segunda-feira, 27 de maio de 2013

Os donos do poder

Eduardo Mattos Cardoso
Professor Mestre em História
           
O título de hoje faz referência a uma obra essencial para a História, a Sociologia, a política e o Direito, entre outras áreas do conhecimento: Os donos do poder. Formação do patronato político brasileiro, de Raymundo Faoro. O original é de 1958, ano que os intelectuais brasileiros descobriram Max Weber. Mais de meio século se passou, mas o livro de Faoro além de instigante é instrumento importante para entendermos nossa sociedade atual.
Faoro foi na contramão da interpretação marxista da sociedade. Nem tudo se explicaria pela luta de classes. Segundo o autor, um sistema de forças políticas paira acima das classes. E é representado por uma camada de pessoas influentes que muda e se renova, mas não representa a nação, muito menos o povo. A herança portuguesa que viajou até Getúlio Vargas (período estudado por Faoro), e que se estenderia seguramente até hoje mantém o patrimonialismo estatal, os olhos voltados para a especulação, o lucro e a aventura.
Para Faoro, “o poder – a soberania nominalmente popular – tem donos que não emanam da nação, da sociedade, da plebe ignara e pobre. O chefe não é um delegado, mas um gestor de negócios e não mandatário. O Estado, pela cooptação sempre que possível, pela violência se necessário, resiste a todos os assaltos, reduzido, nos seus conflitos, à conquista dos membros graduados de seu estado-maior. E o povo, palavra e não realidade dos contestatários, o que quer ele? Este oscila entre o parasitismo, a mobilização das passeatas sem participação política e a nacionalização do poder […] A lei, retórica e elegante, não o interessa. A eleição, mesmo formalmente livre, lhe reserva a escolha entre opções que ele não formulou”.

A classe social negocia. É questão de economia. O estamento é uma camada social que governa. Para Faoro, “o estamento político é aquele em que os membros têm consciência de pertencer a um mesmo grupo – qualificado para o exercício do poder – e que se caracteriza pelo desejo de prestígio e honra social”. Trazendo essas reflexões para a “cidade que pode mais”, podemos dizer que qualificado não quer dizer o melhor, mas sim qualquer um desde que faça parte do grupo. Pode ser uma marionete. Nesse sentido, a exploração sistemática de cargos – os cargos são para os homens, e não os homens para os cargos – caracteriza a apropriação do que é público, cujo objetivo é a obtenção do máximo proveito possível. Em Três Cachoeiras os “donos do poder” aperfeiçoaram: conciliação e pressão. Mas tudo bem, as cidades têm seus equívocos.