quarta-feira, 11 de dezembro de 2013


Amigos

Eduardo Mattos Cardoso

Professor Mestre em História - eduardomattoscardoso@gmail.com


Coisa boa é ter amigo. Mas amigo de verdade. Amigo virtual de faz de conta não vale. O mais importante é qualidade. Não quantidade. Com amigo de verdade não tem “frescura”.

Por isso prezo a amizade e os momentos agradáveis que desfruto com meus amigos. E quando esses momentos são regados a um bom vinho então, nem se fala.

As mudanças da vida sempre nos apresentam surpresas. Depois de viver uma década e meia longe da Lagoa Itapeva retornei à querência.

Mas passado esse tempo, as coisas não eram mais como antes. A vida segue, as pessoas mudam ou só envelheceram?

Digo isso porque algumas se tornaram irreconhecíveis, não do ponto de vista físico. Já outras parecem que foram lapidadas, “melhoradas”. São alegres e interessantes encontros e reencontros.

Uma pessoa que chega de “fora” é encarada como forasteiro. Numa cidade pequena como a nossa, o forasteiro vai ser avaliado pelos “estabelecidos”. Isso parece acontecer porque os moradores “tradicionais” têm o sentimento de que a cidade é sua, de seu controle. Assim, um “outsider” (de fora) pode ser visto como um intruso que deve voltar ao seu lugar de origem se não adequar-se às regras locais. Mas poderá ser aceito socialmente se enquadrar-se ao modo de vida predominante.

Esses conceitos foram usados por Norbert Elias e John. L. Scotson em “Os estabelecidos e os outsiders: sociologia das relações de poder a partir de uma comunidade”.

Segundo os autores, a observação e análise social proporcionam compreender os laços de interdependência que unem, separam e classificam segundo a sua importância, os indivíduos e grupos sociais, em relação de poder constante.

Pelo estudo de caso, Elias e Scotson apontam que as categorias, “estabelecidos” e “outsiders”, se definem na relação que as nega e que as constitui como identidades sociais. Os indivíduos que fazem parte dessas comunidades estão ao mesmo tempo unidos, mas também separados por uma relação de interdependência grupal.

Penso nesse assunto desde que voltei à terra natal. E eis aí a diferença. Eu já era daqui. Nasci aqui e me criei até os dezoito. Fiquei quinze anos fora e retornei.

Será que mesmo assim sou um “outsider”?

Ou um novo tipo de forasteiro?

Fico a me perguntar.

Mas tenho certeza que em matéria de amizade não me enquadro no modelo proposto por Elias e Scotson. Sinceridade, autenticidade e simplicidade me deram novos e velhos amigos.

Não importa o tempo.


Artigo publicado no jornal Fato em Foco no dia 7 de dezembro de 2013.