Um mês depois da
eleição
Eduardo
Mattos Cardoso
Já faz um mês que ocorreu a eleição
municipal em Três Cachoeiras. Onde estará Deus nesse momento? Eu sei: iluminando
a cabeça do candidato “eleito” neste pleito agora para compor seu secretariado,
assessores, cargos de confiança, cargos em comissão e outros que não sei até
hoje para que servem. Deve ser missão quase que impossível acomodar tantas
pessoas e interesses. É hora de dividir o botim da guerra.
Rui Barbosa chamava a atenção em seus
discursos dizendo que “a República tem vivido de leis pessoais, de
reações pessoais, de atos pessoais do Poder Executivo e do Poder Legislativo.
[...] E a responsabilidade dessa atitude, o hábito de não prever as
eventualidades previsíveis do dia de amanhã, tem sido a desgraça, a ruína e a
miséria da situação.” Isso para alertar os brasileiros sobre o
significado de República, qual era, o de “res publica”, ou o que era público, a
coisa pública. Mas que no Brasil tínhamos uma “res privada”. Não parece ter
mudado muito.
As
negociações estão andando. Mas até que ponto o interesse pessoal e privado vai
se sobrepor ao interesse comum ou vice e versa? Efetivamente temos bem claro as
opções que cada agremiação partidária (ou no caso a coligação!) toma para si e
seus pares. Quando um indivíduo se identifica com um partido é porque enxerga
neste e na sua orientação aquilo que lhe convém e lhe agrada. Desta forma se
submete as diretrizes partidárias ou práticas políticas e institucionais que
bem conhece e aceita. Mas que visão de mundo tem e terá nosso governante? A de
que o mais importante é a pessoa, portanto, as atitudes particulares, privadas
em primeiro lugar em detrimento das causas coletivas e do bem comum?
Alguns estão apreensivos, outros
curiosos com os desdobramentos políticos do munícipio. Entre outros desvios que
os políticos geralmente cometem está a confusão entre esfera pública e esfera
familiar, o que é uma transgressão. Enquanto imaginarmos que o governante é um
pai-provedor, e o governante, por sua vez, explorar essa fantasia,
continuaremos produzindo atitudes demagógicas e populistas, com seus
inevitáveis subprodutos: o clientelismo, o nepotismo (também o cruzado), o
protecionismo... É assim que transformamos o que seria uma política pública em
política privada.
É claro que são conjecturas, pois são
velhas práticas e atitudes conhecidas. E que não venham com dissimulação. É o
que se tem visto até o momento. Dissimulação pura e ao que parece bem decorada
ou é prática comum? E ainda, que também não venham com a velha prática de botar
a culpa no anterior. Não cola mais. Mas as promessas são grandes e difíceis de
cumprir, portanto o mais fácil é preparar o terreno desde já plantando noticias
sem origem para depois tirar o corpo fora. Uma ou duas: ou temos dissimulados
ou futuros maus gestores na administração pública.