Sobre
“lâmpidas” e doutores
Eduardo
Mattos Cardoso
Professor
Mestre em História
Para fugir da escuridão da idade média os europeus
acenderam as luzes do iluminismo. Embora a energia elétrica ainda não tivesse
sido inventada, a luz de novas ideias começou a clarear o pensamento daquele
momento histórico. O fim do período de trevas estava a caminho. Do atraso
social e suas divisões, da tirania e de outros males humanos que faziam uns
melhores que outros.
Os títulos de nobreza insistem em permanecer até hoje.
Mesmo com um mundo tão iluminado por lâmpadas alguns lugares parecem no escuro.
E essa escuridão tem ofuscado a visão de realidade para alguns. Deve ser a
quantidade de lâmpadas queimadas o motivo de as cidades estarem acometidas de
retrocessos. Mas ai vem o novo, uma luz que vem da “lâmpida” que pode ser
mágica como a magia dos bruxos da época medieval.
O absolutismo nas ditas sociedades modernas ruiu.
Substituto legal veio o “doutorismo”. Corrijam-me prezados leitores: não
conheço nenhum médico doutor em nossa cidade, muito menos dentista; e muito
menos ainda advogado. Claro, na concepção acadêmica do título que é o que vale.
Mais uma mania trescachoeirense: além do diminutivo, botar o “doutor” na frente
de nomes. Quem se autodenomina doutor, além de querer ser o que não é, pode querer
parecer ser. Como gosta muito do título de nobreza concede esse grau a outros
que não se importavam muito com isso, mas começam a gostar. O poder vai mudando
o sangue para azul.
Enganar-se a si não é novidade. Pode ser casos de ego,
superego, id, essas coisas que Freud explica. Mas aos outros? A escolaridade ou
a falta dela não diminui nem aumenta a nobreza de uma pessoa ou conjunto dessas.
A titulação escolar ajuda, mas nada substitui a honestidade, em suas múltiplas
facetas, seja ela material, moral, ética e intelectual. Tampouco o “doutorismo”
isenta alguém de falhas ou lhe dá credenciais para parecer ser.
Os pronomes de tratamento de nossa língua portuguesa existem
para serem usados. Entretanto, o mau uso diário da nossa língua é inquietante.
Parece que vira moda falar errado, é legal e da legitimidade. Pelos erros ou
pelos excessos. Mas muitas vezes, por insistência, vai caindo no ridículo. A
simplicidade não impede a melhoria, o polimento. Por isso que “lâmpida” com
doutor não combina.