segunda-feira, 14 de outubro de 2013


Paixões negadas

Eduardo Mattos Cardoso

Professor Mestre em História


Por mais que nossos governantes tentem se esquivar, mais cedo ou mais tarde algum debate é travado. É nessas horas, apesar da tentativa de neutralidade, que percebemos quem são e quais são suas ideias. Se é que as têm. Na política local, com o pequeno debate recente, observamos claramente que nosso “gestor mor” é pessoa de duas palavras e desconhece humildade. Conforme a conveniência. Descobrimos também que os legisladores letrados de situação são movidos pela paixão, embora neguem a todo o momento.

Não sou contra a paixão. Muito pelo contrário. Mas na política as pessoas tentam esconder e ficam com medo. Por que negar sua atração pelo poder, pelo mando e desmando? Por que ir contra seus instintos mais primitivos de imposição e radicalismo conservador? Quando os argumentos são fracos e a retórica é ultrapassada afloram os mais profundos sentimentos apaixonados e incoerentes. Coisa da política? Não, coisa da politicagem que tenta negar que o ser humano é um ser político.

Com alguns anos de atraso o discurso da neutralidade também chegou por aqui. Não é uma novidade deste ano na cidade sobre rodas, evidentemente. Na ordem do discurso vale tudo. Antigamente os políticos tinham uma fala mais inflamada e mais direta. Agora parece que é proibido discordar, tudo em nome do politicamente correto e do risco de perder votos.

Não menos interessante nisso tudo é a generalização. Com medo de expor suas verdadeiras ideias, o político rasteiro tenta usar palavras bonitas e dizer que tudo é “farinha do mesmo saco”. Para um fala uma coisa. Para outro diferente. Depende de quem é e do que a pessoa está esperando ouvir. É dura a vida de quem não tem palavra e fica a todo o momento dissimulando. Fazer favor com objetivo eleitoral é fácil. O difícil é ser autônomo e original.

Pena que essas percepções só são possíveis quando os atores saem da “moita”. A maior parte do tempo ficam se escondendo e se travestindo. Mas não aguentam o tempo todo. De vez em quando mostram a cara e o que realmente representam no cenário político local. Interesse coletivo certamente não se defende. Isso os donos do poder demonstram de forma clara, pois continuam adeptos do jeitinho e das artimanhas para alguns que governam. No mais, falar em união não passa de simbolismo e de conversa boa. Conversa de quem não tem coragem de se assumir e muito menos de defender ideias.


Artigo publicado no jornal O Fato em Foco no dia 11 de outubro de 2013.