terça-feira, 20 de agosto de 2013


Esquadrão da fofoca
Eduardo Mattos Cardoso

Professor Mestre em História


Dias atrás um jornal televisivo denunciou um deputado mineiro “instruindo” seus correligionários. Era um “intensivo” com vista à eleição de uma cidade do interior de Minas Gerais. A “aula” recomendava dois pontos básicos: primeiro era “botar no bolso” dos eleitores um “cartão” - por aqui chamado de “santinho” - na quantia necessária com sobra para o candidato ser eleito. Segundo, era criar uma espécie de “esquadrão da fofoca” para difamar o opositor, espalhando mentiras e coisas do gênero. Isso faria com que o candidato atacado perdesse mais tempo se defendendo do que fazendo campanha.

Ainda bem que esse deputado não conhece Três Cachoeiras. Se conhecesse descobriria que essa ideia de fofoca organizada já foi inventada muito tempo antes por aqui. Descobriria ainda que já existe a “fofoca moderna” além do método tradicional do boca-a-boca nos botecos, salões de beleza e outros lugares de ajuntamento de pessoas e até de porta em porta. Ficaria informado que a “cidade que pode mais” está sempre inovando. Parece que esta em andamento o processo de “patenteamento” de um novo “aplicativo” para computadores e esses telefones “modernos”. Criação nossa. Prata da casa. Chama-se “Fofobook”. Ao que indica esses técnicos juntaram o tradicional com as redes sociais.

Esse povo trescachoeirense tem potencial. Muitos acreditam nisso. Um amigo sempre me diz: “fofoca tem prioridade”. Outro reforça: “fofoca derruba e elege políticos”. São frases desconcertantes. Intrigantes. Atestam a força e a importância que a fofoca tem. É mais ou menos como o “jogo do bicho”: a grande maioria das pessoas já fez uma “fezinha”. Mas quem faz o “jogo” nunca ouviu falar. Eu também não! Fofoca é assim igualmente: ninguém sabe a origem.

Entretanto, a novidade em se tratando de fofoca política esta se reciclando continuamente. Antes era só em período eleitoral. Isso já está ultrapassado. Agora a fofoca é continua, principalmente quando o assunto é mascarar incompetência e abusos de poder. Quando é para justificar o injustificável então..., é constrangedor. É o “esquadrão permanente da fofoca” infiltrado em quase toda a máquina pública municipal. Mas seus tentáculos são compridos e alcançam até setores privados. Desconfia-se que tenha um CEO - “chief executive officer” - articulando essa rede. E que os/as administradores/as do tal aplicativo são muito competentes em matéria de fofoca. Por que no resto... Será possível!


Artigo publicado no jornal O Fato em Foco em 16 de agosto de 2013