Revolução e riqueza
Eduardo
Mattos Cardoso
Estou relendo “Meu amigo Che” de
Ricardo Rojo. É uma edição antiga, de 1968 da Civilização Brasileira, editora
de bons livros. É um daqueles livros que de vez em quando pego na estante para
reler sem compromisso. Para refrescar a cabeça. É história pura, mas também
educação, cultura, economia e outras amenidades. Ricardo Rojo, amigo e
confidente de Ernesto Guevara de La Serna, ou simplesmente Che Guevara, conta
com seus olhos como se forjou o revolucionário Che, do descobrimento da América
Latina ao desenvolvimento crítico e teórico sobre a sociedade e suas mazelas.
Figura latino-americana emblemática, principalmente na década de 1960 com o
desenrolar da Revolução Cubana e seus desdobramentos políticos e sociais.
Guevara deixou de lado uma vida
garantida como médico na Argentina para conhecer e lutar pelos povos
latino-americanos. Em suas viagens viu com seus próprios olhos a miséria e a
exploração desses povos pelos países que cruzou e viveu, pois não eram viagens
de uma semana ou um mês. Eram viagens de um ano. Morou em alguns países em
ebulição política e social da América Central na década de 1950. No México
conheceu os “barbudinhos” cubanos, entre eles Fidel e Raul Castro. Prepararam
dali a Revolução. Com o êxito foram para a prática, ou seja, governar o país.
Falo aqui sobre esse livro porque me
faz pensar sobre a sociedade atual, sobre nossa cidade, nossa Três Cachoeiras. Nos
últimos anos o município tem passado por uma verdadeira revolução no campo
econômico. Os investimentos públicos e privados são evidentes. A população vem
crescendo muito. Muita riqueza esta circulando. Como em outras regiões parece
termos em Três Cachoeiras um surto de desenvolvimento econômico. Em
consequência temos um surto migratório dos municípios próximos em direção à
cidade.
Entretanto, tem me chamado a atenção
o descompasso entre o crescimento econômico e o social, educacional e cultural.
A riqueza econômica gerada e vista a olhos nus não esta trazendo riqueza
social, educacional e cultural para a cidade. Observo o contrário. A
ostentação, o consumo enlouquecido e o individualismo reinam. Che dizia para
Rojo: “você precisa ver o grau de alienação a que chegam os ricos”, contando o
caso de uma condessa (ainda existia em Cuba na década de 1960!) que “com 80
anos de idade, resolveu deixar Cuba e, no dia em que soube que suas
propriedades haviam sido confiscadas, caiu doente, vindo mais tarde a morrer
numa clínica nova-iorquina para milionários..., pois não conseguira sobreviver à
perda de uma riqueza...”. Vejo alguns casos, guardadas as devidas proporções, semelhantes
em nossa cidade. Tudo pelo dinheiro, pois o dinheiro manda em tudo e compra
tudo. No caso de um eletroeletrônico tem que comprar porque é lançamento, é
moda, etc., mas nem sabem operar o equipamento, mas não importa, neste caso não
basta ser, tem que apenas ter.