sábado, 23 de março de 2013

Doroteia, o banco, a hora-atividade e a luta
SIDEN FRANCESCH DO AMARAL

Num dia desses, no Banrisul, encontro com a professora Dorotéia. Após troca de abraços, iniciamos um descontraído “bate-papo”.
_ Viestes pegar um talão de cheque também, indago?
_ Que talão de cheque? Não tenho mais acesso a ele. E complementa:
_ Nem talão de cheque, nem crédito minuto. Aliás, meu crédito minuto já virou horas, meses, meses de dívida... E continuou:
_ Acho que descobri porque o governo Tarso não paga o Piso.
Surpreso com a possível novidade, pergunto à educadora:
_ Fale mais sobre essa descoberta... A resposta surpreende.
Dorotéia dispara:
_ Pois, se pagar o Piso o Banrisul quebra...
_ Como assim?
_ Quanto você acha que o Banrisul arrecada de juros mensais só dos educadores. E sem risco, pois o desconto é em folha... E complementa:
_ Esse governo fora da lei nós deve, e muito, e, ainda, através de seu banco estatal, nos cobra juros de mercado (astronômicos) quando nos concede empréstimos...
_ Quando a professora mencionou a expressão “nos deve, e muito” lembrei-me também das RPVs, dos Precatórios, além do Piso Nacional, é claro...
Com a intenção de animar a educadora, inventei de afirmar:
_ Mas, esse governo dá reajustes, aumentos...
_ Então, com voz inflamada, Dorotéia deu um discurso que a metade dos presentes ao banco ouviu:
_ Deixa de ser ingênuo! Não existe reajuste ou aumento se o governo não pagar o Piso. Esse discurso de reajuste, de aumento real, é só para enganar os incautos. E arrematou:
_ Governo que não paga o Piso, que não cumpre a Lei, não tem o direito de falar em reajuste. É outro engodo do Executivo estadual.
E a hora-atividade, indaguei?
_ Quanto a isso, já estou cumprindo o que a Lei do Piso me concede. Aliás, temos uma liminar judicial nos garantindo isso. Estou trabalhando em sala de aula 13 períodos. E, novamente, com a voz inflamada, afirmou categoricamente:
_ NINGUÉM PODE SER PUNIDO POR CUMPRIR A LEI!
Após essa frase, em que metade das pessoas que estavam no banco naquele momento se virou em nossa direção, ironicamente, ela arrematou:
_ O GOVERNO NÃO CUMPRE A LEI DO PISO E NÃO ACONTECE NADA...
Com a intenção, novamente, de acalmar a educadora lutadora, mudei de assunto.
De repente, ela me questionou incisivamente:
_ Você vai à Brasília no dia 24 de Abril?
_ Estou vendo espaço na minha agenda, respondi.
Então a professora, com contundência, afirmou:
_ Eu irei. Estarei com todos os lutadores que realmente defendem os trabalhadores. Estarei com aqueles que não captularam, que não ficam de joelhos para os governos e os capitalistas, esperando as migalhas que escorrem de suas mesas opulentas. Estarei com todos que lutam por uma vida digna, dizendo não ao ACE (Acordo Coletivo Especial), exigindo o cumprimento da Lei do Piso Nacional, a anulação da Reforma da Previdência, entre outras reivindicações.

E quase discursando arrematou:

_ Quero estar junto com os companheiros da CUT pode Mais, da CONLUTAS, CPERS/SINDICATO e demais organizações leais aos trabalhadores nesse dia de Luta.
Nesse momento, chegou a vez de Dorotéia ser atendida. Nos despedimos.
Ao sair do Banco, peguei minha agenda e anotei:
Dia 24 de Abril, data de estar em Brasília com todos os lutadores que não se entregam.

SIDEN FRANCESCH DO AMARAL é diretor-geral do 14º Núcleo CPERS/Sindicato (São Leopoldo)