Indiferença
Eduardo
Mattos Cardoso eduardomattoscardoso@gmail.com
Tem horas que é preciso ouvir mais e
falar menos. Em outras é preciso conter a vontade de escrever e ler mais. Tantos
assuntos para escrever. Afinal, o momento pelo qual nossa cidade, estado e país
passa precisa ser acompanhado com muito cuidado. Muitas coisas importantes
estão acontecendo, mas parece que muitas pessoas não estão nem aí.
Em Educação e Compromisso, Moacir Gadotti lembra uma passagem de
Antonio Gramsci, em La Cità Futura de
11-2-1917, muito atual:
“Odeio os indiferentes. Como Friederich
Hebbel, acredito que ‘viver significa tomar partido’. Não podem existir os
apenas homens, estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de
ser cidadão e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é
vida. Por isso odeio os indiferentes.
A indiferença é peso morto da
história. É a bala de chumbo para o inovador e a matéria inerte em que se
afogam frequentemente os entusiasmos mais esplendorosos, o fosso que circunda a
velha cidade e a defende melhor do que as mais sólidas muralhas, melhor do que
o peito dos seus guerreiros, porque engole nos seus sorvedouros de lama os
assaltantes, os dizima e desencoraja e, ás vezes, os leva a desistir da gesta
heroica (...).
Odeio os indiferentes também, porque
me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes. Peço contas a todos
eles pela maneira como cumpriram a tarefa que a vida lhe impôs e impõe
quotidianamente, do que fizeram e sobretudo do que não fizeram. E sinto que
posso ser inexorável, que não devo desperdiçar a minha compaixão, que não posso
repartir com eles as minhas lágrimas. Sou militante, estou vivo, sinto nas
consciências viris dos que estão comigo pulsar a atividade da cidade futura,
que estamos a construir (...).
Vivo, sou militante. Por isso odeio
quem não toma partido, odeio os indiferentes”.
Enrustidos, “duas caras”! Saiam de
cima do muro! Seria isso que Gramsci queria dizer?