quinta-feira, 25 de setembro de 2014


Desfiles

Eduardo Mattos Cardoso
eduardomattoscardoso@gmail.com


Qual o sentido dos desfiles cívico/militares que se realizam no país, estado e município? As pessoas que assistem ou participam entendem por que existem tais atividades ou simplesmente acham bonito? São perguntas que todos os anos por essa época me faço.

Participei de alguns desfiles em Porto Alegre, no fim da década de 1990 e início dos anos 2000, quando era militar da Aeronáutica. Quando nossos grupamentos passavam marchando em frete ao palanque das autoridades, aviões de carga e caça sobrevoavam o evento. Os expectadores vibravam, principalmente quando “caças” F5 da Base Aérea de Canoas faziam rasantes ensurdecedores. Tudo muito bonito.

O que os presentes – ou quem assiste pela TV – não sabiam, e talvez não saibam até hoje, é que as forças armadas brasileiras daquele período estavam e continuam sucateadas e que para parte do oficialato a ditadura foi uma “coisa boa” para o Brasil, pois nos livrou da “ameaça comunista”. E a “lavagem cerebral” nos quartéis continua. É amor à pátria às avessas.

No que se refere aos “desfiles farroupilhas” é necessário “pisar em ovos”. Qualquer questionamento ao tradicionalismo gaúcho é quase uma afronta. Inventar tradições é o que mais a humanidade fez e faz, segundo o falecido historiador Eric Hobsbawm. Cultuamos coisas inventadas o tempo todo. É normal. No entanto, saber um pouquinho das origens das nossas tradições não faz mal nenhum.

Entre as funções de um professor de História, e de todos os mestres em geral, está a de “derrubar” mitos, heróis, crendices e coisas ditas como “sempre foram assim”. Nesse sentido, a participação de escolas públicas, principalmente as estaduais, em desfiles cívicos merece ser repensada. Na ditadura as escolas públicas eram pequenos quartéis, acessíveis para poucos e com professores bem pagos. Hoje a educação pública estadual está sucateada. Faz sentido desfiles de faz de conta para maquiar a realidade do caos educacional?

Crônica publicada no jornal Fato em Foco do dia 12 de setembro de 2014