ouvir pessoas dizerem “isso é coisa de boi voador” quando querem se referir a falsas promessas políticas ou algum engodo, e remonta o tempo em que o holandês Maurício de Nassau governou Recife e inaugurou uma ponte.

No caso do “Gringo” talvez só o partido seja voador. Quanto às promessas, nem boi não tem. Mas para o bem do Brasil e da maioria dos brasileiros é bom que a presidenta derrube o boi e faça as reformas necessárias. Entre outras, a educacional, a política, a dos meios de comunicação e a do judiciário/justiça que quase sempre é esquecida dos debates. Com o sistema judiciário que o Brasil tem, golpe é sempre uma possibilidade.

Crônica publicada no Jornal Fato em Foco do dia 7 de novembro de 2014

terça-feira, 4 de novembro de 2014


Café de domingoEduardo Mattos Cardoso
eduardomattoscardoso@gmail.com.com


No próximo domingo votaremos e acompanharemos o resultado da eleição. É o futuro do estado e o do país que esta em jogo. São as nossas escolhas que farão a diferença. E fazem muita diferença.

Domingo também é dia de visitar os parentes. De tarde geralmente tem aquele cafezinho. Nos últimos domingos de segundo turno os cafés têm se estendido mais. A grande mídia prega a “demonização” da politica através da “idiotização”. Mas no fundo as pessoas querem conversar, trocar ideias e debater política.

Num desses domingos estava reunido e conversando sobre assuntos variados, desde moral, honestidade, dupla personalidade e política. Chamou-me a atenção a opinião predominante de que dupla personalidade é “normal”. Exemplo: não importa se fulano/a comprou e compra votos em eleição se executa seu trabalho corretamente!

Respirei fundo. Moral e honestidade são qualidades únicas. Ou se tem, ou se não tem. Mas na lógica da “normalização” pode ser assim: de manhã honesto; à tarde corrupto. Será possível? Não concordo. Não existe cidadão meio honesto. Ou é ou não é.

Esse assunto veio à tona por que, tanto o candidato ao governo do estado quanto o candidato à presidência da república que se dizem a opção pela mudança, evitam falar do seu passado político. Eis um mal dá falta de educação em casa e de ensino escolar, principalmente na disciplina de História: não conhecer o passado e muito menos se importar com isso.

É claro que o ditado “não somos perfeitos” é válido, e que podemos nos arrepender de erros que cometemos. Mas para isso temos que agir diferente do erro. Não continuar errando. Neste caso, outro ditado popular adaptado é válido: “errar é humano, mas voltar ao erro é burrice”.

Pensar nisso nos ajuda a tomar decisões com mais certeza. Por que disso depende o dia de amanhã. Não tem dupla personalidade. Tem quatro anos de busca da dignidade ou a perda dela.

Crônica publicado no jornal Fato em Foco do dia 24 de outubro de 2014

Para o GringoEduardo Mattos Cardoso
eduardomattoscardoso@gmail.com


“Prezado Gringo. A campanha tá boa por aqui. Em Três Cachoeiras estamos abraçados com o PMDB. Pode olhar as fotinhos nas redes sociais. Pra acabar com essa “petezada” fazemos qualquer negócio. Na eleição municipal a gente faz de conta que é adversário. É sempre assim. Depois a gente se junta. O povo tem memória curta mesmo.

Aquele tempo que tu passou descansando olhando para o Mampituba lá do alto te ajudou bastante. Quando apareceu aquela fotinho num jornal, e tu dizia que não queria saber mais de nada depois do longo tempo em Caxias, eu entendi a mensagem. Por aqui me chamam de “tanso”. Podem me chamar do que quiser. O importante é ganhar eleição.

Eu sei que tu é “macaco velho” na coisa. Mas essa de “meu partido é o rio grande” tá muito bom. O povo gosta mesmo de ser empulhado. Veja o que eu inventei por aqui na última eleição: “Primeiro as pessoas” e “Três Cachoeiras pode mais”. Adoraram e compraram, ou melhor, comprei. O povo gosta é de frase vazia.

No mais continua assim. Tá do jeito que a gente gosta. Vamos botar a “petezada” pra correr. Mas te prepara que até dia 26 o sem bigode vai vir com tudo. Mas a tua estratégia tá boa. Primeiro fugir do debate no primeiro turno. Fez como eu fiz por aqui. O povo adora covarde. Quanto mais covarde melhor. Agora no segundo turno vai a um ou outro debate, principalmente o da Rede Baita Sol, mas enrola como tu vem fazendo. Deve ser normal isso. Mas não importa.

De resto, quando o sem bigode relembrar o tempo do Simon, do Brito e do Rigotto e vir com essa história de comparação, te faz de loco como sempre. O povo não lembra mesmo daquele rolo do falecido Lindomar, irmão do Rigotto, no tempo do Simon. E nem do tempo em que o Brito com a nossa ajuda vendeu quase tudo o que era do estado. Segue enrolando. Atenciosamente, Reizinho Poltrão.”

Crônica publicada no jornal Fato em Foco do dia 17 de outubro do 2014

sábado, 11 de outubro de 2014


Resultado do jogo
Eduardo Mattos Cardoso
eduardomattoscardoso@gmail.com


Muitos comparam eleição com jogo. E em jogo tem disputa. Um ganha e um perde. Assim como no futebol, muitas vezes não ganha o melhor. Por isso não é assunto sério do ponto de vista do interesse público. Eleição deveria ser. Deveria! A intenção é boa, mas os resultados não são animadores.

Na crônica anterior levantei a questão da proximidade das pessoas com o processo eleitoral. Infelizmente se comprova cada vez mais o desinteresse. Durante esta semana alguns quase já tinham esquecido em quem votaram, principalmente para deputados.

Conversando com um ou com outro questionei sobre as opções de voto. Para governador muitos responderam que votaram no Sartori para Ana Amélia não ir para o 2º turno! Propostas dos candidatos ou realizações não importam muito. Coisa de jogo: não importa quem é o melhor. Importa esse ganhar e aquele perder. Ou o 2º tempo.

O paradoxal disso tudo é que a maioria perde por que fica alheia à politização. Tirando poucas exceções em nosso município, o que importou para a maioria nas eleições foi número de votos. Qual deputado fez mais votos? A última sessão da Câmara Municipal parecia a apresentação dos resultados de um leilão. Tudo com a nobre desculpa de que os candidatos eleitos vão trazer recursos para Três Cachoeiras.

Interessante a fala de um vereador da direita local. Seu discurso afirma que não acredita em reforma política com os políticos que foram eleitos ou reeleitos. Fala desses políticos como se fossem de outro mundo e não do seu. Ajuda a eleger os mesmos políticos de sempre, se favorece do toma lá dá cá das emendas parlamentares, mas quer se apresentar como diferente. Vindo de quem vem não poderia ser diferente.

Política começa de baixo com conhecimento e politização. Não apenas partidarização. Esperar que de cima mude é só esperar. Isso requer participação e ouvidos mais preparados para não se engolir discurso bonito de enganadores e charlatões.

Crônica publicada no jornal Fato em Foco do dia 3 de outubro de 2014

Eleição de outro mundo
Eduardo Mattos Cardoso
eduardomattoscardoso@gmail.com


Domingo tem eleição. Os brasileiros vão escolher presidente da república, governador, senador, deputado federal e deputado estadual. Não é pouca coisa. Muito pelo contrário. Mais uma vez temos a oportunidade de mudar ou lapidar o destino político do nosso país. Porém, para muitas pessoas essa eleição parece de um mundo distante, que quase não tem nada haver com suas vidas.

O que tenho notado é que para uma grande parcela da população do nosso município – Três Cachoeiras – por exemplo, o que importa mais é o que diz respeito à disputa presidencial. Mas infelizmente parece que só existem três candidatos/as. Boas propostas de candidatos ditos pequenos não são debatidas.

Na eleição municipal era mais fácil: só tinha dois candidatos a prefeito. Para presidente tem muitos. A quantidade de candidatos confunde a cabeça de muita gente. Afinal, “o povo” de nossa cidade prefere a “grenalização” política, ou seja, apenas dois lados. Quando tem três, quatro, cinco ou mais parece bagunça eleitoral.

O Brasil tem hoje trinta e dois partidos políticos. Isso mesmo 32. Uns dizem que é um absurdo, um exagero. No entanto, essa quantidade só é possível devido à nossa lei eleitoral que é fruto do processo democrático. Para mexer nisso e melhorar precisamos de legisladores, deputados federais e senadores honestos e comprometidos. Aí a eleição fica mais distante ainda. Muitas vezes as pessoas nem lembram em quem votaram para esses cargos na última eleição, quem dirá acompanhar o que estão fazendo. Para governador e deputado estadual não muda muito.

De 1889, quando o Brasil virou república, até 2009 nosso país teve 117 presidentes. Apenas 16 foram escolhidos através do voto em eleições. O voto direto e secreto e o voto das mulheres só foram possíveis a partir da eleição de 1945. Muito se lutou por esse direito. Infelizmente uma grande parte da população desconhece isso e não valoriza seu voto atualmente. Quem paga depois da eleição?


Crônica publicada no jornal Fato em Foco do dia 26 de setembro de 2014

segunda-feira, 29 de setembro de 2014


O babão e a eleição
Eduardo Mattos Cardoso
eduardomattoscardoso@gmail.com


A proximidade da eleição vai revelando em certas pessoas atitudes surreais e bizarras. Tudo por interesse estritamente particular. A palavra coletivo só existe na empolação dos discursos. Uma reforma eleitoral decente poderia ajudar a diminuir a “pornografia eleitoral”. Existe ato mais obsceno do que babão fazendo campanha para ladrão? É o ditado adaptado: “babão que faz campanha para ladrão tem cem anos de perdão”? Eu não perdoo.

A esculhambação geral da política incentivada pela grande mídia tem dado certo. Quem assiste novela repete direitinho o que os donos do poder querem: “político é tudo igual”. Aí pronto, é só investir um dinheirinho que se elege o candidato que quiser. Quer confirmar? Procure na internet por www.donosdocongresso.com.br.

Mas a farra está solta. E os picaretas também. Nosso sistema político é viciado e do jeito que está não representa o coletivo nos seus anseios. Evidente que existem exceções. Alguns defendem que a prestação de contas para com a justiça eleitoral – popularmente entendida como voto obrigatório – é uma maneira de integrar a sociedade nas discussões políticas. Tenho dúvidas.

Outros esperam que as mudanças venham de cima. Não acredito. De onde não se espera é daí que não vem nada. De baixo vamos tentando. Despertar em um jovem de Três Cachoeiras um olhar crítico sobre a política é uma tarefa babilônica. Poucos têm lastro familiar para isso. Numa cidade onde prevalece a cultura do jeitinho e da corrupção essa “missão” se torna quase impossível.

Na minha ingenuidade, achava que existiam “grupos” mais politizados que outros, sejam por escolaridade ou categorias de trabalhadores. Estou revendo essa “crença” nos conscientes. Decepção ou constatação? Rico vota na direita. Normal. Pobre despolitizado muitas vezes também. Mas a minha categoria profissional é um caso a parte. Partidos de esquerda valorizam a educação historicamente. É fato. Os de direita desmontam. Mas o interesseiro não se importa com isso. Vota contra a própria categoria. Coisa de babão de eleição.

Crônica publicada no jornal Fato em Foco do dia 26 de setembro de 2014

quinta-feira, 25 de setembro de 2014


Obra da chuva

Eduardo Mattos Cardoso
eduardomattoscardoso@gmail.com


Agora sobrou para São Pedro. Qualquer “matação” em obra pública municipal é culpa do santo. Até 2012 o santo estava livre. O que aconteceu de errado até esse ano foi culpa única e exclusivamente do ex-prefeito. Hoje o prefeito não tem culpa de nada. A culpa é toda da chuva.

Está sendo feito uma obra de “calçamento” no bairro Santo Anjo. A população beneficiária da obra nunca foi consultada como gostaria que fosse executada. Nunca! A desculpa esfarrapada é sempre a mesma: é pela “CAIXA”, não podemos mexer no projeto. Mas que projeto! Tem projeto? Tem, mas ninguém sabe onde está. Conversa fiada. Projeto mal feito que não fecha com o que está sendo executado.

Qualquer leigo percebe que a execução desta e de outras obras é vergonhosa. Qual nosso dever como cidadão? Fiscalizar e tentar que alguma autoridade faça a sua parte. Aí começa o primeiro problema: encontrar alguém. Primeiro uma conversa pessoal com o prefeito e o secretário de obras. Só enrolação. Tentei contato com o vereador donatário da obra. Não atendeu as chamadas e não retornou. Próxima tentativa: contato com a vereadora líder do governo: retornou minha chamada e se comprometeu a conversar com secretário de obras e dar satisfação sobre o assunto, coisa que estou esperando faz tempo.

Enquanto isso a chuva vem e vai fazendo sua obra. Vai mostrando o que foi mal feito. Aí vem o segundo problema. Uma hora aparece alguém, ou a empreiteira – já que a obra está parada não se sabe o por quê – e diz assim: - Esse defeito vai ser reparado. É o mínimo. Mas vai ser só por cima, na aparência, pois estruturalmente a obra vai estar condenada e na próxima chuva vai acontecer de novo. Mas depois de entregue, que se dane a população. Terceiro problema: parece que nenhum ator público tem coragem de resolver. Quando falta coragem sobra o quê? Estamos à espera de alguém responsável com o projeto na mão. Com o projeto! Mas para resolver. De enrolador já chega. E de fotinho também.

Crônica publicada no jornal Fato em Foco do dia 19 de setembro de 2014

Desfiles

Eduardo Mattos Cardoso
eduardomattoscardoso@gmail.com


Qual o sentido dos desfiles cívico/militares que se realizam no país, estado e município? As pessoas que assistem ou participam entendem por que existem tais atividades ou simplesmente acham bonito? São perguntas que todos os anos por essa época me faço.

Participei de alguns desfiles em Porto Alegre, no fim da década de 1990 e início dos anos 2000, quando era militar da Aeronáutica. Quando nossos grupamentos passavam marchando em frete ao palanque das autoridades, aviões de carga e caça sobrevoavam o evento. Os expectadores vibravam, principalmente quando “caças” F5 da Base Aérea de Canoas faziam rasantes ensurdecedores. Tudo muito bonito.

O que os presentes – ou quem assiste pela TV – não sabiam, e talvez não saibam até hoje, é que as forças armadas brasileiras daquele período estavam e continuam sucateadas e que para parte do oficialato a ditadura foi uma “coisa boa” para o Brasil, pois nos livrou da “ameaça comunista”. E a “lavagem cerebral” nos quartéis continua. É amor à pátria às avessas.

No que se refere aos “desfiles farroupilhas” é necessário “pisar em ovos”. Qualquer questionamento ao tradicionalismo gaúcho é quase uma afronta. Inventar tradições é o que mais a humanidade fez e faz, segundo o falecido historiador Eric Hobsbawm. Cultuamos coisas inventadas o tempo todo. É normal. No entanto, saber um pouquinho das origens das nossas tradições não faz mal nenhum.

Entre as funções de um professor de História, e de todos os mestres em geral, está a de “derrubar” mitos, heróis, crendices e coisas ditas como “sempre foram assim”. Nesse sentido, a participação de escolas públicas, principalmente as estaduais, em desfiles cívicos merece ser repensada. Na ditadura as escolas públicas eram pequenos quartéis, acessíveis para poucos e com professores bem pagos. Hoje a educação pública estadual está sucateada. Faz sentido desfiles de faz de conta para maquiar a realidade do caos educacional?

Crônica publicada no jornal Fato em Foco do dia 12 de setembro de 2014

Vinte e oito

Eduardo Mattos Cardoso
eduardomattoscardoso@gmail.com


Fui num posto de combustível abastecer meu auto. – Completa, solicitei ao frentista. Depois lhe pedi: – Quero nota fiscal e quero que acrescente vinte e oito centavos a mais em cada litro. – Impossível, respondeu. Diante da negativa fiz outro pedido: – Então eu quero pagar vinte e oito centavos a mais por litro. O frentista desconcertado me responde: – Não leve a mal senhor, mas eu nunca vi alguém querer pagar mais por alguma coisa.

Fazer esse tipo de coisa beira a insanidade, ou no mínimo ao desequilíbrio sob a ótica do capitalismo. A máxima do capital é simples: comprar mais por menos. Quem troca sua força de trabalho por dinheiro sabe muito bem disso.

Vinte e oito é um número bonito. Acho que vou jogar no Bicho. Vai que dá sorte. Mas parece que não tem bicho com esse número. Vai só até vinte e cinco. Quem acredita que pagar vinte e oito centavos a mais por um litro de óleo diesel é normal deve jogar no 3 ou no 14 no Jogo do Bicho. Ou se assemelhar com o animal correspondente.

Quando se tenta explicar o inexplicável, geralmente o “cocho” é virado. Sobra pra todo mundo: pra vereador, pra família, pra cronista, enfim..., menos pra incapacidade ou má fé. Por conta da falta de consciência de alguns na hora do voto somos obrigados a aguentar “excelências” desequilibradas por quatro anos. Assim foi com o presidente do legislativo no ano passado e vergonhosamente está sendo com nosso guia municipal, basta ver o vexame dessa semana.

A tal reforma política que muitos candidatos falam nesta eleição deve incluir, entre outros pré-requisitos, um exame psicológico/psiquiátrico dos candidatos. Já suportamos falastrões, poltrões, malandros, roedores, analfabetos, incapazes, etc. Agora, engolir desequilibrados e suas sandices, é um teste para a inteligência dos três-cachoeirenses.

O problema é que inteligência, no dicionário que pode mais, tem um significado diferente: malandragem.

Crônica publicada no jornal Fato em Foco do dia 5 de setembro de 2014

Contrabando de bolsa

Eduardo Mattos Cardoso
eduardomattoscardoso@gmail.com


Mais um projeto amigo passou pela Câmara de Vereadores de Três Cachoeiras. É a “bolsa empresário especulador”. Mais um daqueles “contrabandos” despercebidos que tramitam no subterrâneo de nosso legislativo sem quase ninguém saber. Tudo em nome do progresso com nome bonito de “alteração do plano diretor”.

No país das bolsas ocorrem adaptações. Em município rico mais ainda. Pobre não tem vez, só esmola. Quanto mais pobre melhor. Mais mão de obra barata e mente vazia. Rico é quem manda. Manda em prefeito e vereador. Patrocina campanha, mas depois tem crédito.

O cálculo é simples: a cada cinco terrenos de dez metros de largura o “empreendedor progressista” ganha um. Negócio da...; não é mais da China, é negócio da cachoeira. Evidentemente, a metragem menor não diminuirá o preço de um terreno. É a modernidade do bolso grande. É a logica da grandeza três-cachoeirense: diminui a dignidade, mas aumenta o lucro.

Nesse “contrabando legislativo” devem ter mais bolsas. De que marca não sei. O vereador Tigrinho, dito de situação, com coragem foi contra esse tipo de bolsa. E os ditos de oposição votaram a favor. Humm! Situação, oposição; oposição situação; estou confuso.

Definitivamente a atual estrutura pública municipal governa para ricos. Projetos desse tipo, que ajudam a especulação imobiliária, contribuem cada vez mais para aumentar as desigualdades sociais. Qual é a média salarial da maioria dos trabalhadores três-cachoeirenses? R$ 1.000,00 talvez, ou no máximo R$ 1.500,00! Quantos anos um assalariado vai precisar trabalhar e economizar muito para adquirir um lote de dez metros de largura pelo módico valor de R$ 50.000,00? E será que vão declarar o valor “total” na hora do recolhimento do ITBI?

Em tempo: em conversa com o prefeito Quartinho sobre obra de calçamento no Santo Anjo lhe indaguei sobre a fiscalização da mesma. Isso porque qualquer leigo observa que a obra é mal feita. A primeira chuva mais forte vai atestar. Depois é tarde. Não adianta lembrar só problemas anteriores e continuar fazendo o mesmo, ou seja, obra ruim. Aos moradores resta denunciar a má qualidade da construção já que nunca foram chamados para opinar como deveria ser.

Crônica publicada no jornal Fato em Foco do dia 29 de agosto de 2014

As muitas faces da covardia

Eduardo Mattos Cardoso
eduardomattoscardoso@gmail.com

A mais ou menos dois anos atrás o “bicho estava pegando” em Três Cachoeiras. Era eleição municipal. Com olho de cientista social observava os atores políticos que davam a “cara a bater” – os candidatos – e os coadjuvantes dos bastidores de todas as vertentes. Algumas figuras que não apareciam diretamente na cena política me chamavam a atenção.

Depois de passado o período eleitoral, comecei a escrever crônicas neste jornal. Meu objetivo era – e continua sendo – provocar o debate acerca de assuntos do interesse de nossa cidade, com destaque para a política. Mas não só.

No entanto, minhas observações provocaram e ainda provocam descontentamentos, rotineiramente diante de puxa-sacos, fanáticos entre outros. Ficaram e ficam bravos. Por que não suportam serem contrariados. Isso parecia indicar uma cultura de aplaudir incompetente e louvar falador ou escritor de bobagens ou mentiras.

O tempo passou. O rancor para alguns não. De lá para cá muitos mal-educados saíram da moita, revelando um pouco de suas personalidades. Como são incapazes o que lhes resta é o “jogo sujo” da covardia. Não podia faltar!

A definição de covardia todo mundo sabe. Covarde é covarde. Pode estar no DNA. Mas em Três Cachoeiras parece que quase tudo é aprimorado. Aqui os covardes são envernizados e lustrados. Devido a isso, estou descobrindo um novo tipo: é o covarde travestido manipulador de inocentes. E deve sonhar comigo. Mas pode ter pesadelos. Será que é patológico?

Esse, como todo covarde, usa máscara. Esconde-se atrás de qualquer poderzinho. Chama os outros de parciais e passionais, mas manipula e induz pessoas. Deveria pregar o bem, mas cultiva o mal e estimula atitudes ruins.

Oportunamente a máscara cai. Geralmente é o que acontece com covardes. Por enquanto esse tipo de gente de má índole continua por aí contando com seguidores alienados e mal-educados, fáceis de serem manipulados. Por isso educação de verdade é uma ameaça. Educação e conhecimento tiram pessoas das trevas da enganação. É questão de tempo.

Crônica publicada no jornal Fato em Foco do dia 22 de agosto de 2014

A farra do combustível e a crença

Eduardo Mattos Cardoso
eduardomattoscardoso@gmail.com


É mais fácil crer do que saber. O saber pode ter a ajuda da razão. A lapidação do saber produz a sabedoria. Em sentido contrário vem a crença. Crer faz parte do humano principalmente no que se refere à religião. Templos e igrejas são os lugares mais apropriados para crendice. A administração pública não.

Se for verdade ou não que tem alguém com má fé na farra do óleo diesel que a Prefeitura de Três Cachoeiras compra eu não sei. O que eu sei – e o que todo cidadão três-cachoeirense em sã consciência sabe - é que não apareceu ninguém para explicar a farra. Alguns fanáticos tentam. Isso é perigoso. Crença leva ao fanatismo de qualquer lado. Pode se transformar em rancor. E não faz bem ao coletivo.

O que sobra é o legislativo primar pela razão, pela lógica e ajudar a salvação. Aí a coisa piorou! Só dois situacionistas se arriscaram essa semana. Assistir ou ouvir seus discursos é quase um ato de fé. Sim, de crença. Eles não têm certeza de nada, por consequência devem não saber de nada também ou não querem admitir que sabem – coisa que para um fanático é impossível. Seus discursos parecem uma pregação: eu acredito nisso, eu acredito naquilo; temos que acreditar; aparece até o “vamos estar estando acreditanto...”. Deve ser para atrair fiéis em alguma seita que crê no “estar estando”.

Digerir crença e fanatismo demora. Isso contamina geral, de parentes à bajuladores. Como se não bastasse a farra do pagar mais caro pelo combustível, e defendido por esses vereadores como normais, vêm mais um golpe, mais uma bolsa crente fanático. A resposta do prefeito para explicar a gastança não veio. O que ele fez a partir da sua “espirituosidade jenial”? Manda um projeto de lei para a Câmara de Vereadores criando mais um cargo gratificado para cuidar das compras e/ou licitações. Dinheiro e crença estão sobrando.

Crônica publicada no jornal Fato em Foco do dia 15 de agosto de 2014

A lógica e a mágica


Eduardo Mattos Cardoso
eduardomattoscardoso@gmail.com


Apenas a lógica cartesiana parece não explicar as coisas que acontecem no nosso planeta. Essa é a lógica fundamentalmente da matemática. Dois mais dois é igual a quatro, certo? Depende. As possibilidades são infinitas, de acordo com quem faz o cálculo. Se houver uma pitada de magia, bom, daí pode acontecer até o milagre da multiplicação. Para alguns isso ocorre facilmente.

O desafio à lógica é constante. Na cena internacional é muito comum isso acontecer. O interminável conflito entre Israel e Palestina é emblemático. Israel massacra palestinos na Faixa de Gaza. Entre estes muitas crianças. Em nome da segurança israelense. Alguns defendem porque é lógica a reação. Quem se posiciona contra Israel é taxado por alguns de antissemita, é lógico.

Para os argentinos a lógica anda longe. Direito internacional é uma coisa. Ajoelhar-se para exploradores é outra. Só faltava a Argentina, que é um país soberano, acatar a decisão de um juiz estadunidense. E ainda, dar bola para previsão de economista que fala em “nervosismo do mercado”.

No Brasil não é diferente. Joaquim Barbosa julgou só um lado da moeda, em nome da imparcialidade, da lógica é claro, e ainda ganhou o título de “herói” nacional. Essa mesma lógica serve para tentar sustentar a ficção. Para o governo atual doze anos de poder transformaram o país numa maravilha. Por que então querem mais quatro se está tudo tão bom?

Mas isso tudo parece de um mundo distante. Na cidade que pode mais isso não acontece. Por aqui a lógica é lei. A mentalidade da lógica sobre rodas, por exemplo, acredita que o meio de transporte rodoviário é o melhor do mundo. Ferrovias e hidrovias são bobagens. Mas quando a lógica não consegue resolver tudo, entra a mágica. A magia faz a prefeitura pagar R$ 2,63 o litro de óleo diesel, quando qualquer reles mortal como eu ou você pagamos apenas R$ 2,34 no mesmo lugar. É a mágica da lógica. Tudo normal, legal e leve! Ou leviano! É uma sopa de números. Eu acrescentaria o $ 171.

Crônica publicada no jornal Fato em Foco do dia 8 de agosto de 2014

Sapo cururu

Eduardo Mattos Cardoso
eduardomattoscardoso@gmail.com


Os sapos estão de plantão em Três Cachoeiras. Pela chance que estão tendo querem participar do Movimento Tradicionalista Gaúcho. Como tradicionalismo também foi inventado, por que não um anfíbio na tradição? Pelo menos no nome?

Conta-se pela cidade que está para aparecer um novo CTG. Ou algum já existente pode mudar de nome. Pode ser uma adaptação aos novos tempos. Vanguarda é importante. E oportunidade também.

Mas os sapos estão cururus. Nunca na história de Três Cachoeiras imaginavam que seu território estaria tão perto do progresso. E que fariam parte deste. Mas estão com dúvida sobre o que pode acontecer.

Essa inquietação se deve aos acontecimentos recentes. Cada vez mais não entendem nada. Antes da Invenção de Três Cachoeiras, ocorrida em 1º de janeiro de 2013, ouviam falar em inauguração de obra inacabada. Agora, em seu pleno território, assistiram a inauguração do vazio. Mas ficaram furiosos, pois vazio é onde não têm nada. Esqueceram que em banhado tem habitante.

Pelo que me lembro da última enchente, o “banhado do vazio” ficou quase todo cheio. Cheio de água. Minha ingenuidade aflorou: o que levou nosso patrãozinho municipal a fazer essa escolha?

Algumas alternativas são possíveis. Mas é difícil afirmar. Simples é enchergar que comprar banhado a “preço de ouro” é fácil. Até o Bode Zé consegue. E fazer casca de asfalto com financiamento a juros indecentes, até eu conseguiria. Mas não faria.

Fazer discurso para sapos, lunáticos e fanáticos na inauguração do “banhado do vazio” é moleza. O difícil é realização descente que mude significativamente a vida das pessoas para melhor. O que não aconteceu até agora. É entender o significado de competência, ética e moral. E ponto.

De resto, fazer xorôrô, falar em perseguição, entre outros truques fantasmagóricos é empulhação e desvio de foco. Depois de um ano e meio alguma coisa tem que aparecer. Mas isso é da lógica, do óbvio. Não é nenhuma novidade quando o dinheiro está sobrando.

Crônica publicada no jornal Fato em Foco do dia 01 de agosto de 2014

Semana pedagógica

Eduardo Mattos Cardoso

eduardomattoscardoso@gmail.com


Num tempo já quase distante, recesso escolar era sinônimo de descanso absoluto. Hoje não é mais. Nesta semana em que crianças e adolescentes das redes municipal e estadual de educação estão de folga, nós professores não estamos. Tivemos a Semana pedagógica em Três Cachoeiras, numa parceria entre o nosso município e o de Terra de Areia.

Muitas vezes é o tempo que se têm para pensar educação, pois durante o resto do ano em dias letivos quase não respiramos devido o acúmulo de tarefas. Mas pode ser um momento de fortalecimento além da pura reflexão. Afinal, educação e ensino se misturam. A primeira deveria ser fundamentalmente enraizada pela família. Não é o que vemos, pois cada vez mais se delega à escola uma tarefa da família. É a terceirização da educação. Vamos lá. Os desafios são babilônicos.

Nesses dias tivemos palestras, apresentações artísticas e oficinas temáticas. A parte motivacional nas palestras pareceu predominante. Talvez não seja excesso mas sim necessidade. O fardo que a maioria dos professores carregam é pesado demais. E o reconhecimento social e financeiro fica aquém do que deve ser. Mas a luta continua.

Alguns momentos do evento me entusiasmaram mais. No primeiro dia a participação do Gilmar, o eletricista cego, me alegrou bastante. Na terça-feira tivemos palestras com parte motivacional e dinâmicas. Entendo a necessidade desse tipo de atividade mas ainda fico “boiando” nesses momentos. A quarta-feira foi mais inspiradora. A aula que assisti do professor Ático Chassot foi muito boa. Uma lavada de alma. Sou professor, mas é bom voltar a ser aluno diante de um bom mestre.

Com o professor Chassot pude interagir. Pedi que explicasse sua proposta de que os professores “ensinem menos”. O professor Chassot foi categórico em sua resposta: “é ensinar menos conteúdo”. Gostei. Quando fazemos e pensamos educação temos que fazer escolhas. Essa é uma delas. A vida é feita disso. Mas a semana não parou por aí. Na próxima conto o resto!

Crônica publicada no jornal Fato em Foco do dia 25 julho de 2014

sexta-feira, 18 de julho de 2014


Bestialização digital

Eduardo Mattos Cardoso
eduardomattoscardoso@gmail.com

Pensando no assunto “bestialização” lembrei do livro “Os Bestializados”, do historiador José Murilo de Carvalho. Neste livro o autor aborda o processo de proclamação da república em 1889, que ficou marcado ou inventado para a História brasileira com o 15 de novembro quando o Brasil passou de monarquia para república.

A principal contribuição de José Murilo de Carvalho nesta obra foi a constatação através de documentos que o “povo” simplesmente não participou da proclamação da república. Para José Murilo, o povo ficou “bestializado” com o que aconteceu, pois nem sabia o que estava acontecendo.

Invariavelmente na História brasileira foi quase sempre assim, ou seja, o “povo” - designação genérica da maioria da população – geralmente só assiste o que acontece no nosso país em termos políticos e consequentemente no que diz respeito ao que é público.

Alguns tentam relativizar com explicações de lugar-comum, para não dizer tolas. Expressões do tipo “cada um tem a sua opinião” são cada vez mais arrotadas em nome de uma individualidade travestida de padronização patética.

Antes se dizia que a padronização das mentes se devia a televisão. E que a internet e consequentemente o mundo digital levariam o ser humano a liberdade. Com as redes sociais o alardeamento de que o monopólio da informação ou desinformação tinha acabado se alastraram. As redes sociais seriam uma forma muito eficaz de mobilização social.

As manifestações de 2013 mostraram que realmente para mobilização as redes servem. O que não ficou claro era o que queriam reivindicar, ou seja, muitos foram para a rua por que muitos estavam indo para a rua, por que era o momento, mesmo sem saber direito o que estavam fazendo nas mesmas.

Mobilização com alienação para que serve? É evidente que a tecnologia é uma arma poderosa de transformação política e social se bem aproveitada. Por enquanto fico com dúvida. O deslumbramento com bobagens diante desse mundo digital/virtual está levando algumas pessoas à “bestialização” comportamental. Por onde a gente anda – casa, trabalho, escola, festa, etc. - quase sempre tem um chato querendo tirar “fotinho” ou mostrar “videozinho” em seus aparelhos e redes. Como se todo mundo gostasse disso.

Crônica publicada no jornal Fato em Foco do dia 18 de julho de 2014

Educação, eleição e discursos vazios

Eduardo Mattos Cardoso
eduardomattoscardoso@gmail.com

A seleção brasileira perdeu a semifinal vergonhosamente. Felipão assumiu. Ponto. Continua o evento. Segue a vida. O futebol só é sério para quem vive dele. Não é meu caso, nem da maioria do povo brasileiro. Coisa séria é eleição. Pelo menos deveria. O processo já começou.

Temos três meses pela frente para avaliar e escolher os melhores governantes e legisladores para o país e para o estado. Agora é a vez do “jogo” político. Esse jogo não poderia ser perdido nunca. No entanto, os indicativos não são muito animadores. Os discursos iniciais dos candidatos novamente são líquidos, ou seja, não se comprometem com nada, não afirmam nada. Em relação à educação, infelizmente, os discursos vazios continuam.

Sabemos que a “chave do cofre” está na mão do governo federal. Sem dinheiro não se muda. Mas dinheiro de verdade. Num país de economia capitalista como o nosso falar em melhora sem dinheiro é piada pronta. Antes da aprovação do novo PNE - Plano Nacional de Educação - que tramitou “apenas” por quatro anos no Congresso Nacional, se noticiava que se investia menos que 5% do PIB em educação. Tão logo foi sancionada a nova lei, os números mudaram como num passe de mágica para mais de 6%, exatamente 6,4% segundo informação oficial.

O novo PNE estabelece metas em investimento. A partir de sua aprovação prevê que em cinco anos se invista 7% do PIB em educação e ao final de dez anos 10%. Como maquiar números no Brasil é uma especialidade, não acredito que na prática isso ocorra. Não é pessimismo. É constatação de quem há muitos anos acompanha a área e sente na pele o faz de conta de investimento, paralelo ao aumento do caos educacional.

É preciso dizer com coragem que existe duas categorias de educação básica pública. A de “primeira classe” é bancada diretamente pela união através dos colégios militares, de aplicação das universidades federais e os institutos federais. O resto, estaduais e municipais, guardadas algumas raras exceções, são de “segunda classe”. Essas, que são a esmagadora maioria, estão abandonadas.

Crônica publicada no jornal Fato em Foco do dia 11 de julho de 2014

Tempos de escola

Eduardo Mattos Cardoso
eduardomattoscardoso@gmail.com

Há vinte anos comecei a cursar o Segundo Grau, que hoje se chama Ensino Médio. Era um privilégio ainda. Em 1994 cursar tal nível de educação não era obrigatório. Mas era necessário. A oferta de empregos não era como hoje. Era uma oportunidade que tínhamos de seguir a vida, continuar estudando e melhorá-la.

Tempo diferente. Geração peculiar aquela. Além de necessidades tínhamos ideias, paixões e vontade de mudar. A tecnologia era restrita. O computador ainda era de “outro mundo”. Internet muito mais. Parece que éramos menos “alienados” e controlados do que os jovens de hoje. Percepção ou constatação?

Os tempos e espaços pareciam outros, embora a escola, salas de aula e alguns professores e funcionários sejam os mesmos até hoje quando retornei como professor. Saudosismo? Pode ser. Mas era bom, como hoje também, guardados os gigantescos desafios da carreira e da educação.

Estudei os três anos do Segundo Grau usando a bicicleta como meio de transporte. Todos os dias, salvo algum de temporal muito severo, me deslocava do Santo Anjo até Três Cachoeiras pedalando. Mas geralmente não fazia essa “viagem” sozinho. Contava com a companhia dos amigos Mauro e Maurício que também encaravam a aventura diária de “magrela”. A parceria estreitava a relação de amizade.

Estudávamos à tarde. Naquele ano só tinha nesse turno. O almoço tinha que ser reforçado, pois não tinha merenda para as turmas daquele nível. Mas recordo com muito carinho das “tias” da merenda que sempre que possível nos davam algumas bolachas ou o que sobrava da merenda do dia.

Em 1996, quando me formei, a educação começava a passar por mudanças. Foi aprovada a LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, através da lei 9.396 do mesmo ano. De lá para cá sofreu alterações significativas como, por exemplo, a obrigatoriedade da matrícula dos 4 aos 17 anos de idade.

Há vinte anos eu era aluno. Ia à escola por vontade, sem obrigação. Hoje assisto, como professor, a obrigatoriedade sem comprometimento, com ônibus na porta de casa e merenda digna todos os dias para todos os alunos, entre outras facilidades. Será que vai dar certo?

Crônica publicada no jornal Fato em Foco do dia 04 de julho de 2014

Um homem perigoso

Eduardo Mattos Cardoso
eduardomattoscardoso@gmail.com

Na última terça-feira, 24 de junho de 2014, a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul deu continuidade ao projeto Gaúchos da História. O personagem desta vez foi Leonel Brizola, o estadista da educação. O seminário teve como tema “Pensamento, legado político e social do grande líder trabalhista gaúcho” e contou com painelistas e debatedores políticos e jornalistas. A data é pela passagem de dez anos da morte de Brizola ocorrida em 2004.

Não é de agora que “os donos do poder” tentam “avacalhar” a política. Depois que o PT gostou “do jogo jogado” quando chegou ao poder em 2003, ficou fácil e confortável para a mídia dominante arrotar o tempo todo que “político é tudo igual”. Lula que representava a mudança confirmou isso. Caímos no conto do novo estadista que talvez pelas condições em que foi gestado nunca poderia ser tal.

Quando Lula ainda parecia autêntico de esquerda, Brizola aceitou ser seu vice. Era tarde. O PT de esquerda não poderia chegar ao poder. Muito menos Brizola, que segundo “os donos do poder”, era a verdadeira ameaça. Ingenuidade pensar que quem manda no Brasil “dorme de touca”. O serviço secreto dos EUA anotava no início da década de 1960: “Esse governador expulsou duas empresas nossas, de telefonia e energia elétrica, e ainda construiu escolas por todo estado. Leonel Brizola é perigoso”.

Trabalhismo vem de trabalho. Era a marca de Brizola, João Goulart e Getúlio Vargas. Mas no fim da década de 1970, com a abertura política, surgia um novo partido em nome do trabalho, o Partido dos Trabalhadores. As afirmações de Léo de Almeida Neves (Deputado cassado em 1969 pela Ditadura) sobre o período são interessantes: “Entrou em ação o “mago do regime”, o estrategista General Golbery do Couto e Silva. Houve tolerância para as reivindicações operárias do ABC paulista, conduzidas por Luiz Inácio Lula da Silva, e ao robustecimento de um sindicalismo sem compromissos com o trabalhismo, e desvinculado de Brizola. Depois, serviram-se da ex-deputada Ivete Vargas, cujo marido trabalhava para Golbery, a fim de aprovar um simulacro de partido de apoio ao sistema vigente, já nos seus estertores. Manobrando com a frágil Justiça Eleitoral da ocasião, conseguiram registrar um artificial PTB, solidário ao governo inclusive nas votações no Congresso”.

Brizola e o autêntico trabalhismo, a partir de um novo partido, teriam chance?

Crônica publicada no jornal Fato em Foco no dia 27 de junho de 2014

O Trabalhismo como alternativa de esquerda dentro do capitalismo: a evolução do nacional-desenvolvimentismo para o social-desenvolvimentismo – Parte 1 (por Cássio Moreira)

O projeto trabalhista brasileiro teve sua germinação durante o primeiro governo de Vargas. Getúlio Vargas ascendeu ao poder por meio de um golpe de estado. A Revolução de 1930, comandada por Vargas veio romper com a chamada Política Café com Leite, onde paulistas e mineiros alternava-se na Presidência da República por meio de eleições manipuladas. Com o rompimento do acordo por parte dos paulistas, os mineiros uniram-se aos gaúchos e outras oligarquias e Vargas tomou o Palácio do Catete, capital do país e sede do Governo na época. Com Vargas, terminou-se a República Velha e iniciou-se o governo provisório. Em 1937 instalou um regime ditatorial, que causou uma revolução no estado brasileiro. O Estado Novo, em que pese a censura, tortura e restrição as liberdades por meio do autoritarismo foi essencial para a consolidação do estado nacional. Em 1951, Vargas volta ao poder nos braços do povo por meio de eleições democráticas e aprofundou mudanças iniciadas em seu primeiro governo.

Muitos críticos de Vargas atribuem a ele o termo populista, não no sentido de governo popular, e sim no sentido de demagogo, manipulador das massas. Entretanto, como resposta fica o questionamento de qual governo fez mais pelos trabalhadores depois dele? Logo que terminou seu primeiro governo, Vargas incentivou a criação de dois partidos no Brasil. No espectro mais de centro surgiu o Partido Social Democrático (PSD) de base getulista e ruralista. Mais a esquerda, dentro dos limites do capitalismo, criou-se o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) de base operária e também getulista. Fazendo o contraponto ao getulismo, no espectro mais de direita, surgiu a União Democrática Nacional (UDN), posteriormente transformada em ARENA que deu sustentação à ditadura militar.

No segundo governo Vargas, eleito pelo PTB (antigo) o novo presidente imprimiu a marca de seu governo, com a criação do PETROBRAS e do BNDE (depois acrescentou o “S” de social) consolidou o Estado como principal direcionador do desenvolvimento socioeconômico e com contribuições indeléveis de alguns pensadores, como Alberto Pasqualini, deixou o seu maior legado ao país: o projeto trabalhista (esboçado em sua carta-testamento).

O termo Trabalhismo é a denominação dada ao movimento operário para defesa dos seus interesses econômicos e políticos, sem ligação direta com os princípios socialistas vigentes na época da URSS. Originalmente, ele teve início na Inglaterra do século XIX, paralelamente à ideologia socialista com as lutas dos sindicatos por direitos trabalhistas e sociais. Embora o surgimento da legislação trabalhista e da justiça do trabalho tenha sido, em parte, consequência do processo de luta e das reivindicações operárias desenvolvida pelo mundo, o termo “justiça do Trabalho” surgiu na Constituição de 1934, durante do governo Vargas. Mas na prática foi efetivada com o Decreto-lei nº 1.237 de 1939. Surgindo posteriormente, em 1942, a CLT. O dia simbólico para a assinatura foi no 1º de maio durante a comemoração do Dia do Trabalhador em um estádio lotado no Rio de Janeiro. Nela foi regulamentando vários direitos tais como: o registro do trabalhador em uma carteira de trabalho, a jornada de trabalho, o período de descanso, de direito a férias, medicina do trabalho, a justiça do trabalho e processo trabalhista, a proteção do trabalho da mulher, a organização sindical, etc.

Com a renúncia de Jânio Quadros, o vice-presidente João Goulart, o herdeiro político de Vargas, assumiu o poder em 1961 e tentou retomar o projeto varguista. No aspecto da legislação trabalhista, Jango expandiu a legislação para o campo e institui o décimo terceiro salário entre outras medidas. Na parte econômica e social tentou instituir as mudanças estruturais de uma economia em vias de industrialização, acrescentando novo ingrediente ao trabalhismo brasileiro: as reformas de base. Conforme Moniz Bandeira, esse projeto visava implementar uma espécie de social-democracia brasileira.

O projeto Vargas, chamado de Nacional-Desenvolvimentismo era representado pela tríade nacionalismo-industrialização-intervencionismo. Com o acréscimo da preocupação com o social (por meio das reformas de base com viés distributivista) esse projeto foi se transmutando no projeto trabalhista brasileiro.

O conceito de trabalhismo, surgido na Inglaterra, passou por transformações adaptando-se à realidade brasileira e adquirindo características próprias. Nessas mudanças tiveram importância fundamental os escritos de Alberto Pasqualini, que tinha como base os princípios do solidarismo cristão (democracia-cristã). Pasqualini definia o trabalhismo como expressão equivalente a de capitalismo solidarista. Por esta expressão, tem-se que a ideologia trabalhista reconhece o capitalismo como sistema econômico, defendendo consequentemente a propriedade privada. Porém, a ideologia trabalhista defende uma intervenção do Estado na economia, de modo a corrigir os excessos do sistema capitalista e atingir uma forma mais equilibrada e humana do capitalismo, dando ênfase nas políticas públicas com objetivo de melhorar a condição de vida dos trabalhadores, o que seria atingindo baseado na “conciliação de classes”. O trabalhismo sustenta a prevalência do trabalho sobre o capital, buscando a sua convivência harmônica, bem como a superação das diferenças de classe, sem violência, por meio da melhor distribuição da riqueza e da promoção da justiça social. Salienta Pasqualini que “o trabalhismo não é, pois, necessariamente, um movimento socialista. Como vimos, o socialismo não é um fim, mas um meio, isto é, uma forma de organização econômica tendo em vista a eliminação da usura social”.

Portanto, conforme a doutrina trabalhista, o capital deve ser um conjunto de meios instrumentais ou aquisitivos, dirigidos e coordenados pelo Estado, e muitas vezes executado pela iniciativa privada, mas sempre tendo em vista o desenvolvimento da economia e o bem-estar coletivo. As ideias de Alberto Pasqualini centravam-se numa plataforma reformista que tinha como objetivo transformar o “capitalismo individualista em capitalismo solidarista, com uma socialização parcial do lucro”. Pasqualini acreditava que a ação governamental deveria ser eminentemente pedagógica. A condução política far-se-ia pelo esclarecimento da sociedade, via mudança de mentalidade. O sistema educacional era, para ele, o caminho mais eficaz para realizar as reformas sociais, políticas e econômicas, superando assim o subdesenvolvimento do país. Sua concepção de Estado era a de que ele era fruto da evolução da sociedade. Ao fazer uso de uma analogia entre “cérebro e corpo”, o Estado é o cérebro da sociedade, o órgão mais especializado e complexo ao qual cabe um papel de direção e organização.

Portanto, as reformas necessárias ocorreriam por meio da mudança de mentalidade. Para isso era necessária uma reforma na consciência social, que diminuiria as práticas egoístas e as substituiria por ações solidárias, tais como cooperação, ordem, harmonia, lealdade, evitando, portanto, o confronto entre os interesses individuais (egoístas) com os interesses coletivos (morais). Pasqualini destacou principalmente a função moral do Estado: executar na prática o sistema solidário com suas especificidades. O trabalhismo está à esquerda no sistema capitalista, assim como era o oposto do liberalismo na década de 50-60 atualmente é o oposto ao neoliberalismo econômico hegemônico nos anos 90. Não visa acabar com o capitalismo, mas adapta-lo a realidade brasileira. Nesse sentido a regulamentação dos meios de comunicação conforme prevê a constituição de 1988 (§ 5º – Os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio), ou seja, a não existência de oligopólio no setor de informação passa a ser fundamental para incentivar esses valores solidários e coibir as ações egoístas.

Conclui Pasqualini que a socialização integral dos meios de produção (socialismo soviético, cubano, chinês) no estado atual da humanidade, poderia trazer ainda outros inconvenientes, pois o Estado se tornaria todo poderoso e seria difícil encontrar homens perfeitos para geri-lo. Acreditava ele que a tendência era para aumentar as funções do Estado, evoluindo da função simplesmente policial à função social e à função econômica. Essa evolução, porém, está condicionada a um maior grau de perfeição dos homens. Por outro lado, não será demais observar que, se a forma socialista da produção pode ser desaconselhada, não será para atender aos interesses capitalistas, mas para atender ao maior interesse da própria coletividade. Será desnecessário esclarecer que há setores da economia onde a socialização ou a estatização se impõe. Não há hoje países onde impere o puro regime capitalista.

Assim como Pasqualini, outra referencia para o trabalhismo é Celso Furtado. Em um dos seus últimos artigos, Furtado deixa uma síntese de sua obra numa equação para uma estratégia de desenvolvimento nacional que são os pilares do projeto trabalhista brasileiro atualmente.

DESENVOLVIMENTO SÓCIOECONÔMICO = CRESCIMENTO DA RENDA E EMPREGO + POLÍTICA SOCIAL ATIVA

Atualmente, alguns pensadores formularam um novo termo para definir o aperfeiçoamento do projeto trabalhista, ou seja, o social-desenvolvimentismo que se baseia na associação entre aspectos econômicos e sociais em uma associação biunívoca. O social-desenvolvimentismo mantém o caráter progressista do nacional-desenvolvimentismo, mas como uma adaptação a um novo contexto marcado pela globalização. Procura fortalecer a associação entre povo e estado por meio da democratização econômica e reconhece que o papel do Estado deixou de ser fortemente interventor ou produtor para se tornar regulador ou indutor, isto é, por meio de planejamento indicativo e coordenação indireta. A nova tríade, que é uma evolução do nacional-desenvolvimentismo, consiste, portanto, em inclusão social – infraestrutura econômica e social – capacitação profissional.

A liberdade e a solidariedade são bem maiores para um povo. São como pernas. Uma precisa da outra para termos o equilíbrio. Apenas podemos ter desenvolvimento com liberdade. Liberdade de escolha. Da possibilidade que as pessoas têm de desenvolver suas capacidades inatas como seres humanos e indivíduos sociais. O desenvolvimento econômico e social passa, portanto, na democracia econômica e para isso as pessoas poderem ter acesso à saúde, educação, moradia, segurança, renda e cultura.

Para finalizar as palavras do trabalhista inglês Tony Benn sintetizam bem esse conceito: “acho que a democracia é a coisa mais revolucionária do mundo. Mais revolucionária do que ideias socialistas ou de qualquer outra pessoa. Se tiver poder, você o usa para prover as suas necessidades e as da sua comunidade. Essa é a ideia de escolha da qual “O Capital” fala constantemente: ‘Tem que ter uma escolha’. A escolha depende da liberdade de escolher. E, se estiver coberto de dívidas, não tem liberdade de escolha. Parece que o sistema se beneficia, se o trabalhador comum estiver coberto de dívidas. Pessoas endividadas perdem a esperança. E pessoas sem esperança não votam. Dizem que todas as pessoas devem votar. Mas acho que, se os pobres, na Grã-Bretanha ou nos Estados Unidos, [Brasil] votassem em pessoas que representassem seus interesses, seria uma verdadeira revolução democrática. E não querem que isso aconteça. Por isso mantêm as pessoas oprimidas e pessimistas. Penso que há duas formas de controlar as pessoas: primeiramente, assustando-as. E, em segundo, desmoralizando-as. Uma nação educada, saudável e confiante é mais difícil de governar. E acho que há um elemento no pensamento de algumas pessoas: Não queremos que as pessoas sejam educadas, saudáveis e confiantes. Porque ficariam fora de controle”.

Cássio Moreira é economista, doutor em Economia do Desenvolvimento (UFRGS) e professor do IFRS – Câmpus Porto Alegre

sexta-feira, 20 de junho de 2014


Festa e mais festa
Eduardo Mattos Cardoso

eduardomattoscardoso@gmail.com


O clima de festa é geral no Brasil. Pelo menos é o que tenta nos faz crer o monopólio da mídia e da informação. A copa está fazendo os brasileiros esquecerem os problemas. Lá no fundo, deve ser por que a vida não é só a dura realidade da maioria. Todos têm direito a um faz de conta, mesmo que momentâneo. Festa é um direito de todos, do rico ao pobre, guardada as suas evidentes desproporções.

Enquanto o nosso país está alugado temporariamente para a FIFA, a vida segue. Quem pode aproveita esses dias festivos. Mas é bom lembrar que nem todo brasileiro gosta de futebol. Essa ditadura do “país do futebol” deve ser relativizada. Muitas pessoas aproveitam esses dias de “folga” para passear, descansar entre outras coisas que não tem nada a ver com Copa. Temos esse direito.

É tempo de muitas festas ao mesmo tempo. As alianças partidárias para a grande “festa da democracia” de 2014 - eleições - tem prazo até o fim do mês de junho. Muitas coisas importantes dessa “festa” não estão aparecendo, muito menos discutidas. Por exemplo: será que algum dia o PMDB nacional vai ser oposição a algum presidente? O que pensar quando José Sarney, Renan Calheiros, entre outros figurões, extorquem o PT nesse período de convenções. Cabe lembrar que extorquiram FHC também. E o petismo e o malufismo juntos novamente!

Assim, o que vale é o tempo de televisão que um partido agrega à coligação. E depois se eleito, a tal governabilidade. Ideologia, o que é isso mesmo? Pergunta difícil. O cidadão fica mais confuso aqui no Rio Grande do Sul. O PMDB nacional apoia Dilma, inclusive indicando seu vice novamente. Mas aqui no RS o PMDB apoia Eduardo Campos. Com Ana Amélia é parecido: seu partido, o PP, nacionalmente apoia Dilma também. Entretanto, aqui no estado, vai com Aécio Neves. É uma lambança. Ou é para ser assim mesmo, para ninguém entender nada? Qual o mais coerente? O que significa mesmo coerência? É do jogo. É da festa.

E já que o assunto é festa, não nos esqueçamos da nossa fabulosa, majestosa e nebulosa festa do caminhoneiro. Quem paga a conta somos nós. Adivinha quem é a FIFA nessa festa?

Crônica publicada no jornal Fato em Foco do dia 20 de junho de 2014

Muitos jogos
Eduardo Mattos Cardoso

eduardomattoscardoso@gmail.com


Começou a Copa do Mundo de Futebol do Brasil de 2014. Ocorrerão muitos jogos até sua final. Até lá outras coisas estarão em jogo. Ou melhor, estavam, estão e estarão. Tem jogos dentro de campos e disputas fora deles. Vamos discutir muito ainda o legado da Copa. Depois do mundial vamos avaliar seus prós e contras. É da democracia.

Em campo a “peleia” não é fácil para a seleção brasileira. Se nossos jogadores quiserem a copa é nossa. Competência não lhes falta. Talento tampouco. Algumas coisas podem atrapalhar, como por exemplo, a variadas “pressões” por estarem jogando em casa. Nesse caso, a experiência de nossos jogadores vai contar muito. E se o coletivo funcionar o caneco deve ser nosso. Tomara que o jogo de vaidades não apague o conjunto.

Junto com isso não podemos nos esquecer do líder. A figura do treinador é fundamental. Felipão têm um dos maiores desafios da sua vida. Não é por acaso que está onde está. Nós, gaúchos mais uma vez. Ultimamente a gauchada tem tomado conta do comando da seleção. Dunga, Mano Meneses e de novo Felipão.

Algum dia Luiz Felipe Scolari irá nos falar sobre os bastidores desse mundial histórico, seja com conquista ou decepção. Por que ele sabe melhor do que nós que não basta ser competente como treinador, como tático. O jogo externo e as cobranças são invisíveis. E o jogo político está por toda parte. Futebol não é apenas um jogo.

Essa Copa será do tamanho do Brasil. E grande será nossa alegria se conquistarmos mais esse título, demostrando mais uma vez para nós mesmos que somos bons no que fizemos, tanto no futebol como em organização e competência. Mas jogo é jogo. Não existe certeza. Não precisamos mostrar nada para ninguém. Queremos sim, é sermos respeitados como qualquer outro país ou povo. É o que o mundo mais precisa.

Começaram os jogos. Que o respeito dos visitantes esteja presente. E que o patriotismo e garra de nossos jogadores estejam acima de qualquer jogo. E do nosso povo também.

Crônica publicada no jornal Fato em Foco do dia 13 de junho de 2014

Chauí, a Copa e a “Nova Classe Média” (por Fernando Horta)
Em 2013, num evento que reuniu o ex-presidente Lula, o cientista político Emir Sader e o economista Márcio Pochmann, a filósofa e professora da USP Marilena Chauí virou vídeo viralizado em redes sociais. No vídeo faz um pronuciamento em que afirmava que a “classe média é uma abominação política, uma abominação ética e uma abominação cognitiva”. Um discurso forte que recebeu críticas de grupos que, pela conceituação de Chauí, sequer foram atacados. Em realidade, o desconhecimento sobre exatamente o quê Chauí atacava provocou celeuma por toda a rede. O fato é que depois do lamentável fato ocorrido na inauguração da Copa de 2014 – quando a área VIP do estádio passou a ofender a presidenta com palavras de baixo calão, machistas e sexistas – temos que reconhecer: Marilena Chauí tinha razão.

O argumento da professora Chauí é bastante antigo e tem sua base num trabalho do sociólogo americano Charles Wright Mills publicado pela primeira vez em 1951 chamado “White Collar: The American Middle Classes”. Nesse trabalho, o cientista americano argumenta que ao passar a ganhar uma maior remuneração por cargos de chefia, coordenação, planejamento e etc. esse grupo de trabalhadores (“White Collars” para Mills) se sente diferenciado do simples proletariado (aqueles que vendem sua força de trabalho) criando, literalmente, toda uma cultura de alteridade. Fazendo isso, esses indivíduos – que são tão proletários como qualquer outro – passam a desenvolver padrões comportamentais, culturais e argumentativos que os distanciam dos grupos “subalternos”. Ao mesmo tempo, esses indivíduos se aproximam das mentalidades das elites comprando suas posições políticas, seus padrões de consumo, seus gostos culturais e negando sua origem econômica de fato. Desse modo, o termo “nova classe média”, tal qual usada pela professora, não é o mesmo que “classe dos que ganham mais ou menos” e tampouco se confunde com os profissionais liberais que compõem a clássica classe média.

Essa “nova classe média” tem padrões culturais e sociológicos bastante claros que estudiosos de marketing, publicidade e propaganda, sociologia e antropologia já mapearam com sucesso: ela é conservadora, materialista, paternalista, machista, religiosa (mesmo não tendo credo único), tem um senso de dever que se traduz no acúmulo de bens materiais duráveis, é avessa ao risco e dá uma importância ímpar a uma educação de caráter funcional. Educação voltada para o mercado de trabalho (medicina, engenharia, direito, arquitetura e etc.) e não uma educação de erudição ou voltada para a ciência como forma de pensamento teórica. Um traço interessante do comportamento dessa “nova classe média” é que ela não aceita que seus filhos tenham um nível cultural menor que os pais. O caminho da faculdade (o terceiro grau) como o caminho da redenção social é um culto sagrado. Mesmo que hoje saibamos que existem carreiras técnicas que trazem tanto ou maior retorno financeiro, esse culto ao bacharelado por anos inflou nossos vestibulares e transformou as universidades públicas em recintos redentores das gerações filhas da “nova classe média”. Gente empurrada a fazer faculdades para “agradar a família” e assim internalizando de fato uma diferença pedagógica crucial, como se existisse um trabalho para “fazer dinheiro e melhorar de vida” e aquilo que realmente se gosta de fazer é apenas “hobbie”.

O grande problema é que diante do processo da ditadura brasileira, em que foram suprimidas matérias como sociologia, filosofia, teatro, línguas e etc … e onde o tempo na nossa educação de ensino básico e médio (antigo primeiro e segundo graus) destinado às disciplinas de história, literatura e geografia se viu extirpado pelo aumento da matemática, química e física, se consolidou uma educação aos moldes dos interesses dessa classe média e do regime ditatorial: educação para a o mercado. Sem uma base sólida de conhecimento humanístico o conservadorismo se tornou reacionário, o machismo se tornou homofóbico, a diferenciação de espaços de trabalho se tornou preconceito de classe e de raça, a religiosidade se tornou extremista e o apego aos bens materiais tomou forma num anticomunismo anacrônico que ainda (em pleno século XXI!!) aparece em textos de “meninos maluquinhos” e “jornalistas opinativos” por alguns meios de comunicação em nosso país afora.

Ao mesmo tempo, se consolidou um dito repetido à exaustão durante o período ditatorial brasileiro: “quem sabe faz, quem não sabe ensina”. Ávidos a suprirem a demanda dessa “classe média” os cursos superiores passaram a retirar de seus currículos disciplinas formativas como filosofia, sociologia, história e etc. Assim os cursos de Direito perderam a filosofia, a ciência política e a história trocando por “Teoria Geral do Estado” ou “História das instituições brasileiras”. Cursos de jornalismo, pasmem, não trazem em seu currículo história do Brasil como disciplinas formativas e obrigatórias. O fazer e o pensar se separaram completamente, criando uma geração inteira de pessoas com diplomas de terceiro grau que não são capazes de entender o sentido do termo “ética” ou diferenciar o Brasil do século XX da antiga URSS. Médicos se formavam sem conhecimentos sociais, engenheiros construíam casas para uma sociedade que desconheciam e amigos não mais discutiam “futebol, religião ou política” pois a vida privada, vigiada pela ditadura, separava-se claramente da vida pública e do exercício da cidadania. Quanto mais afastado da política um cidadão estivesse mais “correto” ele parecia aos olhos dessa sociedade distorcida. Se criou uma ojeriza pelas teorias, um desdém pelos livros não técnicos, rápidos e funcionais do tipo “faça você mesmo”, “guia de auto-ajuda” ou “guia politicamente incorreto” de alguma coisa …

Voltando à Chauí, ela diz que essa “nova classe média” é uma “abominação política” por não se reconhecer como NÃO parte da elite e é frequentemente cooptada por esta, sendo usada como “pelego” para manter a plebe distante. O interessante é que, como já chamava a atenção Mills, a elite não cede em nada seu poder político ou material para essa “nova classe média” é um jogo de sedução social (simbólica) e nada mais. No vídeo-viral inclusive, a filósofa clama para que essa “nova classe média” assim não se sinta, que não deixe de ser veículo de mudança sócio-histórica para virar bastião do conservadorismo político porque alcançou alguma (falsa) estabilidade econômica. No mesmo vídeo ela chama esse grupo de uma “abominação ética” uma vez que frequentemente a radicalização do conservadorismo em preconceito, do machismo em homofobia, e do anticomunismo em preconceito de classe gera violência. Violência que vemos travestida em bordões como “bandido bom é bandido morto” e que está nos levando de volta à Idade Média quando lincham pessoas simplesmente pela acusação de bruxaria. Para terminar, Chauí ainda acusa esse grupo de ser uma “abominação cognitiva”, pois, segundo ela, essa classe média abandonou o conhecimento formativo (não voltado ao mercado). Nossas publicações de literatura minguam ano a ano e o teatro-reflexão é confinado a uma parcela significativamente pequena da população. Nossas orquestras dependem de verbas governamentais, pois a música se não mercantilizada não sobrevive. Gasta-se mil reais em celulares último tipo, mas um livro ou um ingresso a uma peça de teatro no valor de oitenta reais é considerado caro. É uma “classe média” que acredita que seu conhecimento funcional se basta em si mesmo, que desconhece as fundações daquilo que compra culturalmente, que não conhece a sociedade em que vive, que não tem capacidade de crítica e não sabe seu lugar no tempo. Aqui a mídia tão bem se serve. Dizendo o que é certo e o que é errado. O que deve ou não ser consumido. Um vestido que apareça em novela da Globo esgota-se na loja quase que imediatamente. E um hoax falso na rede se alastra como rastilho de pólvora.

Críticas à parte, depois do ocorrido na abertura da Copa, como não dar razão à Marilena Chauí? Abominações políticas, éticas e cognitivas que podem gastar três ou quatro salários mínimos em apenas uma bela tarde de futebol.

Fernando Horta, historiador, professor, doutorando em Relações Internacionais UNB.

sábado, 7 de junho de 2014


Sindicalismo e peleguismo
Eduardo Mattos Cardoso

eduardomattoscardoso@gmail.com


A crise de representatividade que vivemos não é restrita a vida política. As eleições das grandes cidades, estados e federal são baseadas em propaganda. Não é, em tese, o melhor candidato que vence. É o melhor produto fabricado pelos marqueteiros.

Assim, não sobra espaço para trabalho verdadeiro. O que se faz é especulação. Portanto, todos nós trabalhadores é que arcamos com uma conta que a cada ano que passa fica mais cara com menores salários e o custo de vida mais alto.

Como organização de luta e resistência para melhores condições de trabalho e renda, confia-se aos sindicatos as aspirações dos trabalhadores de diversas categorias. Mas não bastasse o arrocho dos patrões e governantes, agora, como já há algumas décadas, os sindicatos parecem não representar seus associados.

O que está acontecendo com os sindicatos não é nenhuma novidade. Mas vivemos uma situação surreal: trabalhadores querem fazer greve, mas seu sindicato não. Será que os lideres sindicais foram cooptados e corrompidos pela politicagem?

No setor público arrisco um “pitaco” que também não é nenhuma invenção da roda. Sabemos que a maioria dos sindicatos de servidores públicos tem em seus dirigentes figuras filiadas em partidos políticos. Até aí tudo bem. Afinal, todos têm direito de serem filiados a algum partido. O problema é o aparelhamento dessas entidades de classe, ou seja, o sindicato estar a serviço de um partido ou palco de disputas partidárias.

Quando um sindicato não serve à sua classe, vira pelego. E o que mais temos visto é o peleguismo escancarado. Em todas as esferas públicas. No nosso município não é diferente. As relações promíscuas entre direção do sindicato dos servidores públicos municipais de Três Cachoeiras com o partido atualmente no poder são obscenas.

Mas um dos piores exemplos de sindicato pelego hoje é o dos professores estaduais do RS. É uma espécie de “imperialismo” dos partidos ditos de esquerda. Este sindicato é formado por alguns/as parasitas que há décadas não largam o osso e tenho lá minhas dúvidas de que sabem o que é uma sala de aula atualmente.

Crônica publicada no jornal Fato em Foco do dia 06 de junho de 2014

Na torcida
Eduardo Mattos Cardoso

eduardomattoscardoso@gmail.com


Estou na torcida. Se o Brasil ganhar a Copa é bom. Mas se não, segue a vida. Dizem por aí que a vitória ou não da seleção brasileira vai influenciar o resultado da eleição presidencial de outubro. Pode ser. Mas, se a seleção brasileira vence e Dilma é reeleita, como saberíamos o contrário se não aconteceu? Parece que se isso for verdade, o resultado da Copa do Mundo já está combinado. Pagamos, como sempre, pra ver.

No entanto, estou torcendo também para a História de Três Cachoeiras mudar. E pode estar perto disso acontecer. Refiro-me sobre as graves acusações que o PSDB - partido da vice-prefeita Alzira Hainzenreder - fez esses dias e que podem mudar a cena política municipal.

Meu sentimento - e o da maioria dos cidadãos de Três Cachoeiras - é que o prefeito atual e seu partido não têm nenhuma condição e credibilidade para continuar com o cargo. Quem pode acelerar esse processo é a vice-prefeita Alzira e seu partido, confirmando as graves denúncias que fizeram.

É a chance de Alzira ser prefeita. Para sorte ou azar do povo trescachoeirense, só o tempo vai mostrar. Mais competente que o prefeito e seu partido a vice deve ser. Deveria ser a ordem das coisas: se um já demostrou que não tem capacidade para fazer, deixa a outra tentar. Deveria.

Se assim não for, resta ao PSDB e a vice-prefeita Alzira a desmoralização. Não gostaria que assim fosse. Se denunciaram com convicção, mostrem as provas e mudem a História do município. Do contrário, mudem o nome do partido para PRT: Partido do Rio do Terra.

Não bastasse essa instabilidade política, tem de novo Festa do Caminhoneiro. É uma novela interminável. É uma lambança. Só neste mandato a festa virou nacional, municipal e agora “parceiral”. Explico: tem um projeto de lei para ser votado na Câmara de Vereadores que “autoriza o município a firmar parceria com o Sindicato dos Caminhoneiros”. De novo o sindicato “caixa-preta” na volta. Mas esclareçam, se forem capazes, quem paga a conta da festa e quem leva seu lucro.

Crônica publicada no jornal Fato em Foco do dia 30 de maio de 2014

Manipulação social, marketing de tendência e modismos em prol da idiotização coletiva (por Cássio Moreira)
O mundo da moda sempre foi feito de tendências. A indústria de forma geral tem valorizado cada vez mais esses fenômenos. Eles não acontecem por acaso, muitas vezes são construídos lentamente por pessoas especializadas, principalmente por meio dos veículos de comunicação que são as fábricas da padronização cultural. Muitas teses, dissertações, livros e artigos abordam a cumplicidade entre mídias e o poder (a política), especialmente à televisão. Como fábrica de cultura, ela pode expor de maneira descontextualizada comportamentos que, embora existam na realidade, são padronizados e mostrados como modelos, e assim potencializados.

Em um livro de Maria Helena Weber “Comunicação e Espetáculo da Política”, a autora faz uma relação entre as telenovelas – “Vale Tudo” (16.05.88 a 07.01.89), “O Salvador da Pátria” (09.01.89 a 12.08.89) e “Que Rei Sou Eu?” (13.02.89 a 16.09.89) com as eleições presidenciais de 1989. A autora se baseia na hipótese de que a Rede Globo tem a capacidade para (des)qualificar qualquer tema problemático (des)vinculado dos seus interesses políticos e econômicos, especialmente aqueles relacionados à política e, naquele caso, à participação dos brasileiros no seu reingresso ao processo de redemocratização e construção do País. Nas três novelas foi feito, conforme a hipótese, um processo de despolitização e desqualificação da política nacional. Elas abordaram temas ou farpas políticas no período pré-eleitoral e podem ter sido fundamentais na construção de ideias sobre política e políticos num período tão curto de volta a democracia. Essas três novelas fizeram um triângulo astuto, modernizador e aparentemente engajado na problemática nacional. O fascínio dos personagens e a inovação da temática política explícita mobilizaram opiniões balizando a repercussão dessas telenovelas como ficção e informação. As três telenovelas se complementaram e se tornaram interdependentes quanto aos resultados finais, por meio da combinação estratégica dos períodos de veiculação em 1988 e 1989, conforme a autora. Em sua abrangência temática “Vale Tudo” introduziu o telespectador no processo comparativo entre a classe dominante (da qual o País depende, mesmo sendo por ela espoliado) e a classe dominada. Mostrou como o capital nacional pode ser utilizado para viagens ao exterior. Potencializou a ideia (que em parte é verdade) de que quem tem dinheiro pode usar seu poder para roubar, matar e fugir, enquanto o povo paga e não pode fugir das implicações da ascensão social e da sua (des)honestidade. Essa telenovela apresentou e justificou a impunidade da classe dominante, num país maculado pela burrice e preguiça do povo, cujas exceções são premiadas com o amor.

O “Salvador da Pátria”, na mesma linha, mostrou a infiltração das classes dominantes na política, numa cidade do interior e sua relação com o trafico de drogas e à disputa de cargos. Abordou, didaticamente, como os interesses das classes dominantes e do povo podem confluir na escolha de um candidato, em beneficio de uma cidade e, especialmente, como qualquer candidato pode ser constituído a partir do nada. Mostrou também como uma pessoa sem instrução pode ser facilmente manipulada para fins corruptos (lembrando que tínhamos um candidato sem nível superior chamado Lula).

“Que Rei Sou Eu” completou o ciclo e foi veiculada, paralelamente, à novela “O Salvador da Pátria”, ambas valorizadas pela especificidade dos seus horários: antes e depois do Jornal Nacional. Ambientada no século XVIII, entre um castelo e uma taverna, sua trama era uma explícita metáfora sobre a política fazendo uma paródia do Brasil governado por José Sarney: país das vantagens a qualquer custo, do vale-tudo legalizado, do governo decadente, do humor como solução. A sátira é o condimento do tema político, e o sofrimento fica restrito ao amor. Novamente se demonstra a construção de um político, no caso um rei, por meio de um mendigo de barba preta que depois se torna um déspota sanguinário (lembrando fisicamente o candidato Lula). Nos últimos capítulos, o povo invade o castelo, mas liderado por nobres honestos e pelo verdadeiro príncipe herdeiro, que vivia entre o povo, uma espécie de Robin Hood (lembrando que tínhamos um candidato, caçador de marajás, chamado Collor, cujo slogan era o Brasil Novo). A diferença é que o rei empossado é belo, jovem, audaz, honesto, justo, defensor do povo, ao qual promete um novo país. Esse país chamado Avalon, semelhante ao Brasil, tinha vários políticos “velhos” em uma época que havia candidatos mais experientes como Ulysses Guimarães e Leonel Brizola disputando as eleições. Enfim, a salvação da pátria “Vale Tudo” dependia de dois heróis: o salvador de “O Salvador da Pátria”, cuja origem descamisada o faz usufruir e se corromper com o poder, ou a opção pelo rei, de “Que Rei Sou Eu”. Embora tendo sido criado entre o povo rude, portava toda sabedoria e majestade necessárias ao resgate da pátria. Suas origens estavam diretamente relacionadas ao poder. Na verdade, estava sendo dito: não cabe ao povo sua transformação social porque esta só pode ser feita por aqueles que conhecem o poder, que são gerados por ele ou nele têm raízes. Partindo da hipótese de que a Globo apoiava o candidato Fernando Collor de Mello, que foi o presidente eleito, sua vitória poderia ser previsível. (Fonte)

De certo modo pode-se conjecturar que todo o conteúdo veiculado em um determinado e estratégico período necessitava de um aliado fundamental: o imaginário, por meio da emoção qualificada em capítulos, extrapolando a simbiose entre a verdade jornalística e a publicitária. Como resultado possível, identifica-se a desqualificação da política num período estratégico à mudança de governo e definitivo à mudança da sociedade. A análise das coincidências (como se existissem em comunicação!) entre os roteiros da ficção e da política dá maior relevância às telenovelas quando, a partir de seus capítulos, atores e temas, informações, propaganda, realidade, ilusões e projetos foram transformados em aliados, fortalecendo e confundindo o telespectador e seu voto. Interessante relembrar as eleições de 1989.

Em 2010, no ano das eleições presidenciais, o coordenador da campanha da então candidata à Presidência da República Dilma Rousseff (PT), Marcelo Branco, criticou o texto da vinheta de aniversário da Rede Globo que, segundo ele, remetia ao número de José Serra (PSDB), quando a emissora comemorava 45 anos. Por causa disso, a Globo teve de suspender a campanha comemorativa.

Em 2012, a Rede Globo lançou uma minissérie chamada “O Brado Retumbante” que contava a história de um senador que assume a Presidência da República, após o Presidente e o Vice morrerem em um acidente. As semelhanças entre o personagem principal e o atual candidato a presidência da república são curiosas. O presidente acidental do seriado, Paulo Ventura, era um bon-vivant, mulherengo, incorruptível que chega ao posto máximo da política brasileira após a morte do presidente e do seu vice numa mesma viagem. A semelhança física até o estilo lembrava muito o atual candidato do PSDB. (Fonte).

Em 2014, ano de novas eleições presidências a Globo sofre novamente com as acusações e em nota, se defendeu, afirmando que “não precede em absoluto” a acusação de mensagem subliminar em prol do PSB e PSDB na logomarca da telenovela Geração Brasil. (Fonte).

O significado da palavra manipulação pode ser entendido como tratar uma pessoa ou grupo de pessoas como se fossem objetos, a fim de dominá-los. Assistir televisão, ler revistas ou jornais ou navegar na Internet são ações corriqueiras do nosso cotidiano. Todos os dias somos bombardeados por diversas “informações” que têm como objetivo nos “vender’ alguma coisa: uma ideia, um sonho, um produto, um modelo de vida, etc. Esse casamento entre a indústria da informação e do entretenimento influenciam constantemente nossa sociedade e em consequência, também, a educação de nossas crianças. Pode-se afirmar que o modo de vida e a interação humana são influenciados e controlados crescentemente pelos meios de comunicação. E é neste ambiente de interação com o mundo e de conceitos e significados que a criança é colocada frente a frente com televisão. Essa passa a ser parte integrante da família, uma espécie de “babá eletrônica”. Como negar a influência da TV, presente na quase totalidade dos domicílios brasileiros, sobre a formação das identidades sociais e do imaginário popular sobre diversos temas? Quando ouvimos falar que a mídia representa “o Quarto Poder” em uma nação, é preciso avaliar como isso é verdade e o quanto estamos sujeitos a ela e a todas as suas variáveis. A mídia influencia as pessoas no modo de agir, de pensar e até no modo de se vestir. Ela cria as demandas, orienta os costumes e hábitos da sociedade, além de definir estilos, bordões e discussões sociais. A mídia dita às regras, as tendências, os ídolos a serem adorados e seguidos, impondo padrões de beleza cada vez mais inatingíveis. A produção da indústria cultural é direcionada para o retorno de lucros tendo como base padrões de imagem cultural preestabelecida e capazes de conquistar o interesse das massas sem trabalhar o caráter crítico do espectador. Os adolescentes são bombardeados com produções e marcas internacionais e as crianças estão à mercê dos desenhos infantis. Como diria Humberto Gessinger relação ao sistema: “ eles ganham a corrida antes mesmo da largada”.

Dessa forma, seria impossível a escola, ou os pais das crianças ignorarem os robôs que falam, as naves espaciais que a todos fascinam, a capacidade de voar e de transformar coisas, a magia, o poder e o terror trazido pelos monstros e vampiros; as lutas do bem contra o mal nos desenhos animados, a violência mostrada nos noticiários. Alguns dos programas de TV apresentam constantemente valores questionáveis. Essas mensagens irão determinar como nossos filhos serão? Irão determinar sua honestidade, solidariedade, respeito e outros valores (Fonte).

De certo modo, isso poderia ser apelidado quase como de uma lavagem cerebral (também conhecido como Reforma de pensamento ou Reeducação). Na prática significa qualquer esforço constituído visando modificar o pensamento e o comportamento do indivíduo para um novo sistema de valores, cujo principal objetivo é gerar lucros. Quatro técnicas podem ser usadas, conjuntamente, para essa reprogramação que pode ser utilizada para manipular pessoas sem elas terem a menor noção que isso está ocorrendo: a) mensagens subliminares (um caso famoso é o do publicitário Jim Vicary, que, em 1956, inseriu as mensagens “Beba Coca-Cola” e “Coma pipoca” entre as cenas de um filme, o que teria aumentado o consumo do refrigerante em 57% e o de pipoca em 18% na saída do cinema); b) repetição e reprogramação (frase de Joseph Goebbels, cientista nazista, que dizia que “uma mentira contada mil vezes, torna-se uma verdade”), pois o cérebro humano funciona mais ou menos dessa maneira e, quando não estamos preparados com um senso crítico aguçado, acabamos acreditando em mensagens que são repetidas inúmeras vezes; c) ritmo e progressão (algumas das técnicas mais eficientes para reeducação de pensamento exigem a utilização de frases e sons ritmados, capazes de fazer com que os ouvintes sejam imersos na atmosfera que o orador está criando); d) Merchandising (você pode nem perceber que os comerciais começam antes mesmo de o intervalo ser anunciado). (Fonte).

Outro estudioso do assunto, Noam Chomsky, atribuía dez formas de manipulação: 1) A estratégia da distração (desviar a atenção do público dos problemas importantes), 2) Criar problemas e depois oferecer soluções (intensificar noticiários sobre violência urbana a fim de que o público seja o demandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade ou “criar” uma crise econômica para forçar a aceitação, como um mal menor, do retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços púbicos), 3) A estratégia da gradualidade (para fazer com que uma medida inaceitável passe a ser aceita, bastaria aplicá-la gradualmente), 4) A estratégia de diferir (para a aceitação de uma decisão impopular deve-se obter a aceitação no momento para uma aplicação futura, 5) Dirigir-se ao público como se fossem menores de idade (utilizar discursos, argumentos, personagens infantis), 6) Utilizar o aspecto emocional mais do que a reflexão, 7) Manter o público na ignorância e na mediocridade (educação precária e despolitizada), 8) Estimular o público a ser complacente com a mediocridade (levar o público a crer que é moda o fato de ser estúpido, vulgar ou inculto), 9) Reforçar a autoculpabilidade (famoso complexo de vira-lata, ou seja, fazer as pessoas acreditarem que são culpadas por sua própria desgraça, devido a pouca inteligência, por falta de capacidade ou de esforços), 10) conhecer os indivíduos melhor do que eles mesmos se conhecem (muitas pessoas acham que não são manipuladas, mas somos todos os dias, de várias formas diferentes).

Com a expansão da abrangência das Redes Sociais, os usuários se transformam em vetores de “informações”. Se ele gostou de algum produto, serviço ou ideia ele será um divulgador potencial disso. A construção de uma tendência é reunir esses “vetores” e aponta-los para uma mesma direção. A empresa Apple fez isso de forma competente com seus produtos. Ela soube entender de seres humanos mais do que de produtos, satisfazendo as suas necessidades reais, que por vezes vão muito além das materiais. Os estudos de tendências ultrapassam o foro normal do marketing, da comunicação, da cultura, dos estudos de mercado e de consumo, da moda, da sociologia e da economia. Na verdade, são a mistura de todas estas áreas com uma orientação para a compreensão da natureza das vontades, dos desejos e dos padrões de comportamento dos indivíduos e dos grupos sociais.

Existem algumas reformas, entre tantas outras, que são urgentes em nosso país. A mãe de todas essas reformas é a Reforma Política. Que melhore a representatividade da população no Congresso. Sua irmã, é a Reforma Tributária, que torne nosso sistema tributário mais justo. Bob Fernandes da TV Gazeta, um dos melhores comentaristas sobre política da atualidade, aborda muito bem esse tema neste vídeo. (Sugiro assistir outros vídeos neste endereço).

Existe ainda uma reforma que é crucial para a melhora da sociedade que é a Regulamentacão dos Meios de Comunicação, ou seja, o fim do oligopólio da informação. Pois não podemos repetir o que aconteceu na noite de 22 de dezembro de 1988, quando o país inteiro parou para assistir o assassinato anunciado de Odete Roitman , uma vilã da novela Vale Tudo, interpretada por Beatriz Segall, na mesma noite que nos confins do Brasil, em Xapuri, morria assassinado Francisco Alves Mendes Filho, se no Brasil quase ninguém sabia da existência de Chico Mendes, mundo a fora havia essa preocupação com sua morte anunciada. No dia seguinte, em manchete de primeira página: “quem matou Odete Roitman? e em uma nota de rodapé “morre Chico Mendes”. Algo devia estar errado com essa sociedade e ainda está.

Portanto, a maior ameaça à democracia, à justiça social e o desenvolvimento socioeconômico desse país é o controle oligopolista de algumas empresas sobre a economia da informação. Citado as palavras do trabalhista inglês, Tony Benn: “ Acho que a democracia é a coisa mais revolucionária do mundo. Mais revolucionária do que ideias socialistas ou de qualquer outra pessoa. Se tiver poder, você o usa para prover as suas necessidades e as da sua comunidade. Essa é a ideia de escolha da qual “O Capital” fala constantemente: ‘Tem que ter uma escolha’. A escolha depende da liberdade de escolher. E, se estiver coberto de dívidas, não tem liberdade de escolha. Parece que o sistema se beneficia, se o trabalhador comum estiver coberto de dívidas. Pessoas endividadas perdem a esperança. E pessoas sem esperança não votam. Dizem que todas as pessoas devem votar. Mas acho que, se os pobres, na Grã-Bretanha ou nos Estados Unidos, [Brasil] votassem em pessoas que representassem seus interesses, seria uma verdadeira revolução democrática. E não querem que isso aconteça. Por isso mantêm as pessoas oprimidas e pessimistas. Penso que há duas formas de controlar as pessoas: primeiramente, assustando-as. E, em segundo, desmoralizando-as. Uma nação educada, saudável e confiante é mais difícil de governar. E acho que há um elemento no pensamento de algumas pessoas: Não queremos que as pessoas sejam educadas, saudáveis e confiantes. Porque ficariam fora de controle” (ver vídeo).

“Um por cento da população mundial detém 80% da riqueza. É incrível que as pessoas tolerem isso. Mas elas são pobres, estão desmoralizadas, estão assustadas. E então, pensam que o mais seguro é seguir ordens e esperar o melhor” (sugiro ler um novo economista francês que é fenômeno mundial chamado Piketty).

Por isso precisamos urgentemente de uma Reforma Política e nos Meios de Comunicação. Assim como mantermos o voto obrigatório, afinal: “o voto é um direito, mas, como qualquer outro direito, ele traz consigo obrigações. A educação também é um direito, mas os pais são obrigados a colocar os filhos na escola. A saúde é um direito, mas as famílias têm a obrigação de vacinar seus filhos. Mesmo o título dos direitos e garantias fundamentais é aberto com o capítulo que se intitula “Dos direitos e deveres individuais e coletivos”. O célebre e generoso art. 5.º, que expressa todo o sentido do apelido de “Constituição Cidadã” dado à Carta Magna brasileira, começa proferindo que “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações”. Do voto deveríamos pensar o mesmo. É um direito e igualmente uma obrigação. O cidadão que quer direitos está assumindo que tem uma relação com o Estado, que é o agente responsável por garantir esses direitos e cobrar as obrigações. O cidadão que tem o direito de reclamar do Estado, a plenos pulmões, é o mesmo que tem a obrigação de dizer ao Estado que rumo ele deve tomar. Para que o Estado represente o que o cidadão quer, o pressuposto é que ele, na condição de eleitor, diga o que quer e o que não quer (dica de site).


Cássio Moreira é economista, doutor em Economia do Desenvolvimento (UFRGS) e professor do IFRS – Câmpus Porto Alegre. www.cassiomoreira.com.br

segunda-feira, 26 de maio de 2014


Ideias e piadas

Eduardo Mattos Cardoso

eduardomattoscardoso@gmail.com



Está chegando a Copa. E a pergunta continua: Copa para quem? Sim, porque a grande maioria (esmagadora) da população brasileira vai ter que se contentar com o evento pela TV. Mas tem uma turma prometendo agitar com protestos para todos os lados. Salve-se quem puder.

Enquanto isso, as discussões, debates e pensamentos continuam. A capital esteve movimentada de ideias. Tivemos o retorno do Fronteiras do Pensamento. O tema da temporada é “Ideias para Reinventar o Mundo”. A primeira conferência do ano foi com o escritor britânico/indiano Salman Rushdie, autor de “Os versos Satânicos” que provocou a ira dos muçulmanos. Em 1989 o Aiatolá Ruhollah Khomeini ordenou a execução de Rushdie por ofensa a Maomé.

Outro evento interessante aconteceu em Porto Alegre: o Fórum Unimed, que reuniu jornalistas e convidados para tratar de “Futebol e Sociedade”. Entre estes, Roberto da Matta autor de “Carnavais, Malandros e Heróis” (livro já apresentado por este cronista), obra essencial para entender a nossa sociedade através do “sabe com quem está falando” e do inigualável “jeitinho brasileiro”.

Neste mesmo evento se apresentou o filósofo e sociólogo francês Giles Lipovetsky, autor de livros instigantes como “O Império do Efêmero”, “A Era do Vazio”, entre outros, onde aborda temas como o hiperindividualismo, a medicalização da sociedade, a moda e a globalização.

Sobre consumo e crise mundial, Lipovetsky é enfático; “não há uma recusa do consumo, mas comportamentos mais razoáveis para continuar consumindo,... pois se o carro perde importância, os tablets e os smartphones interessam cada vez mais”. Para as nações “emergentes” afirma que o consumo de distinção ainda existe em países como Brasil e China onde os novos ricos querem mostrar o que têm. “A ostentação é a característica dos novos ricos”, afirma o pensador.

Mas não vivemos só de ideias sérias. De vez em quando temos que descontrair. Nisso não precisamos ir longe. Na cidade que pode mais tem sempre uma piada nova. A última: prefeito atual já fala em reeleição! Rá! Mais uma pegadinha!? Deve ter se emocionado com o desabafo da vice ou conheceu o cachimbo da paz.

Crônica publicada no jornal Fato em Foco no dia 23 de maio de 2014