quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Um mês depois da eleição


Um mês depois da eleição

Eduardo Mattos Cardoso

            Já faz um mês que ocorreu a eleição municipal em Três Cachoeiras. Onde estará Deus nesse momento? Eu sei: iluminando a cabeça do candidato “eleito” neste pleito agora para compor seu secretariado, assessores, cargos de confiança, cargos em comissão e outros que não sei até hoje para que servem. Deve ser missão quase que impossível acomodar tantas pessoas e interesses. É hora de dividir o botim da guerra.
Rui Barbosa chamava a atenção em seus discursos dizendo que “a República tem vivido de leis pessoais, de reações pessoais, de atos pessoais do Poder Executivo e do Poder Legislativo. [...] E a responsabilidade dessa atitude, o hábito de não prever as eventualidades previsíveis do dia de amanhã, tem sido a desgraça, a ruína e a miséria da situação.” Isso para alertar os brasileiros sobre o significado de República, qual era, o de “res publica”, ou o que era público, a coisa pública. Mas que no Brasil tínhamos uma “res privada”. Não parece ter mudado muito.
 As negociações estão andando. Mas até que ponto o interesse pessoal e privado vai se sobrepor ao interesse comum ou vice e versa? Efetivamente temos bem claro as opções que cada agremiação partidária (ou no caso a coligação!) toma para si e seus pares. Quando um indivíduo se identifica com um partido é porque enxerga neste e na sua orientação aquilo que lhe convém e lhe agrada. Desta forma se submete as diretrizes partidárias ou práticas políticas e institucionais que bem conhece e aceita. Mas que visão de mundo tem e terá nosso governante? A de que o mais importante é a pessoa, portanto, as atitudes particulares, privadas em primeiro lugar em detrimento das causas coletivas e do bem comum?
Alguns estão apreensivos, outros curiosos com os desdobramentos políticos do munícipio. Entre outros desvios que os políticos geralmente cometem está a confusão entre esfera pública e esfera familiar, o que é uma transgressão. Enquanto imaginarmos que o governante é um pai-provedor, e o governante, por sua vez, explorar essa fantasia, continuaremos produzindo atitudes demagógicas e populistas, com seus inevitáveis subprodutos: o clientelismo, o nepotismo (também o cruzado), o protecionismo... É assim que transformamos o que seria uma política pública em política privada.
É claro que são conjecturas, pois são velhas práticas e atitudes conhecidas. E que não venham com dissimulação. É o que se tem visto até o momento. Dissimulação pura e ao que parece bem decorada ou é prática comum? E ainda, que também não venham com a velha prática de botar a culpa no anterior. Não cola mais. Mas as promessas são grandes e difíceis de cumprir, portanto o mais fácil é preparar o terreno desde já plantando noticias sem origem para depois tirar o corpo fora. Uma ou duas: ou temos dissimulados ou futuros maus gestores na administração pública.