segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Caixa preta e suas possibilidades
Eduardo Mattos Cardoso

Professor Mestre em História


No cotidiano laboral converso com professores de todas as áreas do conhecimento. Ultimamente tenho me detido mais à Matemática e a Física. Desde que estudava sempre as tive como ciências exatas, portanto lógicas. A Física tem me surpreendido com seus estudos sobre Física Quântica. Grosso modo, seria a física das possibilidades. Ou ainda, que o mundo (as coisas, os acontecimentos, etc.) seria fruto de nossos desejos, de nossas aspirações.

A Matemática, desde que aprendemos, usamos diariamente. Como vivemos num mundo de troca de quase tudo (trabalho, produtos, serviços, saúde, etc.) por dinheiro, é conhecimento essencial. Aprendemos a lógica da matemática e ponto: 2+2=4. Cada um nas suas casas, principalmente pais e mães que sustentam suas famílias, tem que administrar seu orçamento. Se tem X de dinheiro só pode gastar aquele X. Se tiver uma despesa extra no orçamento? Como é que faz?

No mundo econômico governamental a matemática se transforma. Os números são virtuais. Concretizam-se ou evaporam por palavras. Nas bolsas de valores os mercados financeiros ganham vida e com isso sentimentos; ouvimos frequentemente nos noticiários que o “mercado estava nervoso” e por isso as ações se desvalorizaram. Neste mundo globalizado inventado e líquido nem a Matemática têm mais lógica. Pode estar no caminho da Física, no caminho das possibilidades.

Nesse sentido, quanto mais ocultamento melhor. A administração do dinheiro público é uma caixa preta que não se abre ao público. Todos os anos União, Estados e Munícipios elaboram seus respectivos orçamentos para o próximo ano. É um documento que indica valores, números, ou seja, quanto se tem de dinheiro para ser gasto nas diversas necessidades. Concluiríamos: pura Matemática! Errado, possibilidades.

Nosso município não foge à regra. E nos surpreende a cada dia. Números e valores são palavras. Quando não se quer fazer algo usam a palavra orçamento. “Não esta no orçamento, então não podemos fazer”. Quando se quer não precisa orçamento. Questão de querer. Mas é "chover no molhado"! É o “jeitinho” institucionalizado e legal. Especialistas tentam fazer cálculos: município quebrado X 44% de reajuste para secretários; contratações de pessoas e empresas X quanto custam; dinheiro não previsto em orçamento para festa do caminhoneiro X saúde é para quem tem QI; Câmara de Vereadores é um banco que distribui dinheiro sem nenhum critério X os vereadores de oposição só ficam sabendo depois do dinheiro gasto. Não fecham as contas. Infelizmente, a covardia e a promiscuidade imperam. Salve-se quem puder.


Artigo publicado no Jornal O Fato em Foco de 09 de agosto de 2013