segunda-feira, 29 de setembro de 2014


O babão e a eleição
Eduardo Mattos Cardoso
eduardomattoscardoso@gmail.com


A proximidade da eleição vai revelando em certas pessoas atitudes surreais e bizarras. Tudo por interesse estritamente particular. A palavra coletivo só existe na empolação dos discursos. Uma reforma eleitoral decente poderia ajudar a diminuir a “pornografia eleitoral”. Existe ato mais obsceno do que babão fazendo campanha para ladrão? É o ditado adaptado: “babão que faz campanha para ladrão tem cem anos de perdão”? Eu não perdoo.

A esculhambação geral da política incentivada pela grande mídia tem dado certo. Quem assiste novela repete direitinho o que os donos do poder querem: “político é tudo igual”. Aí pronto, é só investir um dinheirinho que se elege o candidato que quiser. Quer confirmar? Procure na internet por www.donosdocongresso.com.br.

Mas a farra está solta. E os picaretas também. Nosso sistema político é viciado e do jeito que está não representa o coletivo nos seus anseios. Evidente que existem exceções. Alguns defendem que a prestação de contas para com a justiça eleitoral – popularmente entendida como voto obrigatório – é uma maneira de integrar a sociedade nas discussões políticas. Tenho dúvidas.

Outros esperam que as mudanças venham de cima. Não acredito. De onde não se espera é daí que não vem nada. De baixo vamos tentando. Despertar em um jovem de Três Cachoeiras um olhar crítico sobre a política é uma tarefa babilônica. Poucos têm lastro familiar para isso. Numa cidade onde prevalece a cultura do jeitinho e da corrupção essa “missão” se torna quase impossível.

Na minha ingenuidade, achava que existiam “grupos” mais politizados que outros, sejam por escolaridade ou categorias de trabalhadores. Estou revendo essa “crença” nos conscientes. Decepção ou constatação? Rico vota na direita. Normal. Pobre despolitizado muitas vezes também. Mas a minha categoria profissional é um caso a parte. Partidos de esquerda valorizam a educação historicamente. É fato. Os de direita desmontam. Mas o interesseiro não se importa com isso. Vota contra a própria categoria. Coisa de babão de eleição.

Crônica publicada no jornal Fato em Foco do dia 26 de setembro de 2014