sábado, 5 de outubro de 2013


Revolução ou insurreição?

Eduardo Mattos Cardoso

Professor Mestre em História


Em tempos de semana farroupilha e vinte de setembro os debates vêm à tona. Porque comemoramos esta data? Porque tantos festejos? O que foi a Guerra dos Farrapos? Porque também se chama Revolução Farroupilha? Fazer revolução significava avançar na História, mesmo para os segmentos dominantes do início do século XIX. Aliás, a revolução implicava o uso da força, legitimando o movimento. Os exemplos das elites dominantes da América do Norte, França e Inglaterra estimulavam processos revolucionários com objetivos de destruir o arcaico, o antigo, o ultrapassado.

Todavia, os farroupilhas não questionaram a escravidão em seu sistema produtivo. Nem ao menos tiveram condições de ensaiar planos de liberdade e crescimento econômico. Identificaram-se mais com o conflito centro versus periferia. Por isso, é incorreto chamar o movimento de revolução. Foi uma guerra civil entre segmentos sociais dominantes. Além disso, a escravidão era a “doença” que o paciente não aceitava ter. Preferia dirigir suas críticas à falta de protecionismo alfandegário. Esquecia-se ou não queria entender que a estrutura produtiva da charqueada rio-grandense retraía a capacidade de competir com os similares platinos. Este sim era o principal problema da pecuária rio-grandense, que só teve espaço no mercado enquanto os concorrentes platinos estavam envolvidos em guerras contra o domínio espanhol ou na disputa pelo controle do Estado Nacional. Foi sintomático: de 1831 em diante, os platinos entraram em período de relativa paz, voltaram a criar gado e produzir charque sem os inconvenientes das guerras. Com isso, o charque rio-grandense entrou em colapso. Em 1835 eclodia o movimento farroupilha.

Por dez anos, a guerra civil prejudicou o setor pecuarista. As perdas foram muito maiores do que os lucros políticos e econômicos do movimento. A paz honrosa de Poncho Verde, em 1845, acomodou as crescentes dificuldades dos farrapos, pois não interessava ao governo monárquico reprimir uma elite econômica. Aos oficiais do Exército farroupilha foram oferecidas possibilidades de se incorporarem aos quadros do Exército nacional. Líderes presos foram libertados e a anistia foi geral e imediata.

Parece que até hoje as motivações daquele movimento não foram superadas. Por um lado, o Rio Grande do Sul continua em situação de mando político dependente, com uma economia pouco beneficiada no cenário capitalista que se reproduz no Brasil. Por outro, o Rio Grande do Sul não consegue compreender que suas dificuldades resultam da forma como tem sido realizada sua inserção como sócio menor no sistema capitalista brasileiro. Quando virá a revolução?

Artigo publicado no jornal O Fato em Foco no dia 20 de setembro de 2013.