quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Revolução e riqueza


Revolução e riqueza

Eduardo Mattos Cardoso

            Estou relendo “Meu amigo Che” de Ricardo Rojo. É uma edição antiga, de 1968 da Civilização Brasileira, editora de bons livros. É um daqueles livros que de vez em quando pego na estante para reler sem compromisso. Para refrescar a cabeça. É história pura, mas também educação, cultura, economia e outras amenidades. Ricardo Rojo, amigo e confidente de Ernesto Guevara de La Serna, ou simplesmente Che Guevara, conta com seus olhos como se forjou o revolucionário Che, do descobrimento da América Latina ao desenvolvimento crítico e teórico sobre a sociedade e suas mazelas. Figura latino-americana emblemática, principalmente na década de 1960 com o desenrolar da Revolução Cubana e seus desdobramentos políticos e sociais.
            Guevara deixou de lado uma vida garantida como médico na Argentina para conhecer e lutar pelos povos latino-americanos. Em suas viagens viu com seus próprios olhos a miséria e a exploração desses povos pelos países que cruzou e viveu, pois não eram viagens de uma semana ou um mês. Eram viagens de um ano. Morou em alguns países em ebulição política e social da América Central na década de 1950. No México conheceu os “barbudinhos” cubanos, entre eles Fidel e Raul Castro. Prepararam dali a Revolução. Com o êxito foram para a prática, ou seja, governar o país.
            Falo aqui sobre esse livro porque me faz pensar sobre a sociedade atual, sobre nossa cidade, nossa Três Cachoeiras. Nos últimos anos o município tem passado por uma verdadeira revolução no campo econômico. Os investimentos públicos e privados são evidentes. A população vem crescendo muito. Muita riqueza esta circulando. Como em outras regiões parece termos em Três Cachoeiras um surto de desenvolvimento econômico. Em consequência temos um surto migratório dos municípios próximos em direção à cidade.
            Entretanto, tem me chamado a atenção o descompasso entre o crescimento econômico e o social, educacional e cultural. A riqueza econômica gerada e vista a olhos nus não esta trazendo riqueza social, educacional e cultural para a cidade. Observo o contrário. A ostentação, o consumo enlouquecido e o individualismo reinam. Che dizia para Rojo: “você precisa ver o grau de alienação a que chegam os ricos”, contando o caso de uma condessa (ainda existia em Cuba na década de 1960!) que “com 80 anos de idade, resolveu deixar Cuba e, no dia em que soube que suas propriedades haviam sido confiscadas, caiu doente, vindo mais tarde a morrer numa clínica nova-iorquina para milionários..., pois não conseguira sobreviver à perda de uma riqueza...”. Vejo alguns casos, guardadas as devidas proporções, semelhantes em nossa cidade. Tudo pelo dinheiro, pois o dinheiro manda em tudo e compra tudo. No caso de um eletroeletrônico tem que comprar porque é lançamento, é moda, etc., mas nem sabem operar o equipamento, mas não importa, neste caso não basta ser, tem que apenas ter.