segunda-feira, 22 de julho de 2013

O bode

Eduardo Mattos Cardoso

Professor Mestre em História


De tempos em tempos aparece uma novela boa. Quando era bem pequeno lembro-me de uma que se chamava “Que rei sou eu”. A história se passava num reino fictício. Lá pelas tantas teve eleição. E a maioria do povo escolheu, adivinhe quem, o “Bode Zé”. Era um protesto. Mas era emblemático.

O bode é um animal muito importante no nordeste semiárido brasileiro. Devido sua resistência naquele ambiente seco. Mas a palavra bode pode ter sentido pejorativo na linguagem popular. Além do que pode significar confusão. Ainda tem o bode expiatório que é o indivíduo que paga pela culpa alheia.

Numa sociedade altamente hipócrita como a nossa o caprino expiador está em todas. O culpado é sempre o outro, ou outra pessoa. Nunca eu. Parciais são os outros. Em lugares onde a perfeição é aprimorada há bode para tudo. Nossa cidade é exemplar nesse quesito.

Como as novelas andam ruins, prefiro a da Câmara de Vereadores de Três Cachoeiras. É mais emocionante. Já que a Secretaria de Educação e Cultura não sabe o que é Educação e muito menos Cultura sobra o capítulo legislativo semanal. Pelo menos não é um monólogo. Embora tentem o fazer.

O vereador biônico está tentando fazer a sua parte. Mas é complicado. O último capítulo antes do recesso parlamentar (nome bonito para férias) de meio de ano foi diferente. Teve a participação especial de secretária e funcionária para falar e esclarecer dúvidas sobre a perda dos R$300.000,00 e consequentemente do futuro ginásio municipal ao lado da escola Angelina Maggi.

Mais uma tentativa de explicar o inexplicável e tirar o corpo fora. Da incompetência à inocência existe uma separação muito tênue. Para o ouvinte desavisado os discursos com palavras bonitas impressionam. Mas não há nada de novo. Pura empulhação. Dos nove vereadores um não perguntou nada. Adivinhe? Quem paga a conta?

Como poucos neste município tem capacidade e hombridade de assumir erros, o que esperar de nossos funcionários públicos “boquistas”? A diferença de “Que rei sou eu” para Três Cachoeiras é que naquela novela o “Bode Zé” não assumiu o cargo, é claro. Mas em nosso município aconteceu o contrário. Resumo da ópera: como incompetência não se assume (é sempre culpa de outro) e devido a “forças superiores” ficou fácil para o dr. falastrão narrador decretar a existência de um bode expiatório que de tão expiatório foi até promovido. Essas “forças superiores”...! Deu bode.

Artigo publicado no Jornal O Fato em Foco no dia 19 de julho de 2013.