sexta-feira, 21 de agosto de 2015

        Indiferença

Eduardo Mattos Cardoso                  eduardomattoscardoso@gmail.com

            Tem horas que é preciso ouvir mais e falar menos. Em outras é preciso conter a vontade de escrever e ler mais. Tantos assuntos para escrever. Afinal, o momento pelo qual nossa cidade, estado e país passa precisa ser acompanhado com muito cuidado. Muitas coisas importantes estão acontecendo, mas parece que muitas pessoas não estão nem aí.
            Em Educação e Compromisso, Moacir Gadotti lembra uma passagem de Antonio Gramsci, em La Cità Futura de 11-2-1917, muito atual:
“Odeio os indiferentes. Como Friederich Hebbel, acredito que ‘viver significa tomar partido’. Não podem existir os apenas homens, estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes.
            A indiferença é peso morto da história. É a bala de chumbo para o inovador e a matéria inerte em que se afogam frequentemente os entusiasmos mais esplendorosos, o fosso que circunda a velha cidade e a defende melhor do que as mais sólidas muralhas, melhor do que o peito dos seus guerreiros, porque engole nos seus sorvedouros de lama os assaltantes, os dizima e desencoraja e, ás vezes, os leva a desistir da gesta heroica (...).
            Odeio os indiferentes também, porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes. Peço contas a todos eles pela maneira como cumpriram a tarefa que a vida lhe impôs e impõe quotidianamente, do que fizeram e sobretudo do que não fizeram. E sinto que posso ser inexorável, que não devo desperdiçar a minha compaixão, que não posso repartir com eles as minhas lágrimas. Sou militante, estou vivo, sinto nas consciências viris dos que estão comigo pulsar a atividade da cidade futura, que estamos a construir (...).
            Vivo, sou militante. Por isso odeio quem não toma partido, odeio os indiferentes”.

            Enrustidos, “duas caras”! Saiam de cima do muro! Seria isso que Gramsci queria dizer?