Seu
Onzinho
Eduardo
Mattos Cardoso
Seu Onzinho
é um típico trescachoeirense. Como a maioria, honesto e trabalhador. Mas antes
de tudo ele ressalta: – detesto quando
tentam me enrolar; a mentira tem perna curta! exclama seu Onzinho enfático.
Mas ultimamente anda meio atarantado,
com a ideia confusa. Não lhe faltam razões. Principalmente na política, pois de
resto vai se levando.
Onzenildo
foi apelidado carinhosamente como seu Onzinho. Mania de Três Cachoeiras. Se
sente muito bem quando é recebido calorosamente na fantástica fábrica de
favores: – olá seu Onzinho, como vai? O
que o senhor precisa hoje? Mas não respondem suas perguntas como antes.
Quando na
época de eleição estava contente com o que vinha sendo feito. Mas as promessas
e mais promessas foram tantas que seu Onzinho acabou acreditando que Três
Cachoeiras podia mais e embarcou na mudança. Estranhou um pouco seu candidato
não aceitar um debate. Mas continuou firme e viu seu candidato ser eleito.
Desde a
eleição vem acompanhando tudo. No dia da posse chorou copiosamente nos
discursos dos empossados. Era muita emoção. Desde antes da posse ouvia do atual
prefeito que a prefeitura estava “quebrada”, sem dinheiro e que as máquinas
também estavam quebradas. Acreditava no prefeito e nas suas palavras. Era uma
calamidade. Estava ansioso. – Coitado do
prefeito – pensava.
Nos
primeiros dias de governo começou a desconfiar dos gestores que ajudou a
eleger. Também pudera. Ouviu a seguinte frase de um empresário matuto da
cidade: – nóis elegemo o Pinóquio; elegemo
quarqué um, pode sê até o Bode Zé; o que importa é tirá aquela gente de lá pra
nóis toma conta; agora é nóis que mandemo de novo.
Passou uns
dias e lá estava uma máquina da prefeitura arrumando sua rua. Logo pensou: – mas o prefeito disse que tava tudo
quebrada! Na última semana Seu Onzinho se sentiu enganado. Soube que a
Câmara de Vereadores de Três Cachoeiras aprovou aumento de 44% para
secretários. – Como que pode dar aumento
de 44% pra secretário se a prefeitura tava quebrada! Esse prefeito só pode tá
tirando a gente pra bobo.
Como não
gosta de rodeio imediatamente fez uma ligação para o telefone mágico. Tentou
uma, duas, várias vezes. Desligado. Tentou falar com o prefeito. Não estava em
lugar nenhum. Um vizinho disse que nem na rádio apareceu mais.
–
É –
desabafou seu Onzinho – acreditei na
história da carochinha! (acho que quis dizer na do chapeuzinho vermelho!). – Mas nada do que um dia depois do outro.