segunda-feira, 19 de maio de 2014

Vida de gado

Eduardo Mattos Cardoso

eduardomattoscardoso@gmail.com



Na verdade hoje eu gostaria de falar sobre a páscoa, seu significado, simbologia, etc., fazer uma reflexão sobre o consumo desmedido relacionado a esta data e outras. Sobre como a voracidade do “mercado” vem roendo as tradições como um coelho rói uma cenoura.

Mas não consegui. Estou confuso. Até o coelho da páscoa está sendo usado por aqui. Aliás, quase tudo por aqui é usado para a politicagem. As pessoas me param na rua e desabafam - inclusive os parentes do seu Onzinho que anda viajando. Um desses disparou: “não aguento mais ver a cara desses aproveitadores, conversadores e falsos; aonde a gente vai, lá estão eles/as pesando o ambiente; não faltam a um evento social: é no futebol, na festa comunitária ou qualquer outra coisa que tenha ajuntamento de pessoas; chega ser nojento”.

Acolho o desabafo dessas pessoas. Pode ser o meu também. Tento encontrar alguma explicação. Aparecem muitas. Mas o politicamente correto não me autoriza a dizer aqui. Fico com o elementar: é que “se mancol” ou “se tocol” não são características fortes desses interesseiros. Nem podia ser.

Para essa gente parece que eleição não termina nunca. Estão em constante processo de busca de voto. É que o poder não lhes basta. Ainda resta o personalismo. Tem que sentar no trono para atingir o orgasmo. Mas é um prazer pessoal às avessas, que faz mal à maioria do povo, embora não percebam. Alguns gostam. É sadomasoquismo puro.

Penso nessas coisas porque sou lento. Minha ingenuidade não entende coisas complexas como a demissão de um secretário bom. Ora, se era bom, trabalhador e honesto, por que demitir? Ah! Respondem-me alguns mais ligeiros: “era bom para alguns”.

Enquanto meu cérebro não processa essas coisas eu vou cantando: “O povo foge da ignorância. Apesar de viver tão perto dela. Sonham com melhores tempos idos. Contemplam esta vida numa cela. Êh, oô, vida de gado. Povo marcado. Êh, povo feliz”, música do Zé Ramalho que vai se apresentar em Torres. Até que enfim música de verdade. Ainda bem que algum iluminado da nossa cidade mãe teve a coragem de bancar um artista descente na região.