sexta-feira, 18 de julho de 2014


Tempos de escola

Eduardo Mattos Cardoso
eduardomattoscardoso@gmail.com

Há vinte anos comecei a cursar o Segundo Grau, que hoje se chama Ensino Médio. Era um privilégio ainda. Em 1994 cursar tal nível de educação não era obrigatório. Mas era necessário. A oferta de empregos não era como hoje. Era uma oportunidade que tínhamos de seguir a vida, continuar estudando e melhorá-la.

Tempo diferente. Geração peculiar aquela. Além de necessidades tínhamos ideias, paixões e vontade de mudar. A tecnologia era restrita. O computador ainda era de “outro mundo”. Internet muito mais. Parece que éramos menos “alienados” e controlados do que os jovens de hoje. Percepção ou constatação?

Os tempos e espaços pareciam outros, embora a escola, salas de aula e alguns professores e funcionários sejam os mesmos até hoje quando retornei como professor. Saudosismo? Pode ser. Mas era bom, como hoje também, guardados os gigantescos desafios da carreira e da educação.

Estudei os três anos do Segundo Grau usando a bicicleta como meio de transporte. Todos os dias, salvo algum de temporal muito severo, me deslocava do Santo Anjo até Três Cachoeiras pedalando. Mas geralmente não fazia essa “viagem” sozinho. Contava com a companhia dos amigos Mauro e Maurício que também encaravam a aventura diária de “magrela”. A parceria estreitava a relação de amizade.

Estudávamos à tarde. Naquele ano só tinha nesse turno. O almoço tinha que ser reforçado, pois não tinha merenda para as turmas daquele nível. Mas recordo com muito carinho das “tias” da merenda que sempre que possível nos davam algumas bolachas ou o que sobrava da merenda do dia.

Em 1996, quando me formei, a educação começava a passar por mudanças. Foi aprovada a LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, através da lei 9.396 do mesmo ano. De lá para cá sofreu alterações significativas como, por exemplo, a obrigatoriedade da matrícula dos 4 aos 17 anos de idade.

Há vinte anos eu era aluno. Ia à escola por vontade, sem obrigação. Hoje assisto, como professor, a obrigatoriedade sem comprometimento, com ônibus na porta de casa e merenda digna todos os dias para todos os alunos, entre outras facilidades. Será que vai dar certo?

Crônica publicada no jornal Fato em Foco do dia 04 de julho de 2014