sexta-feira, 18 de julho de 2014


Um homem perigoso

Eduardo Mattos Cardoso
eduardomattoscardoso@gmail.com

Na última terça-feira, 24 de junho de 2014, a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul deu continuidade ao projeto Gaúchos da História. O personagem desta vez foi Leonel Brizola, o estadista da educação. O seminário teve como tema “Pensamento, legado político e social do grande líder trabalhista gaúcho” e contou com painelistas e debatedores políticos e jornalistas. A data é pela passagem de dez anos da morte de Brizola ocorrida em 2004.

Não é de agora que “os donos do poder” tentam “avacalhar” a política. Depois que o PT gostou “do jogo jogado” quando chegou ao poder em 2003, ficou fácil e confortável para a mídia dominante arrotar o tempo todo que “político é tudo igual”. Lula que representava a mudança confirmou isso. Caímos no conto do novo estadista que talvez pelas condições em que foi gestado nunca poderia ser tal.

Quando Lula ainda parecia autêntico de esquerda, Brizola aceitou ser seu vice. Era tarde. O PT de esquerda não poderia chegar ao poder. Muito menos Brizola, que segundo “os donos do poder”, era a verdadeira ameaça. Ingenuidade pensar que quem manda no Brasil “dorme de touca”. O serviço secreto dos EUA anotava no início da década de 1960: “Esse governador expulsou duas empresas nossas, de telefonia e energia elétrica, e ainda construiu escolas por todo estado. Leonel Brizola é perigoso”.

Trabalhismo vem de trabalho. Era a marca de Brizola, João Goulart e Getúlio Vargas. Mas no fim da década de 1970, com a abertura política, surgia um novo partido em nome do trabalho, o Partido dos Trabalhadores. As afirmações de Léo de Almeida Neves (Deputado cassado em 1969 pela Ditadura) sobre o período são interessantes: “Entrou em ação o “mago do regime”, o estrategista General Golbery do Couto e Silva. Houve tolerância para as reivindicações operárias do ABC paulista, conduzidas por Luiz Inácio Lula da Silva, e ao robustecimento de um sindicalismo sem compromissos com o trabalhismo, e desvinculado de Brizola. Depois, serviram-se da ex-deputada Ivete Vargas, cujo marido trabalhava para Golbery, a fim de aprovar um simulacro de partido de apoio ao sistema vigente, já nos seus estertores. Manobrando com a frágil Justiça Eleitoral da ocasião, conseguiram registrar um artificial PTB, solidário ao governo inclusive nas votações no Congresso”.

Brizola e o autêntico trabalhismo, a partir de um novo partido, teriam chance?

Crônica publicada no jornal Fato em Foco no dia 27 de junho de 2014